quarta-feira, 17 de abril de 2013

Isto aqui deveria ser o século 21, porém...



O futuro anunciado e profetizado por Arthur Clarke em seu livro 2001: uma odisseia no espaço não veio, ou se veio, veio pela metade. A tecnologia está aí e evolui em velocidade exponencial, nos presenteando a cada dia com máquinas cada vez mais admiráveis, frutos da engenhosidade humana. Paradoxalmente, quanto mais nos tornamos uma civilização tecnológica, mais nos desumanizamos e nos brutalizamos. À medida que passam as décadas, fica muito claro que uma coisa é a ciência se modernizar e se aprimorar, outra muito diferente é conseguirmos nos libertar de nossos instintos de predadores, de certas crenças ancestrais sem fundamento e de nossa tendência ao comodismo e à simplificação.
Dado o nosso atual estágio evolutivo e considerando a quantidade de conhecimento acumulado de que hoje dispomos, seria de se esperar que não mais precisássemos matar outros seres vivos para obter nosso alimento, por exemplo. Em vez disso continuamos a levar dezenas de espécies à extinção diariamente, esgotamos os recursos naturais de nosso planeta-mãe, poluímos cada vez mais a atmosfera, matamos uns aos outros e fazemos de conta que está tudo bem. Pensamos exclusivamente em nós, no hoje e no agora. É sabido que nenhum milagre manterá a raça humana a salvo além de mais uns meros 80 ou 100 anos no máximo.
Grande parte desse comportamento irresponsável se deve ao fato de acreditarmos que independentemente de como agimos, há um ser superior em algum lugar que cuida de nós, nos manterá a salvo de nossas travessuras, perdoará todos os nossos erros e ainda nos presenteará com o paraíso eterno. É muito cômodo pensarmos assim! Ledo engano. Estamos sós e precisaremos aprender a cuidar de nós e da Terra ou será o nosso fim. Com tudo o que hoje sabemos, como pode alguém rezar e esperar que a salvação caia do céu? Como pode alguém acreditar em feitiços, mandingas, bruxarias e afins? Como pode a superstição prevalecer sobre a razão, sobre a ciência e sobre o conhecimento? É triste e decepcionante ver pessoas que deveriam semear o saber e a luz se deixando levar por crenças obscuras, medievais e grotescas.
Ao que tudo indica, a parte criativa de nosso cérebro continua evoluindo, porém lá no fundo, entranhado em algum recanto esquecido, ainda reside muito de nossa personalidade ancestral e animalesca, que insiste em encontrar explicações fáceis toda vez que nos deparamos com algo misterioso, da mesma forma que os homens das cavernas atribuíam aos seus deuses a queda de um raio ou o fogo que ardia nas vastas florestas primitivas. Como seres pensantes e que refletem sobre a vida e seus enigmas, a maioria de nós ainda está engatinhando, muito longe de ver a verdade. Sabemos a forma correta de agir, mas na prática fazemos o contrário; advogamos contra os bens materiais, mas é a eles que realmente nos apegamos. Os objetos ganharam o status de ídolos e as pessoas deixaram de serem pessoas, se coisificaram e se despersonalizaram.
A despeito do ano que vemos lá, estampado no calendário, a maioria de nós ainda vive na Idade Média, assombrados por todo tipo de superstições e crenças que hoje já não fazem nenhum sentido, se é que algum dia fizeram. Ainda temos tanto a aprender, a descobrir e a racionalizar! Pena que talvez não disponhamos do tempo necessário.

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