Nesta época do ano, o que mais se
vê são lojas e supermercados abarrotados de chocolates alusivos à Páscoa.
Tradicionalmente, os formatos que mais aparecem são os de coelhos e ovos. Mas
afinal de contas, o que essa criaturinha branca, peluda e fofinha tem a ver com
a ideia da ressurreição de Jesus? Na Bíblia não existe a menor referência ao Coelhinho
da Páscoa, e além de tudo, como sabemos, coelhos não põem ovos... Que confusão!
Desde muito
pequenos aprendemos a associar essa figura humanizada do coelho com sua cesta
de ovos, com a ressurreição de Cristo. Na verdade, trata-se de um mecanismo que
funciona como lavagem cerebral: de tanto nos dizerem algo, toma-se como
verdade. Preferimos aceitar aquilo que nos disseram desde sempre, em vez de
investigar e tentar descobrir se estão nos tapeando. É mais fácil. É bem aquela
coisa do “me engana que eu gosto!”. Bem, não importa o que o padre lhe diga
sobre o coelhinho na missa do domingo, o fato é que em se tratando da Páscoa, a
verdade pode ser meio chocante.
Toda a
mitologia e alegorias que envolvem esta data foram “importadas” da Europa
medieval, onde se cultuava muitos deuses. “Easter”, que significa Páscoa, em
inglês, tem esse nome em homenagem à deusa Oestre ou Eastre, que representava a
renovação, a fertilidade. O símbolo dessa deusa era um coelho ou lebre, devido
à enorme capacidade de reprodução desses animais. No hemisfério norte, a Páscoa
coincide com a chegada da primavera. Ao final de um longo inverno, Eastre
trazia a renovação. Sua presença podia ser sentida no desabrochar das flores e
na chegada de novos bebês, tanto humanos quanto animais. A vegetação toda
brotando, se renovando, representa muito bem a ideia de triunfo da morte e
escuridão (inverno), sobre a vida e a luz (primavera).
Nesse sentido,
ficamos totalmente na contramão, pois a Páscoa chega sempre na entrada do
inverno, e seu significado então precisou ser adaptado, passando a se
relacionar com a ressurreição de Cristo... Mas voltando à mitologia medieval
pagã, a utilização de ovos como símbolo de renovação da vida não causa nenhuma
surpresa. Em algumas crenças religiosas, o próprio planeta Terra, a mãe Terra,
teria nascido do chocar de um gigantesco ovo cósmico. O ovo, símbolo da deusa
Eastre, é por si só enormemente simbólico: a casca representa o universo, que a
tudo envolve e protege, a clara representa a própria deusa Eastre e a gema
alaranjada representa o sol e sua capacidade de trazer a vida ao nosso planeta.
Assim, o hábito de procurar ovos de pássaros na antiguidade, para depois
decorá-los com pinturas diversas, deu origem ao nosso costume de ter que
procurar o ninho de Páscoa. O coelho sempre o coloca em algum lugar escondido e
temos que procurar, tal como faziam os antigos ao catar ovos pela floresta!
Mas como o
coelho adquiriu a capacidade de pôr ovos?! Bom, uma conhecida lenda pagã nos
conta que um belo dia a deusa Eastre estava andando pela floresta quando
encontrou um pássaro muito ferido. Compadecida, a deusa o curou mas percebeu
que ele jamais poderia voar novamente. Então, para que ele pudesse manter sua
mobilidade e ter uma vida feliz, ela o transformou num coelho. No processo de
transformação, o animal manteve sua capacidade de pôr ovos! Agradecido, o
bichinho deu de presente para a deusa, um ovo todo decorado, que passou a
simbolizá-la dali em
diante. Maravilhada, a deusa desejou que toda a humanidade
pudesse também ser homenageada da mesma forma. Desde então o coelho corre o
mundo distribuindo ovos coloridos e cestas de doces.
Em se tratando
da nossa tradição religiosa, a Igreja Católica chegou atrasada para a festa.
Pelo menos alguns séculos atrasada. Foi só lá por volta de 1500 ou ainda depois
disso, que o coelho e os ovos passaram a simbolizar a ressurreição de Cristo.
Na Alemanha dessa época, tem-se notícia dos primeiros doces em formato de
coelho e ovos, que logo se espalharam pelo restante da Europa e aos poucos,
pelo resto do mundo.
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