quinta-feira, 12 de julho de 2012

Todos querem apareSer no Facebook


As redes sociais viraram a febre compulsiva do momento, em especial o Facebook. Embora se autoproclame um veículo midiático para fazer amigos e encontrar pessoas, na verdade não passa de uma vitrine multicolorida e tresloucada de promoção e divulgação do eu, uma forma exagerada de expressão da individualidade e egocentrismo levados ao extremo, como reflexo da era capitalista e individualista em que se vive.
Em alguns países, já existem até clínicas especializadas na recuperação de viciados digitais, tal é o grau de dependência apresentado por algumas pessoas. Num ambiente virtual tão diverso e vasto, todos querem, precisam estar permanentemente conectados e sempre postando algo, para que não saiam de evidência. O desejo de estar sempre online não é necessariamente para ver o que os outros usuários estão postando, mas para ler que comentários fizeram sobre mim, sobre minhas fotos e posts. Nessa ânsia louca por ser popular e ter quem sabe milhares e milhares de amigos, muitos se esquecem até mesmo de se alimentar, tomar banho ou manter a casa em ordem. Abandona-se por completo o mundo real para se dedicar ao mundo virtual. Renega-se a própria identidade, aquela que construímos ao longo da vida, que nossos pais, professores e pessoas próximas moldaram aos poucos, em troca de uma identidade fabricada, irreal e fantasiosa.
Dentro desse mundo maravilhoso do Facebook, todos querem aparecer o mais possível, pois segundo a lógica ali existente, só assim poderei de fato ser alguém, ainda que passe ao outro uma falsa impressão sobre meu eu real. Em meio a esse mundo virtual criam-se relações superficiais e descartáveis, nunca relacionamentos que possam implicar algum tipo de comprometimento. Os “amigos” ali presentes, pelo menos a imensa maioria, não passa de mera conveniência, um número que serve para medir o quanto se é popular. É uma relação parasitária que nada tem de inocente. Todos fazem parte, em maior ou menor grau, de uma gigantesca vitrine onde tentam continuamente vender a si mesmos.
Para que se alcance popularidade e se tenha sucesso, é preciso saber usar as tantas ferramentas digitais à disposição para tornar o perfil pessoal atrativo. Tal como fazem certas especies de pássaros na época do acasalamento, quanto mais diferente, inusitado ou embelezado for o ninho, tanto maior o número de possíveis admiradores. A foto muda constantemente, dependendo do estado de espírito da pessoa, estado civil ou época do ano. Ao contrário do mundo real, onde o tempo solidifica e fortalece a personalidade frente ao nosso círculo de amizades, ali ocorre o derretimento, a liquefação da imagem pessoal, frequentemente alterada, substituída por outra que reflita o momento. Talvez por isso mesmo os relacionamentos duradouros estejam cada vez mais escassos. Quanto a internet começou a se popularizar, o mundo virtual imitava o real, hoje ocorre o contrário. Tudo é passageiro, fugaz e momentâneo.
Ao acordar pela manhã e se olhar no espelho, a imagem refletida lá parece vazia e feia, ao contrário daquelas fotos do perfil ou dos álbuns virtuais. Muitos acabam entrando em depressão, descontentes com sua própria identidade pessoal. Para que haja satisfação pessoal e felicidade, o usuário precisa sentir-se admirado, elogiado e desejado como produto de consumo pelo outro. Fotos tiradas geralmente em frente ao espelho procuram supervalorizar os seios, as nádegas, o rosto ou o peitoral. Muitos comentários evidenciam esse desejo de ser admirado e consumido. “Uauuuuu!”, “Perfeita!”, “Delííícia!”, “Muito lindooooo!”
Ações rotineiras do cotidiano e antes particulares e privadas, agora se tornam públicas e passíveis de serem comentadas, “curtidas” e consumidas pela coletividade. Fazer um bolo, jantar com amigos ou mesmo aquela espinha que apareceu na bochecha viram alvo de fotos que são rapidamente publicadas e compartilhadas, num exercício infinito de antropofagia virtual nessa busca incessante por admiração e prestígio. Ao fim e ao cabo, o Facebook poderia ser até uma ferramenta muito útil para o estreitamento das relações pessoais, não tivesse sido eclipsado pelo egoísmo e narcisismo tão característicos da espécie humana. O que começou como uma inocente brincadeira para os momentos de ócio virou um lucrativo negócio onde se vende de tudo, principalmente pessoas.

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