Durante os anos em que eu cursava o ensino médio ou
ainda antes disso, a maioria de meus professores dizia que eu escrevia bem, que
tinha facilidade para escrever. No inicio não levei tais afirmações muito a
sério. Considerava-as muito mais como palavras de incentivo do que elogios
sinceros. Aos poucos porém, comecei a dar-me conta de que durante as aulas de
redação, como eram chamadas na época, geralmente terminava meu texto antes dos
colegas e sempre conseguia boas notas. Poxa, então devia ser verdade mesmo.
Quem sabe eu tinha jeito pra coisa. Hoje, vários anos, muito estudo, leituras e
alguma prática depois, posso afirmar com certeza duas coisas: escrever é uma
arte e envolve alguns segredos.
Justamente por ser uma arte como a culinária, a
música, o cinema ou a fotografia, jamais se pode afirmar que domina por
completo a escrita, que se conhece todos os seus segredos. Tal como nas outras
formas de arte, há sempre algo novo a aprender, a ser descoberto. Quem sabe uma
nova técnica para se aplicar, uma combinação nova de palavras que darão tempero
novo e um sabor ainda não conhecido ao que foi escrito. Por isso gosto tanto de
escrever. Escrever é sobretudo um exercício de paciência. A mesma paciência que
tem o minerador ao manejar habilmente sua bateia. Não é todo dia que será ele
recompensado com pepitas de ouro, mas às vezes elas estão lá!
Há uma semana, movido por um misto de expectativa e
curiosidade, comprei um livro de contos de autor estreante neste estilo. Contos
é o que mais tenho lido ultimamente, já que pretendo me aventurar como autor
assim que tiver coragem para tal empreitada. Não que eu não tenha ideias para
contos. Tenho centenas de ideias, mas ainda não descobri o segredo. Escrever
boa literatura ficcional, conseguir criar boas ou ótimas histórias e fazer com
que o leitor “entre” na imaginação do autor por alguns momentos que seja, é o
sonho dourado de todo escritor iniciante, uma espécie de nirvana dos vivos. Mal
cheguei em casa, fui logo conferir o que o livro me reservava, que histórias sairiam
de suas páginas.
Tão logo dei início à sua leitura, os episódios
engraçados, pitorescos, detalhes e nuanças de um tempo que já se foi, ganharam
vida de novo bem ali, diante de mim. O estilo econômico mesclado a um bom
trabalho de descrição me mostrou que para aquele autor, alguns segredos já
foram revelados. Senti-me encorajado a abrir o baú de minhas histórias,
deixá-las sair e também ganharem o mundo. Vai ver, quem sabe também consigo,
afinal faz um tempo já que estas histórias estão me assombrando, pedindo para
sair. Talvez seja mesmo hora de dar uma chance a elas de se mostrarem.
Conheço gente que antes de tentar escrever qualquer
conto ou romance, mergulha na leitura de toneladas de livros teóricos sobre o
assunto, na esperança de encontrar por lá alguma fórmula quase milagrosa para o
sucesso. De minha parte, considero que tais leituras podem contribuir com
algumas dicas úteis, porém escrever envolve também ter atitude, arriscar-se.
Arriscar-se inclusive a produzir algo ruim, ou muito ruim. Mais lama e seixos
que pepitas, por certo. Contudo, desistir jamais. Ocasionalmente troco ideias
com um autor americano através do twitter. Um dia desses perguntei-lhe o que
era preciso para contar boas histórias, como dominar essa arte milenar, a arte
de contar histórias. De forma muita sucinta, veio o conselho que li e memorizei
de pronto: “Leia muito, escreva muito, nunca se acomode. Afora isso, quem pode
saber? É um segredo, afinal de contas”.
Ele tem razão. Existe um segredo. Um segredo que só é
revelado àqueles que leem muito e praticam muito a escrita. Para se tornar um
escritor é preciso antes ler muito do que outros já produziram. Não há como
deixar de trilhar esse caminho. Depois vem a prática, que fará com que as boas
ideias não sejam arruinadas por falta de domínio da técnica. Só assim é que os
personagens imaginados um dia ganharão vida e encantarão os leitores, tal como
o cineasta que dá vida a um filme ou ao habilidoso cozinheiro, capaz de
transformar ingredientes diversos num único e delicioso prato.
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