Desde muito pequenos ainda, quando ouvimos falar pelas
primeiras vezes no amor, a representação mais presente, aquela que é sempre
associada a esse sentimento é a figura de um coração. Ele está nos cartões do
Dia dos Namorados, nos bilhetes e cartinhas dos apaixonados, nas camisetas, nas
capas de livros e cadernos ou na internet. A relação é tão forte e enraizada
que acreditamos que nosso coração é o responsável por desencadear esse
sentimento, que ele é que toma as rédeas da situação e nos “obriga” a gostar
desta ou daquela pessoa. Nada poderia ser mais inverídico. Apesar dessa visão
romantizada do amor, que envolveria uma enorme quantidade de variáveis, talvez
a coisa toda seja muito mais simples do que se imagina. O amor, de acordo com
recentes descobertas científicas, surge e é “disparado” pelo nosso cérebro na
forma de um hormônio bem conhecido: a ocitocina.
A ocitocina já é conhecida da ciência há um bom tempo.
É o hormônio responsável por desencadear e auxiliar no trabalho de parto, tendo
papel importante também na amamentação e na menstruação. Acreditava-se que a
substância só fosse produzida pelo cérebro feminino. Aí é que surgiu a grande
surpresa: a ocitocina é também produzida pelo cérebro do homem, onde atua de
forma muito diferente da mulher. Ao contrário do que se pensava inicialmente, o
hormônio não se limita a provocar ou regular funções biológicas, está ligado
também ao estabelecimento de vínculos afetivos os mais diversos. Seria uma
espécie de “cola” emocional que nos prende fortemente aos nossos pais, irmãos,
amigos mais próximos, cônjuges e até mesmo aos nossos animais de estimação,
contribuindo para a formação do sentimento de falta, de necessidade do outro,
de saudade.
De acordo com estudos realizados com voluntários, a
produção de ocitocina no nosso organismo é intensificada nos momentos em que
ocorra algum contato físico. Nesse aspecto, a maior produção registrada desse
hormônio acontece quando fazemos sexo, proporcionando uma sensação enorme de
bem estar e de tranquilidade, que implica na diminuição dos níveis de estresse,
aumento das defesas do organismo contra doenças e contribui para um aumento
significativo da qualidade de vida. Não é a toa que se costuma dizer que para
quem está apaixonado tudo é lindo, tudo é felicidade. Ao que tudo indica, essas
sensações são produzidas pela química que acontece dentro do nosso cérebro,
responsáveis pelas sensações prazerosas, da mesma forma que fazem as drogas,
por exemplo. Antes de ser uma manifestação do nosso coração, o amor é química,
literalmente.
É por isso que no início dos relacionamentos tudo é maravilhoso.
A descarga de ocitocina que acontece na presença do parceiro é tão grande que
não nos deixa ver nem seus defeitos e manias que só serão percebidos muito mais
tarde. Sim, porque com o tempo, dependendo da dinâmica de cada casal, a
produção de ocitocina tende a diminuir, muitas vezes nos fazendo “cair na
real”, como se costuma dizer por aí. Quando isso acontece, caso já não tenham
se formado vínculos fortes o bastante, qualquer discussão ou briga mais
acalorada se encarregará de mandar cada um para o seu lado. No momento oportuno
então, um novo companheiro surgirá, novamente dando início àquela fase de
deslumbramento e de conhecimento mútuo.
É claro que a convivência entre um homem e uma mulher
não fica restrita somente às reações químicas, mas é certo que desempenham um
papel bem importante, principalmente no início da relação, quando os vínculos
afetivos estão em
formação. Durante esse período, a química pode até mesmo
determinar se o casal viverá junto por décadas à frente, anos, meses, semanas
ou apenas uns poucos dias. Embora exista a influência de inúmeros aspectos
introduzidos pela cultura humana, da forma como evoluiu ao longo dos milhares
de anos, a convivência duradoura entre pessoas que se amam depende em grande
parte de que role uma química.
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