sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Da TV no morro ao Pokemon Go



A porta do ônibus se abriu com aquele chiado característico, e meu pai desceu acompanhado do cobrador, que abriu o compartimento de bagagens e de lá tirou uma caixa bem grande de papelão. Num dos lados da embalagem, pude ler a palavra "Philips" e logo abaixo desta, "TV", ambas escritas em letras azuis. Aquele primeiro aparelho de televisão, ainda em preto e branco, significava que nossa família agora contava com o que havia de mais avançado em termos de tecnologia. Abracei meu pai e dei pulos de alegria. Estávamos em 1983.
Mal sabia eu, porém, que havia uma grande distância entre ter uma TV e poder assistí-la. Para ser mais preciso, cerca de 800 metros: esta foi a extensão da rede de fios que foi preciso construir, instalando uma antena do tipo "espinha de peixe" no alto do morro que ficava nas terras do vizinho. Nos primeiros meses foi uma beleza, depois disso era o caos, bastava alguma chuvarada ou vendaval para que ficássemos sem TV por vários dias, até que a rede pudesse ser consertada. Fora a TV, eu podia contar na época com o bom e velho futebol no campinho de grama rala, poucos jogos de tabuleiro e algumas revistinhas da Disney. Assim era o lazer de então, inocente e despretensioso.
Hoje, passados mais de 30 anos, a febre do momento atende pelo nome de Pokemon Go, um jogo nada inocente que se utiliza da chamada realidade aumentada para colocar monstrinhos virtuais misturados ao ambiente real que nos cerca, fazendo com que os jogadores precisem se deslocar pelo terreno para assim poderem capturar as criaturinhas. Até aí nada de muito espantoso, o que impressiona mesmo é o apelo de massa do produto, que já conta com milhões de jogadores pelo mundo, revelando o alto poder viciante da marca Pokemon e seus monstrinhos esquisitões.
A procura pelo jogo é tão grande que engloba todas as faixas etárias, literalmente dos 8 aos 80 anos, fazendo dele num fenômeno nunca visto até hoje. Teve gente que faltou ao trabalho (e perdeu o emprego) para caçar Pokemons. Pessoas tiveram seus celulares roubados na calada da noite, sofreram acidentes graves como atropelamentos e até mesmo morreram tentando pegar aquele bichinho virtual raro, para fazer inveja nos amigos. Apesar de todas essas ocorrências, a febre continua em alta. O que praticamente ninguém ainda se deu conta é que o game Pokemon Go é apenas o comecinho do que está por vir, num futuro muito próximo.
O real e principal objetivo do jogo é puramente comercial. Ao colocar um Pokemon raro em determinada loja, por exemplo, será possível atrair multidões de jogadores para aquele local, fazendo com que sejam eles mesmos "caçados" e intimados a consumirem este ou aquele produto que esteja em oferta. Futuramente, ao invés de caçar Pokemons, as pessoas irão usar seus celulares para caçar descontos em grandes supermercados e shoppings, caçar prêmios e promoções no Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados, etc. As possibilidades de aplicação da realidade aumentada são praticamente infinitas. A imaginação é o limite.
Logo à frente o cinema e os filmes serão coisa de museu. O público poderá participar do enredo junto com seus personagens favoritos, interagindo com eles. Será possível cantar junto com seu artista preferido e jogar futebol lado a lado com Neymar ou Cristiano Ronaldo, tudo graças à realidade aumentada. Não será mais possível separar o mundo real do virtual, uma coisa fará parte da outra, serão interdependentes. Se tantas e tão drásticas mudanças são positivas ou negativas, ainda não sabemos, o que sabemos é que esse é um caminho sem volta, a humanidade está redefinindo o mundo em que vive, bem como a si mesma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Q merda hein!
L.Saldanha