quinta-feira, 19 de julho de 2012

Reflexões da vida na privada


Talvez você já tenha se perguntado qual foi a maior invenção da história da civilização humana. Existem muitas listas em livros e pela internet afora, dedicadas ao assunto, bastante curioso por sinal, e os resultados variam dependendo de onde foi realizada a consulta e quem a realizou. Depois de analisar algumas destas interessantes listas, acabei chegando àquela que é, provavelmente, a mais importante de todas as invenções: o vaso sanitário.
Num primeiro momento, pode parecer estranho, mas este objeto tão presente no nosso cotidiano e tão pouco notado, diga-se de passagem, aparece como um dos mais lembrados pelas pessoas, quando se trata de arrolar as maiores invenções humanas. Se pararmos por alguns minutos para pensar, no entanto, veremos que faz todo sentido, basta imaginarmos as maiores cidades que temos atualmente, e deste cenário de imensas aglomerações humanas, subtrairmos o objeto em questão. Sem o devido tratamento dos resíduos líquidos e sólidos produzidos por nosso corpo, doenças graves logo se espalhariam com alarmante rapidez, dizimando as populações.
Ao longo da história, percebem-se avanços e retrocessos na área sanitária, contrariando a tendência natural que é a da evolução e do aprimoramento. Durante o Império Romano, isso ainda no distante século 4, já se fazia uso de sistemas exemplares de esgoto, baseados na construção de calhas por onde fluía água corrente. Na Idade Média, a moda era esvaziar os penicos e gamelas cheios de fezes, urina e escarros, direto das janelas das casas para as ruas cheias de gente. A imundície e o mau cheiro, aliadas a uma quase total falta de higiene, faziam com que as moscas, ratos, piolhos e outras pragas disputassem espaço com as pessoas, espalhando muitas doenças e deixando a expectativa de vida ao redor dos 30 e poucos anos apenas.
Na Inglaterra dos anos de 1600, o rio Tâmisa, hoje um dos cartões postais da cidade, teria parecido com o nosso Tietê, tal a quantidade de lixo, carcaças de animais mortos, dejetos humanos e até o descarte de partes de corpos, oriundas de cirurgias e amputações, que eram comumente ali depositadas sem nenhum cuidado. A situação foi se agravando durante séculos, à medida que a população londrina crescia, culminando no século 17, quando as sessões do Parlamento tiveram que ser suspensas devido ao fedor que emanava do rio, quando então ganhou o nada invejável apelido de “Rio Fedorento”.
Muito embora os primeiros modelos do que viria a ser o vaso sanitário atual tenham sido inventados já no século 14, seu uso rotineiro demorou muito para se popularizar, pois os esforços para criar bons hábitos de higiene pareciam não surtir efeito na população. Em 1775, o relojoeiro escocês Alexander Cummings desenvolveu o primeiro modelo de uma complexa privada com reservatório de água, que servia para mandar embora os dejetos humanos. Ao fundo havia uma válvula que selava a saída do mau cheiro das fezes e urina. Nascia o vaso sanitário. A partir do século 19, com o crescente desenvolvimento das cidades, seu uso se popularizou cada vez mais, graças ao invento das redes de canos subterrâneos, que captavam de forma segura e higiênica os resíduos. Por volta de 1880 as peças da privada passaram a ser produzidas em porcelana, adquirindo a aparência que possuem até os dias de hoje.
No Brasil, as primeiras redes de esgoto foram construídas em Minas Gerais, sendo que a partir dos anos 30 a maioria das capitais brasileiras já contava com redes de distribuição de água e captação de esgotos. Sem dúvidas, da mesma forma que é impossível pensar a vida moderna sem computadores e internet, é igualmente impossível concebê-la sem o vaso sanitário, principalmente naquelas ocasiões em que exageramos na comida ou bebida e é preciso sair correndo em sua direção. Além de sua utilidade primeira, não se pode imaginar quantas outras invenções tão importantes quanto esta tenham surgido a partir dele, graças aos momentos em que ficamos lá sentados, perdidos em divagações diversas que por vezes dão lugar a criatividade.

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