O futuro anunciado e profetizado por
Arthur Clarke em seu livro 2001: uma odisseia no espaço não veio, ou se veio,
veio pela metade. A tecnologia está aí e evolui em velocidade exponencial, nos
presenteando a cada dia com máquinas cada vez mais admiráveis, frutos da
engenhosidade humana. Paradoxalmente, quanto mais nos tornamos uma civilização
tecnológica, mais nos desumanizamos e nos brutalizamos. À medida que passam as
décadas, fica muito claro que uma coisa é a ciência se modernizar e se
aprimorar, outra muito diferente é conseguirmos nos libertar de nossos
instintos de predadores, de certas crenças ancestrais sem fundamento e de nossa
tendência ao comodismo e à simplificação.
Dado o nosso atual estágio evolutivo e
considerando a quantidade de conhecimento acumulado de que hoje dispomos, seria
de se esperar que não mais precisássemos matar outros seres vivos para obter
nosso alimento, por exemplo. Em vez disso continuamos a levar dezenas de espécies
à extinção diariamente, esgotamos os recursos naturais de nosso planeta-mãe,
poluímos cada vez mais a atmosfera, matamos uns aos outros e fazemos de conta
que está tudo bem. Pensamos exclusivamente em nós, no hoje e no agora. É sabido
que nenhum milagre manterá a raça humana a salvo além de mais uns meros 80 ou
100 anos no máximo.
Grande parte desse comportamento
irresponsável se deve ao fato de acreditarmos que independentemente de como
agimos, há um ser superior em algum lugar que cuida de nós, nos manterá a salvo
de nossas travessuras, perdoará todos os nossos erros e ainda nos presenteará
com o paraíso eterno. É muito cômodo pensarmos assim! Ledo engano. Estamos sós
e precisaremos aprender a cuidar de nós e da Terra ou será o nosso fim. Com
tudo o que hoje sabemos, como pode alguém rezar e esperar que a salvação caia
do céu? Como pode alguém acreditar em feitiços, mandingas, bruxarias e afins?
Como pode a superstição prevalecer sobre a razão, sobre a ciência e sobre o
conhecimento? É triste e decepcionante ver pessoas que deveriam semear o saber
e a luz se deixando levar por crenças obscuras, medievais e grotescas.
Ao que tudo indica, a parte criativa de
nosso cérebro continua evoluindo, porém lá no fundo, entranhado em algum
recanto esquecido, ainda reside muito de nossa personalidade ancestral e
animalesca, que insiste em encontrar explicações fáceis toda vez que nos
deparamos com algo misterioso, da mesma forma que os homens das cavernas atribuíam
aos seus deuses a queda de um raio ou o fogo que ardia nas vastas florestas
primitivas. Como seres pensantes e que refletem sobre a vida e seus enigmas, a
maioria de nós ainda está engatinhando, muito longe de ver a verdade. Sabemos a
forma correta de agir, mas na prática fazemos o contrário; advogamos contra os
bens materiais, mas é a eles que realmente nos apegamos. Os objetos ganharam o
status de ídolos e as pessoas deixaram de serem pessoas, se coisificaram e se
despersonalizaram.
A despeito do ano que vemos lá, estampado
no calendário, a maioria de nós ainda vive na Idade Média, assombrados por todo
tipo de superstições e crenças que hoje já não fazem nenhum sentido, se é que
algum dia fizeram. Ainda temos tanto a aprender, a descobrir e a racionalizar!
Pena que talvez não disponhamos do tempo necessário.
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