Talvez você já tenha se perguntado qual foi a maior
invenção da história da civilização humana. Existem muitas listas em livros e
pela internet afora, dedicadas ao assunto, bastante curioso por sinal, e os
resultados variam dependendo de onde foi realizada a consulta e quem a
realizou. Depois de analisar algumas destas interessantes listas, acabei
chegando àquela que é, provavelmente, a mais importante de todas as invenções:
o vaso sanitário.
Num primeiro momento, pode parecer estranho, mas este
objeto tão presente no nosso cotidiano e tão pouco notado, diga-se de passagem,
aparece como um dos mais lembrados pelas pessoas, quando se trata de arrolar as
maiores invenções humanas. Se pararmos por alguns minutos para pensar, no entanto,
veremos que faz todo sentido, basta imaginarmos as maiores cidades que temos
atualmente, e deste cenário de imensas aglomerações humanas, subtrairmos o
objeto em questão. Sem
o devido tratamento dos resíduos líquidos e sólidos produzidos por nosso corpo,
doenças graves logo se espalhariam com alarmante rapidez, dizimando as populações.
Ao longo da história, percebem-se avanços e
retrocessos na área sanitária, contrariando a tendência natural que é a da
evolução e do aprimoramento. Durante o Império Romano, isso ainda no distante
século 4, já se fazia uso de sistemas exemplares de esgoto, baseados na
construção de calhas por onde fluía água corrente. Na Idade Média, a moda era
esvaziar os penicos e gamelas cheios de fezes, urina e escarros, direto das janelas
das casas para as ruas cheias de gente. A imundície e o mau cheiro, aliadas a
uma quase total falta de higiene, faziam com que as moscas, ratos, piolhos e
outras pragas disputassem espaço com as pessoas, espalhando muitas doenças e deixando
a expectativa de vida ao redor dos 30 e poucos anos apenas.
Na Inglaterra dos anos de 1600, o rio Tâmisa, hoje um
dos cartões postais da cidade, teria parecido com o nosso Tietê, tal a
quantidade de lixo, carcaças de animais mortos, dejetos humanos e até o
descarte de partes de corpos, oriundas de cirurgias e amputações, que eram
comumente ali depositadas sem nenhum cuidado. A situação foi se agravando
durante séculos, à medida que a população londrina crescia, culminando no
século 17, quando as sessões do Parlamento tiveram que ser suspensas devido ao
fedor que emanava do rio, quando então ganhou o nada invejável apelido de “Rio
Fedorento”.
Muito embora os primeiros modelos do que viria a ser o
vaso sanitário atual tenham sido inventados já no século 14, seu uso rotineiro
demorou muito para se popularizar, pois os esforços para criar bons hábitos de
higiene pareciam não surtir efeito na população. Em 1775, o relojoeiro escocês
Alexander Cummings desenvolveu o primeiro modelo de uma complexa privada com
reservatório de água, que servia para mandar embora os dejetos humanos. Ao
fundo havia uma válvula que selava a saída do mau cheiro das fezes e urina.
Nascia o vaso sanitário. A partir do século 19, com o crescente desenvolvimento
das cidades, seu uso se popularizou cada vez mais, graças ao invento das redes
de canos subterrâneos, que captavam de forma segura e higiênica os resíduos.
Por volta de 1880 as peças da privada passaram a ser produzidas em porcelana,
adquirindo a aparência que possuem até os dias de hoje.
No Brasil, as primeiras redes de esgoto foram
construídas em Minas
Gerais, sendo que a partir dos anos 30 a maioria das capitais
brasileiras já contava com redes de distribuição de água e captação de esgotos.
Sem dúvidas, da mesma forma que é impossível pensar a vida moderna sem
computadores e internet, é igualmente impossível concebê-la sem o vaso
sanitário, principalmente naquelas ocasiões em que exageramos na comida ou
bebida e é preciso sair correndo em sua direção. Além de sua utilidade
primeira, não se pode imaginar quantas outras invenções tão importantes quanto
esta tenham surgido a partir dele, graças aos momentos em que ficamos lá
sentados, perdidos em divagações diversas que por vezes dão lugar a
criatividade.
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