As redes sociais viraram a febre compulsiva do
momento, em especial o Facebook. Embora se autoproclame um veículo midiático
para fazer amigos e encontrar pessoas, na verdade não passa de uma vitrine
multicolorida e tresloucada de promoção e divulgação do eu, uma forma exagerada
de expressão da individualidade e egocentrismo levados ao extremo, como reflexo
da era capitalista e individualista em que se vive.
Em alguns países, já existem até clínicas
especializadas na recuperação de viciados digitais, tal é o grau de dependência
apresentado por algumas pessoas. Num ambiente virtual tão diverso e vasto,
todos querem, precisam estar permanentemente conectados e sempre postando algo,
para que não saiam de evidência. O desejo de estar sempre online não é
necessariamente para ver o que os outros usuários estão postando, mas para ler
que comentários fizeram sobre mim, sobre minhas fotos e posts. Nessa ânsia
louca por ser popular e ter quem sabe milhares e milhares de amigos, muitos se
esquecem até mesmo de se alimentar, tomar banho ou manter a casa em ordem. Abandona-se
por completo o mundo real para se dedicar ao mundo virtual. Renega-se a própria
identidade, aquela que construímos ao longo da vida, que nossos pais,
professores e pessoas próximas moldaram aos poucos, em troca de uma identidade
fabricada, irreal e fantasiosa.
Dentro desse mundo maravilhoso do Facebook, todos querem
aparecer o mais possível, pois segundo a lógica ali existente, só assim poderei
de fato ser alguém, ainda que passe ao outro uma falsa impressão sobre meu eu
real. Em meio a esse mundo virtual criam-se relações superficiais e
descartáveis, nunca relacionamentos que possam implicar algum tipo de
comprometimento. Os “amigos” ali presentes, pelo menos a imensa maioria, não
passa de mera conveniência, um número que serve para medir o quanto se é popular.
É uma relação parasitária que nada tem de inocente. Todos fazem parte, em maior
ou menor grau, de uma gigantesca vitrine onde tentam continuamente vender a si
mesmos.
Para que se alcance popularidade e se tenha sucesso, é
preciso saber usar as tantas ferramentas digitais à disposição para tornar o
perfil pessoal atrativo. Tal como fazem certas especies de pássaros na época do
acasalamento, quanto mais diferente, inusitado ou embelezado for o ninho, tanto
maior o número de possíveis admiradores. A foto muda constantemente, dependendo
do estado de espírito da pessoa, estado civil ou época do ano. Ao contrário do
mundo real, onde o tempo solidifica e fortalece a personalidade frente ao nosso
círculo de amizades, ali ocorre o derretimento, a liquefação da imagem pessoal,
frequentemente alterada, substituída por outra que reflita o momento. Talvez
por isso mesmo os relacionamentos duradouros estejam cada vez mais escassos.
Quanto a internet começou a se popularizar, o mundo virtual imitava o real,
hoje ocorre o contrário. Tudo é passageiro, fugaz e momentâneo.
Ao acordar pela manhã e se olhar no espelho, a imagem
refletida lá parece vazia e feia, ao contrário daquelas fotos do perfil ou dos
álbuns virtuais. Muitos acabam entrando em depressão, descontentes com sua
própria identidade pessoal. Para que haja satisfação pessoal e felicidade, o
usuário precisa sentir-se admirado, elogiado e desejado como produto de consumo
pelo outro. Fotos tiradas geralmente em frente ao espelho procuram
supervalorizar os seios, as nádegas, o rosto ou o peitoral. Muitos comentários
evidenciam esse desejo de ser admirado e consumido. “Uauuuuu!”, “Perfeita!”,
“Delííícia!”, “Muito lindooooo!”
Ações rotineiras do cotidiano e antes particulares e
privadas, agora se tornam públicas e passíveis de serem comentadas, “curtidas”
e consumidas pela coletividade. Fazer um bolo, jantar com amigos ou mesmo
aquela espinha que apareceu na bochecha viram alvo de fotos que são rapidamente
publicadas e compartilhadas, num exercício infinito de antropofagia virtual
nessa busca incessante por admiração e prestígio. Ao fim e ao cabo, o Facebook
poderia ser até uma ferramenta muito útil para o estreitamento das relações
pessoais, não tivesse sido eclipsado pelo egoísmo e narcisismo tão
característicos da espécie humana. O que começou como uma inocente brincadeira
para os momentos de ócio virou um lucrativo negócio onde se vende de tudo,
principalmente pessoas.
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