quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Nada pode ser pior



A inveja é, muito provavelmente, o mais pernicioso dos sentimentos humanos. Ela está presente em todas as esferas da vida em sociedade e é quase certo que cada um de nós invejará alguém em algum momento da vida, ou será invejado. A inveja se manifesta de muitas formas diferentes, dependendo da sua intensidade e da situação envolvida. Embora vista sempre de forma condenável, existe a inveja produtiva, aquela que nos impulsiona em direção à conquista de algum bem material ou imaterial. Para entendermos como esse sentimento corrói e prejudica a vida de quem o cultiva, é preciso inicialmente analisarmos como ele acontece.
Imagine que seu vizinho, colega de trabalho ou conhecido apareça com um carro zero quilômetro. Logo de cara você ardentemente deseja ter igual ou melhor e fica até feliz com a conquista do outro. Esse desejo de possuir um bem ou de alcançar o status social de alguém é muitas vezes confundido com inveja. Isso se chama ambição e faz com que nos esforcemos para também conseguir o que o outro conseguiu. Inveja é quando você vê o outro comprar aquele carrão e deseja com todas as suas forças que ele sofra um acidente terrível em que o carro seja destruído completamente e ainda cause a sua morte.
O sentimento de inveja floresce em abundância em todos os lugares, porém não existe terreno mais fértil que o ambiente de trabalho. Numa empresa onde trabalham 30 ou 50 pessoas, todos os dias existe alguém invejando e sendo invejado. Basta que o colega apareça com uma roupa nova, faça uma viagem de férias, conquiste um novo amor ou simplesmente se destaque de alguma forma e pronto. Logo será alvo dos invejosos. A inveja é uma doença. Quem a sente fica cego e não consegue perceber que o maior prejudicado é ele mesmo. Modernamente, algumas pesquisas sugerem que a inveja, quando alimentada durante muito tempo, pode se manifestar na forma de alguma doença física. Inveja dá câncer.
O pior é que o invejoso não consegue identificar que o problema não é com o outro, mas com ele próprio. Pessoas inseguras e que possuem baixa autoestima estão mais propensos a sentir inveja. A inveja é uma confissão de inferioridade. Inveja e falsidade andam sempre de mãos dadas por aí. Desconfie seriamente daquela pessoa que está toda hora elogiando, bajulando ou se mostrando toda solícita. Esse é um sério candidato a querer te apunhalar pelas costas, quando surgir a oportunidade apropriada. Para a psicologia, a inveja é um dos mais antigos sentimentos humanos e existe desde que somos bebês. De acordo com Freud, a criança sente inveja do seio da mãe, que a alimenta e fornece aconchego.
Dentro do nosso cérebro, nas regiões onde são processadas as emoções, o local que mostra maior atividade cerebral quando sentimos inveja é o mesmo que se manifesta quando sentimos alguma dor, como uma pancada ou um corte, por exemplo. A inveja é um tipo de dor, de agonia, de sofrimento. A pessoa acometida por esse mal precisa estudar sua própria personalidade, seu comportamento, e assim encontrar formas de superar a inveja, renovando sua autoestima e sua autoconfiança e passando a ter mais disposição e alegria de viver. Talvez a principal forma de se curar da inveja seja a constatação do mal causado por ela, não para o invejado, mas para o próprio invejoso. Costuma-se dizer que se inveja desse cadeia, pouca gente ficaria de fora dos presídios. Numa sociedade capitalista e consumista onde o ter significa prestígio e status, a inveja já virou epidemia. Muitas pessoas se esquecem de pagar contas, se esquecem dos afazeres necessários até para sua sobrevivência, porque estão muito ocupados em “secar” o outro e desejar que se dê muito mal, pois só na infelicidade alheia é que sentirão eles mesmos um pouquinho de felicidade. Uma felicidade doentia e passageira, logo substituída pela velha e renovada inveja.

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