Em outubro do ano 1492, Cristóvão Colombo concluiu com
sucesso uma das mais audaciosas empreitadas da espécie humana, ao chegar à
América depois de uma viagem de mais de 6000 quilômetros,
que durou cinco semanas para ser concluída, período em que o intrépido navegador
teve que enfrentar escassez de comida a bordo, tempestades e certamente o maior
dos desafios, o medo diante do desconhecido, do inesperado. A viagem de Colombo
foi fundamental para a civilização ocidental, pois expandiu o espaço geográfico
conhecido e permitiu ao homem o acesso a novas rotas de navegação. Foi um feito
histórico notável, levando-se em conta a tecnologia disponível na época.
Na última segunda-feira, depois de uma viagem de oito
meses e meio, o jipe Curiosity finalmente pousou em Marte, cobrindo uma
distância de 570 milhões de quilômetros. Não poderia ter nome mais apropriado:
Curiosidade. De todos os sentimentos humanos, foi sempre ela que nos
impulsionou em direção às mais importantes descobertas da nossa história. Esse
desejo por vezes incontrolável de querer saber mais, de querer descobrir
segredos, de buscar resposta para todo tipo de pergunta possível, foi o que nos
trouxe até o estágio em que estamos hoje, e com certeza será fundamental para nosso
futuro como espécie, quando nossa atual moradia, a Terra, já não tiver mais
condições de nos dar abrigo, de nos servir de mãe.
Quando esse dia chegar, teremos forçosamente que
buscar uma nova casa, outro mundo que possamos quem sabe chamar de lar, um planeta
que abrigará os nossos descendentes daqui a alguns milhares ou milhões de anos.
Hoje pode nem parecer, mas a chegada triunfante do Curiosity a Marte representa
um passo grandioso e definitivo em direção a essa busca por um novo lar para a
humanidade. Muito mais que um veículo perambulando pela superfície poeirenta do
planeta vermelho, o Curiosity é um completo laboratório de pesquisas com
capacidade para analisar a composição das rochas e outros minerais, tirar fotos
e filmar em altíssima definição e até mesmo determinar se um dia existiu alguma
forma de vida por lá. Ao pesquisar sobre o passado distante de Marte, a sonda
irá investigar os requisitos e preparativos necessários para uma missão
tripulada, já prevista para acontecer nos últimos anos da década de 2030.
Com alguma dose de sorte, em nosso tempo de vida aqui
na Terra ainda veremos seres humanos deixando pegadas em Marte. Aos poucos
deixaremos nosso planeta mãe e nos espalharemos por outros recantos do
Universo. Assim como o filho um dia deixa a casa paterna, também nós teremos
que nos desapegar dessa ligação quase umbilical com a Terra e colonizar outros
mundos. Tenho certeza que logo depois que tivermos chegado a Marte, seres
humanos começarão a nascer por lá. Será um novo capítulo para a raça humana, um
acontecimento só comparável talvez à invenção da escrita.
Mas até lá ainda teremos muito que aprender. Enquanto
um grupo de visionários e notáveis se empenha em desbravar o desconhecido e
abrir caminhos para o futuro, milhares de pessoas consideram tais
empreendimentos um desperdício financeiro. Argumentam por exemplo que seria
muito mais proveitoso empregar os quase três bilhões de dólares do projeto em
comida para as populações pobres, construção de hospitais, escolas e etc. Ainda
bem que o futuro da espécie humana não depende de gente que pensa dessa forma,
senão estaríamos condenados!
Assim que a Terra tivesse seus recursos naturais
esgotados ou que a poluição não mais desse condições de abrigar a vida,
seríamos irremediavelmente extintos. Inútil é empregar bilhões de dólares para
tentar solucionar problemas que sempre existirão, visto que a dinâmica da vida
assim o determina. Todos os dias nascem milhares de pessoas, produzem-se
milhões de toneladas de lixo, pessoas crescem em condições muito aquém do
desejável ou sofrem acidentes e morrem, e isso continuará acontecendo,
independente de quais atitudes venhamos a tomar. Se quisermos garantir nossa
sobrevivência como espécie, não podemos pensar só em colher frutos, é preciso
pensar em plantar novas sementes.
Daqui a muitos milhares de anos, não tenho dúvidas,
nossos descendentes, agora já vivendo em Marte, continuarão a buscar novos
mundos, cada vez mais distantes. A curiosidade humana, assim como o Universo,
parece não ter fim, e que ótimo que assim seja. Tomara que sejamos sempre
guiados pelos curiosos, pelos corajosos, pelos desbravadores. Com certeza, se a
humanidade tivesse algum dia seguido as opiniões dos pessimistas, dos
derrotistas ou dos fracassados, nem a roda teria sido inventada.
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