Tal
como vem ocorrendo ultimamente nas redes sociais e imprensa em geral, causou
grande celeuma a atitude do candidato que colocou uma receita de miojo em meio
ao texto de sua redação no ENEM. É interessante notarmos que praticamente todas
as análises e comentários se ativeram ao ocorrido em si, sem se dedicar a
apontar possíveis soluções para que atos desta natureza não venham a se
repetir.
Não é
de hoje que o ENEM, como prova que sirva de avaliação para egressos do Ensino Médio
em nível nacional, vem apresentando muitas falhas e problemas de toda ordem.
Nosso país, até pela enormidade do seu território, apresenta muitos desafios de
logística para que tudo ocorra conforme o esperado e até aí entendemos, o que
não pode é um sistema de avaliação com critérios talvez pouco claros para os
participantes e com pessoas mal preparadas a trabalhar na sua execução. Errou o
candidato ao cometer tamanha bobagem, seja de propósito ou não, errou a equipe
responsável pelo treinamento dos avaliadores e finalmente errou a professora
que "teve a coragem de revelar os bastidores da prova", como afirmou
o jornal Zero Hora.
Talvez
até por ingenuidade, preferiu a avaliadora divulgar informações
"bombásticas" à imprensa, ao invés de agir de forma mais
profissional, avaliando a dita redação de modo a conceder-lhe a nota merecida,
ou seja, um zero ou no mínimo algo muito próximo disso. Em última análise, que
optasse então por não participar da avaliação das redações, caso não
concordasse com suas condições. Ao revelar bastidores da correção e assim
garantir seus trinta segundos de fama, a professora contribuiu enormemente para
o processo de desvalorização e descrédito que o magistério vem sofrendo desde
há muito tempo. Sim, porque a abordagem dada às ditas revelações induzem o
leitor e a sociedade em geral a questionarem e duvidarem da competência dos
profissionais da educação muito mais do que dos organizadores do referido
exame.
Não é
por acaso que a receita escolhida tenha sido a do miojo: ela reflete o
imediatismo dos tempos atuais. Tudo é feito rápido e para ser consumido rápido.
O macarrão é preparado em três minutos, textos em geral são escritos sem
reflexão, sem análise e sem critérios, as relações pessoais vêm e vão num
piscar de olhos, o assunto discutido à exaustão hoje já estará esquecido amanhã,
bem como a tal professora. O único objetivo parece ser a espetacularização, a
exposição exagerada, o canibalismo pseudointelectual. O problema é que atitudes
impensadas como a desta senhora deixam consequências duradouras e nefastas.
Para a imprensa brasileira, há muito interessada em achincalhar o professor, o
episódio todo rendeu um prato cheio em que o ingrediente principal infelizmente
não é o miojo, mas as críticas veladas, as generalizações, os comentários
maldosos e as charges sarcásticas que a médio e longo prazo sempre causam
muito, muito estrago.
Um comentário:
Perfeita avaliação, Evandro. Também fiquei surpresa com a falta de ética dessas (ditas) professoras.
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