Ao que me parece, estas são as primeiras eleições que
acontecem num momento em que a internet se massificou e passou a fazer parte da
vida de todos. Por mais humilde que seja a residência, lá está um computador ou
aparelho celular conectado, interagindo com seus vizinhos e conhecidos, com o
mundo. Com a popularização em especial das redes sociais, um novo e vasto
território surge para os candidatos e todos obviamente querem tirar proveito
dele para suas campanhas, pois combina facilidade e abrangência com custo zero.
Tal como a maioria dos tipos de conteúdo que circulam
de tempos em tempos pela rede, a propaganda política vem suscitando polêmica,
pois enquanto uns defendem e “curtem”, outros reclamam, xingam e até mandam
recados nada amigáveis aos candidatos. Todos os dias quando abrimos o facebook,
lá estão postagens e mais postagens estampando santinhos, nomes, números,
siglas e slogans os mais diversos. Na batalha pelo voto, muitos são os
“personagens” e tipos compostos pelos candidatos, bem como seus lemas e
slogans, alguns bastante engraçados ou absurdos. Temos os bem intencionados, os
que posam de coitadinhos, os revoltados, os idealistas, os salvadores da
pátria. Tem opção de voto para todos os gostos, dependendo da formação do
eleitor, de suas intenções e de seu estado de espírito no dia da eleição, se
ele for do tipo que deixa para decidir na última hora.
Os que defendem a propaganda na rede obviamente estão
defendendo seus ideais, seus interesses pessoais e sua crença na democracia e
na liberdade de expressão. O grande problema é que vivemos uma democracia
mascarada, e isso a começar pelo próprio ato de votar, defendido aos berros
como sendo um direito, mas na verdade um dever, uma obrigação. A internet e as
redes sociais são vistas pelos seus usuários primordialmente como um espaço
onde predomina o lazer, e toda vez que aparece na tela um santinho,
imediatamente lembramo-nos da penosa obrigação do voto, com a eleição ocorrendo
sempre aos domingos.
Além disso, escândalos políticos povoam os noticiários
da mídia durante o ano inteiro. Pessoas em quem depositamos nossa confiança na
defesa dos interesses públicos, com frequência nos decepcionam. A política no
âmbito administrativo, bem como aqueles que nela desempenham seu trabalho, estão
muito desacreditados no Brasil. Raramente se vê alguém considerando seu voto em
termos de uma opção consciente e que priorize os interesses coletivos. O que se
vê são pessoas que torcem para este ou aquele candidato como quem torce para um
time de futebol. É como se fosse um jogo, uma disputa simplesmente.
Quem comemora nunca celebra sua vitória, mas a derrota
do opositor. A maior prova disso é que na eleição seguinte a maioria esmagadora
nem sequer lembra em quem votou. Não há nenhum interesse em fiscalizar, em
verificar o trabalho que está sendo realizado pelos vencedores. O único
interesse é na competição, em ver quem ganha. Depois, qualquer que seja o
trabalho realizado, está bom. Somos um país de gente inconformada, porém
indolente, pachorrenta e acomodada. Por isso é que reclamamos, esbravejamos,
mas acabamos sempre nos conformando. Muito se comenta que político só lembra o
eleitor de quatro em quatro anos, mas e o eleitor, será que pensa em política
entre uma eleição e outra? Quem se lembra de já ter ido a uma sessão da câmara
acompanhar e opinar sobre os projetos e debates que lá estão em andamento?
A grande discussão do momento em nosso estado é a
urgência na melhoria da qualidade da educação oferecida às nossas crianças e
jovens. Todos concordam que é necessária uma formação sólida para se ter
melhores condições de vida numa sociedade competitiva. Se é assim, por que
então não cobramos dos candidatos um mínimo de formação escolar como requisito
básico para concorrer a um cargo público? Como é possível um auxiliar de
serviços gerais necessitar de ensino fundamental completo para assumir sua
função, e aqueles cujo trabalho será elaborar as leis não tenham que provar
nenhuma formação específica?
Por mais que
nos esforcemos, fica difícil entender que vivemos numa sociedade que quer ser
ética e justa, mas que acomoda tantas discrepâncias. Tenho certeza de que
ninguém reclamaria da propaganda eleitoral na internet se o voto fosse
facultativo, se o país tivesse um histórico glorioso da atuação de seus
políticos, se não houvesse obras superfaturadas, se política fosse, em qualquer
tempo e lugar, sinônimo de ética e trabalho incansável em prol da coletividade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário