quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Olimpíadas no terceiro mundo


As Olimpíadas de Londres deixarão saudades. Foram mais de duas semanas de celebração ao esporte e ao espírito de harmonia e de irmandade entre os povos das mais diferentes culturas. Mesmo aqueles que não têm grande intimidade com o esporte, em algum momento certamente largaram seus afazeres para conferir esta ou aquela competição que estava sendo transmitida ao vivo pela televisão.
Dados os escassos investimentos nesta área em nosso país, não é de causar admiração o fraco desempenho do Brasil, que finalizou a competição com minguadas dezessete medalhas, sendo a maioria de bronze. Os americanos confirmaram sua superioridade, ainda que venham enfrentando duríssima crise econômica. Em termos de organização deste que é um dos maiores eventos esportivos do mundo, ao lado da Copa, foram os ingleses os maestros do show. Não se viu nenhuma falha, tudo funcionou à perfeição, com as competições ocorrendo bem ao estilo da pontualidade britânica, sem nenhum atraso. Talvez a única e necessária ressalva a ser feita seja certa paranóia com relação à segurança, tendo sido reportados alguns exageros por parte da polícia inglesa.
As cerimônias de abertura e de encerramento ficarão guardadas por um bom tempo em nossa memória. Quem imaginaria um enorme estádio transformado em área rural, com direito a campos, árvores e animais? Ou chaminés se erguendo do chão para retratar o início da era industrial inglesa? Um espetáculo notável que dificilmente será superado num futuro próximo. Coisa de cinema, idealizada por um diretor de cinema. Não poderia mesmo ter sido diferente. Espetáculo grandioso e longo, com mais de três horas de duração. Uma prova da engenhosidade e criatividade humanas, que parecem se superar a cada edição.
Para a festa de encerramento, uma das grandes expectativas era o show que funcionaria como um trailer do que serão os jogos de 2016, no Rio de Janeiro. Antes disso, porém, seríamos brindados por uma verdadeira constelação de artistas ingleses. E não foram poucos a se apresentar. De George Michael a Brian May, guitarrista da banda Queen, quase ninguém ficou de fora. Dos novos, o Muse cumpriu muito bem o papel de representar as novas gerações da música britânica. E então chega o momento tão esperado: a entrada do Brasil para o show que mostraria uma prévia da próxima Olimpíada. Expectativa, muita expectativa em frente à TV. E então, logo em seguida, decepção.
Costuma-se dizer que os europeus só ouvem falar do Brasil como uma terra exótica, quase incivilizada, onde ainda existem tribos indígenas, mulheres bonitas, futebol e samba. E é exatamente isso que adentra o estádio. Tudo bem, você pode até não conhecer os artistas ingleses que se apresentaram, mas eles são reconhecidos internacionalmente, venderam milhões de discos e influenciaram sabe-se lá quantos outros artistas pelo mundo afora. Que fique bem claro: não estou aqui desmerecendo a cultura indígena, os garis, o samba ou o futebol brasileiro, apenas acredito que para a referida ocasião, as coreografias e seus representantes estavam deslocados, pareciam não pertencer àquele universo.
Recentemente um famoso rapper americano, ao embarcar para uma turnê em nossa terrinha, foi flagrado tuitando freneticamente em seu tablet, pouco antes do embarque. Quando avisado de que deveria se apressar ou correria o risco de perder o voo, se justificou afirmando que queria aproveitar mais um pouquinho, já que no Brasil “não tem internet”. Ao vir pra cá, estrangeiros frequentemente incluem na bagagem coisas como papel higiênico, sabão em pó ou creme dental, acreditando que tais produtos não existem nas prateleiras de nossos supermercados. Na verdade, nem sequer existem supermercados!
Se costumeiramente já se pensa isso do Brasil, o que não se pensará depois do show apresentado?! Talvez os turistas ingleses acreditem que cidades como o Rio de Janeiro ainda abrigam tribos de nativos ferozes, que caçam com arco e flecha, moram em choupanas cobertas de capim e comem carne crua. Definitivamente, os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2016 precisam se esforçar em passar uma imagem mais contemporânea e moderna do nosso povo, senão, tenho até medo do que poderá ser um espetáculo de abertura de três horas de duração, inteirinho por nossa conta.

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