As Olimpíadas de Londres deixarão saudades. Foram mais
de duas semanas de celebração ao esporte e ao espírito de harmonia e de
irmandade entre os povos das mais diferentes culturas. Mesmo aqueles que não
têm grande intimidade com o esporte, em algum momento certamente largaram seus
afazeres para conferir esta ou aquela competição que estava sendo transmitida
ao vivo pela televisão.
Dados os escassos investimentos nesta área em nosso
país, não é de causar admiração o fraco desempenho do Brasil, que finalizou a
competição com minguadas dezessete medalhas, sendo a maioria de bronze. Os
americanos confirmaram sua superioridade, ainda que venham enfrentando
duríssima crise econômica. Em termos de organização deste que é um dos maiores
eventos esportivos do mundo, ao lado da Copa, foram os ingleses os maestros do
show. Não se viu nenhuma falha, tudo funcionou à perfeição, com as competições
ocorrendo bem ao estilo da pontualidade britânica, sem nenhum atraso. Talvez a
única e necessária ressalva a ser feita seja certa paranóia com relação à
segurança, tendo sido reportados alguns exageros por parte da polícia inglesa.
As cerimônias de abertura e de encerramento ficarão
guardadas por um bom tempo em nossa memória. Quem imaginaria um enorme estádio
transformado em área rural, com direito a campos, árvores e animais? Ou
chaminés se erguendo do chão para retratar o início da era industrial inglesa?
Um espetáculo notável que dificilmente será superado num futuro próximo. Coisa
de cinema, idealizada por um diretor de cinema. Não poderia mesmo ter sido
diferente. Espetáculo grandioso e longo, com mais de três horas de duração. Uma
prova da engenhosidade e criatividade humanas, que parecem se superar a cada
edição.
Para a festa de encerramento, uma das grandes
expectativas era o show que funcionaria como um trailer do que serão os jogos
de 2016, no Rio de Janeiro. Antes disso, porém, seríamos brindados por uma
verdadeira constelação de artistas ingleses. E não foram poucos a se
apresentar. De George Michael a Brian May, guitarrista da banda Queen, quase
ninguém ficou de fora. Dos novos, o Muse cumpriu muito bem o papel de
representar as novas gerações da música britânica. E então chega o momento tão
esperado: a entrada do Brasil para o show que mostraria uma prévia da próxima
Olimpíada. Expectativa, muita expectativa em frente à TV. E então, logo em
seguida, decepção.
Costuma-se dizer que os europeus só ouvem falar do
Brasil como uma terra exótica, quase incivilizada, onde ainda existem tribos
indígenas, mulheres bonitas, futebol e samba. E é exatamente isso que adentra o
estádio. Tudo bem, você pode até não conhecer os artistas ingleses que se
apresentaram, mas eles são reconhecidos internacionalmente, venderam milhões de
discos e influenciaram sabe-se lá quantos outros artistas pelo mundo afora. Que
fique bem claro: não estou aqui desmerecendo a cultura indígena, os garis, o
samba ou o futebol brasileiro, apenas acredito que para a referida ocasião, as
coreografias e seus representantes estavam deslocados, pareciam não pertencer
àquele universo.
Recentemente um famoso rapper americano, ao embarcar
para uma turnê em nossa terrinha, foi flagrado tuitando freneticamente em seu
tablet, pouco antes do embarque. Quando avisado de que deveria se apressar ou correria
o risco de perder o voo, se justificou afirmando que queria aproveitar mais um
pouquinho, já que no Brasil “não tem internet”. Ao vir pra cá, estrangeiros
frequentemente incluem na bagagem coisas como papel higiênico, sabão em pó ou
creme dental, acreditando que tais produtos não existem nas prateleiras de
nossos supermercados. Na verdade, nem sequer existem supermercados!
Se costumeiramente já se pensa isso do Brasil, o que
não se pensará depois do show apresentado?! Talvez os turistas ingleses acreditem
que cidades como o Rio de Janeiro ainda abrigam tribos de nativos ferozes, que
caçam com arco e flecha, moram em choupanas cobertas de capim e comem carne
crua. Definitivamente, os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2016 precisam se
esforçar em passar uma imagem mais contemporânea e moderna do nosso povo,
senão, tenho até medo do que poderá ser um espetáculo de abertura de três horas
de duração, inteirinho por nossa conta.
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