quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um segredo muito bem guardado



Durante os anos em que eu cursava o ensino médio ou ainda antes disso, a maioria de meus professores dizia que eu escrevia bem, que tinha facilidade para escrever. No inicio não levei tais afirmações muito a sério. Considerava-as muito mais como palavras de incentivo do que elogios sinceros. Aos poucos porém, comecei a dar-me conta de que durante as aulas de redação, como eram chamadas na época, geralmente terminava meu texto antes dos colegas e sempre conseguia boas notas. Poxa, então devia ser verdade mesmo. Quem sabe eu tinha jeito pra coisa. Hoje, vários anos, muito estudo, leituras e alguma prática depois, posso afirmar com certeza duas coisas: escrever é uma arte e envolve alguns segredos.
Justamente por ser uma arte como a culinária, a música, o cinema ou a fotografia, jamais se pode afirmar que domina por completo a escrita, que se conhece todos os seus segredos. Tal como nas outras formas de arte, há sempre algo novo a aprender, a ser descoberto. Quem sabe uma nova técnica para se aplicar, uma combinação nova de palavras que darão tempero novo e um sabor ainda não conhecido ao que foi escrito. Por isso gosto tanto de escrever. Escrever é sobretudo um exercício de paciência. A mesma paciência que tem o minerador ao manejar habilmente sua bateia. Não é todo dia que será ele recompensado com pepitas de ouro, mas às vezes elas estão lá!
Há uma semana, movido por um misto de expectativa e curiosidade, comprei um livro de contos de autor estreante neste estilo. Contos é o que mais tenho lido ultimamente, já que pretendo me aventurar como autor assim que tiver coragem para tal empreitada. Não que eu não tenha ideias para contos. Tenho centenas de ideias, mas ainda não descobri o segredo. Escrever boa literatura ficcional, conseguir criar boas ou ótimas histórias e fazer com que o leitor “entre” na imaginação do autor por alguns momentos que seja, é o sonho dourado de todo escritor iniciante, uma espécie de nirvana dos vivos. Mal cheguei em casa, fui logo conferir o que o livro me reservava, que histórias sairiam de suas páginas.
Tão logo dei início à sua leitura, os episódios engraçados, pitorescos, detalhes e nuanças de um tempo que já se foi, ganharam vida de novo bem ali, diante de mim. O estilo econômico mesclado a um bom trabalho de descrição me mostrou que para aquele autor, alguns segredos já foram revelados. Senti-me encorajado a abrir o baú de minhas histórias, deixá-las sair e também ganharem o mundo. Vai ver, quem sabe também consigo, afinal faz um tempo já que estas histórias estão me assombrando, pedindo para sair. Talvez seja mesmo hora de dar uma chance a elas de se mostrarem.
Conheço gente que antes de tentar escrever qualquer conto ou romance, mergulha na leitura de toneladas de livros teóricos sobre o assunto, na esperança de encontrar por lá alguma fórmula quase milagrosa para o sucesso. De minha parte, considero que tais leituras podem contribuir com algumas dicas úteis, porém escrever envolve também ter atitude, arriscar-se. Arriscar-se inclusive a produzir algo ruim, ou muito ruim. Mais lama e seixos que pepitas, por certo. Contudo, desistir jamais. Ocasionalmente troco ideias com um autor americano através do twitter. Um dia desses perguntei-lhe o que era preciso para contar boas histórias, como dominar essa arte milenar, a arte de contar histórias. De forma muita sucinta, veio o conselho que li e memorizei de pronto: “Leia muito, escreva muito, nunca se acomode. Afora isso, quem pode saber? É um segredo, afinal de contas”.
Ele tem razão. Existe um segredo. Um segredo que só é revelado àqueles que leem muito e praticam muito a escrita. Para se tornar um escritor é preciso antes ler muito do que outros já produziram. Não há como deixar de trilhar esse caminho. Depois vem a prática, que fará com que as boas ideias não sejam arruinadas por falta de domínio da técnica. Só assim é que os personagens imaginados um dia ganharão vida e encantarão os leitores, tal como o cineasta que dá vida a um filme ou ao habilidoso cozinheiro, capaz de transformar ingredientes diversos num único e delicioso prato.

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