quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O triunfo da curiosidade humana


Em outubro do ano 1492, Cristóvão Colombo concluiu com sucesso uma das mais audaciosas empreitadas da espécie humana, ao chegar à América depois de uma viagem de mais de 6000 quilômetros, que durou cinco semanas para ser concluída, período em que o intrépido navegador teve que enfrentar escassez de comida a bordo, tempestades e certamente o maior dos desafios, o medo diante do desconhecido, do inesperado. A viagem de Colombo foi fundamental para a civilização ocidental, pois expandiu o espaço geográfico conhecido e permitiu ao homem o acesso a novas rotas de navegação. Foi um feito histórico notável, levando-se em conta a tecnologia disponível na época.
Na última segunda-feira, depois de uma viagem de oito meses e meio, o jipe Curiosity finalmente pousou em Marte, cobrindo uma distância de 570 milhões de quilômetros. Não poderia ter nome mais apropriado: Curiosidade. De todos os sentimentos humanos, foi sempre ela que nos impulsionou em direção às mais importantes descobertas da nossa história. Esse desejo por vezes incontrolável de querer saber mais, de querer descobrir segredos, de buscar resposta para todo tipo de pergunta possível, foi o que nos trouxe até o estágio em que estamos hoje, e com certeza será fundamental para nosso futuro como espécie, quando nossa atual moradia, a Terra, já não tiver mais condições de nos dar abrigo, de nos servir de mãe.
Quando esse dia chegar, teremos forçosamente que buscar uma nova casa, outro mundo que possamos quem sabe chamar de lar, um planeta que abrigará os nossos descendentes daqui a alguns milhares ou milhões de anos. Hoje pode nem parecer, mas a chegada triunfante do Curiosity a Marte representa um passo grandioso e definitivo em direção a essa busca por um novo lar para a humanidade. Muito mais que um veículo perambulando pela superfície poeirenta do planeta vermelho, o Curiosity é um completo laboratório de pesquisas com capacidade para analisar a composição das rochas e outros minerais, tirar fotos e filmar em altíssima definição e até mesmo determinar se um dia existiu alguma forma de vida por lá. Ao pesquisar sobre o passado distante de Marte, a sonda irá investigar os requisitos e preparativos necessários para uma missão tripulada, já prevista para acontecer nos últimos anos da década de 2030.
Com alguma dose de sorte, em nosso tempo de vida aqui na Terra ainda veremos seres humanos deixando pegadas em Marte. Aos poucos deixaremos nosso planeta mãe e nos espalharemos por outros recantos do Universo. Assim como o filho um dia deixa a casa paterna, também nós teremos que nos desapegar dessa ligação quase umbilical com a Terra e colonizar outros mundos. Tenho certeza que logo depois que tivermos chegado a Marte, seres humanos começarão a nascer por lá. Será um novo capítulo para a raça humana, um acontecimento só comparável talvez à invenção da escrita.
Mas até lá ainda teremos muito que aprender. Enquanto um grupo de visionários e notáveis se empenha em desbravar o desconhecido e abrir caminhos para o futuro, milhares de pessoas consideram tais empreendimentos um desperdício financeiro. Argumentam por exemplo que seria muito mais proveitoso empregar os quase três bilhões de dólares do projeto em comida para as populações pobres, construção de hospitais, escolas e etc. Ainda bem que o futuro da espécie humana não depende de gente que pensa dessa forma, senão estaríamos condenados!
Assim que a Terra tivesse seus recursos naturais esgotados ou que a poluição não mais desse condições de abrigar a vida, seríamos irremediavelmente extintos. Inútil é empregar bilhões de dólares para tentar solucionar problemas que sempre existirão, visto que a dinâmica da vida assim o determina. Todos os dias nascem milhares de pessoas, produzem-se milhões de toneladas de lixo, pessoas crescem em condições muito aquém do desejável ou sofrem acidentes e morrem, e isso continuará acontecendo, independente de quais atitudes venhamos a tomar. Se quisermos garantir nossa sobrevivência como espécie, não podemos pensar só em colher frutos, é preciso pensar em plantar novas sementes.
Daqui a muitos milhares de anos, não tenho dúvidas, nossos descendentes, agora já vivendo em Marte, continuarão a buscar novos mundos, cada vez mais distantes. A curiosidade humana, assim como o Universo, parece não ter fim, e que ótimo que assim seja. Tomara que sejamos sempre guiados pelos curiosos, pelos corajosos, pelos desbravadores. Com certeza, se a humanidade tivesse algum dia seguido as opiniões dos pessimistas, dos derrotistas ou dos fracassados, nem a roda teria sido inventada.

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