quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Será que rola uma química?



Desde muito pequenos ainda, quando ouvimos falar pelas primeiras vezes no amor, a representação mais presente, aquela que é sempre associada a esse sentimento é a figura de um coração. Ele está nos cartões do Dia dos Namorados, nos bilhetes e cartinhas dos apaixonados, nas camisetas, nas capas de livros e cadernos ou na internet. A relação é tão forte e enraizada que acreditamos que nosso coração é o responsável por desencadear esse sentimento, que ele é que toma as rédeas da situação e nos “obriga” a gostar desta ou daquela pessoa. Nada poderia ser mais inverídico. Apesar dessa visão romantizada do amor, que envolveria uma enorme quantidade de variáveis, talvez a coisa toda seja muito mais simples do que se imagina. O amor, de acordo com recentes descobertas científicas, surge e é “disparado” pelo nosso cérebro na forma de um hormônio bem conhecido: a ocitocina.
A ocitocina já é conhecida da ciência há um bom tempo. É o hormônio responsável por desencadear e auxiliar no trabalho de parto, tendo papel importante também na amamentação e na menstruação. Acreditava-se que a substância só fosse produzida pelo cérebro feminino. Aí é que surgiu a grande surpresa: a ocitocina é também produzida pelo cérebro do homem, onde atua de forma muito diferente da mulher. Ao contrário do que se pensava inicialmente, o hormônio não se limita a provocar ou regular funções biológicas, está ligado também ao estabelecimento de vínculos afetivos os mais diversos. Seria uma espécie de “cola” emocional que nos prende fortemente aos nossos pais, irmãos, amigos mais próximos, cônjuges e até mesmo aos nossos animais de estimação, contribuindo para a formação do sentimento de falta, de necessidade do outro, de saudade.
De acordo com estudos realizados com voluntários, a produção de ocitocina no nosso organismo é intensificada nos momentos em que ocorra algum contato físico. Nesse aspecto, a maior produção registrada desse hormônio acontece quando fazemos sexo, proporcionando uma sensação enorme de bem estar e de tranquilidade, que implica na diminuição dos níveis de estresse, aumento das defesas do organismo contra doenças e contribui para um aumento significativo da qualidade de vida. Não é a toa que se costuma dizer que para quem está apaixonado tudo é lindo, tudo é felicidade. Ao que tudo indica, essas sensações são produzidas pela química que acontece dentro do nosso cérebro, responsáveis pelas sensações prazerosas, da mesma forma que fazem as drogas, por exemplo. Antes de ser uma manifestação do nosso coração, o amor é química, literalmente.
É por isso que no início dos relacionamentos tudo é maravilhoso. A descarga de ocitocina que acontece na presença do parceiro é tão grande que não nos deixa ver nem seus defeitos e manias que só serão percebidos muito mais tarde. Sim, porque com o tempo, dependendo da dinâmica de cada casal, a produção de ocitocina tende a diminuir, muitas vezes nos fazendo “cair na real”, como se costuma dizer por aí. Quando isso acontece, caso já não tenham se formado vínculos fortes o bastante, qualquer discussão ou briga mais acalorada se encarregará de mandar cada um para o seu lado. No momento oportuno então, um novo companheiro surgirá, novamente dando início àquela fase de deslumbramento e de conhecimento mútuo.
É claro que a convivência entre um homem e uma mulher não fica restrita somente às reações químicas, mas é certo que desempenham um papel bem importante, principalmente no início da relação, quando os vínculos afetivos estão em formação. Durante esse período, a química pode até mesmo determinar se o casal viverá junto por décadas à frente, anos, meses, semanas ou apenas uns poucos dias. Embora exista a influência de inúmeros aspectos introduzidos pela cultura humana, da forma como evoluiu ao longo dos milhares de anos, a convivência duradoura entre pessoas que se amam depende em grande parte de que role uma química.

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