quinta-feira, 14 de junho de 2012

Segredos da escrita


Nas duas últimas semanas, um grande número de pessoas compareceu à escola em que trabalho para se inscrever para a prova do ENEM 2012, que acontecerá no início do mês de novembro. Tanto alunos quanto pessoas da comunidade parecem compartilhar uma mesma preocupação: a produção de texto que é cobrada na prova. Durante o tempo em que ficavam acompanhando o preenchimento dos formulários de inscrição, a redação do ENEM foi o assunto que dominou as conversas. Para a imensa maioria dos candidatos, a ideia de escrever um texto dissertativo, que em geral versa sobre assuntos da atualidade e deve possuir um caráter informativo, é um dos maiores obstáculos da prova, senão o maior. Mas afinal, o que é preciso para ter sucesso nesta tarefa?
Para que se consiga produzir um bom texto, muitos são os aspectos envolvidos. Em primeiro lugar, é fundamental o gosto pela leitura. Quando se lê com certa frequência textos de diferentes gêneros, estar diante de uma página em branco e vir a preenchê-la com um texto, já não assusta mais. A escrita acontece de forma natural e as ideias fluem com facilidade. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que se tenha começado cedo, de preferência logo que se aprendeu a ler. Não adianta querer ler tudo que se vê pela frente, faltando dois ou três meses para a prova. Leva tempo para que se crie intimidade com a palavra escrita. O gosto pela leitura, o gostar de ler, precisa nos acompanhar por toda uma vida, e não pode ser algo que aconteça a força. Às vezes deixar de sair com os amigos, deixar de ir a uma festa porque se está lendo um livro e não se quer largar de sua companhia. Isso é gostar de ler.
Desligar a TV, desligar o computador e preferir a companhia de um livro. Isso é gostar de ler. Gostar de ler é quando essa atividade está acima das outras numa escala de prioridades. É quando nada tem de obrigação e tudo tem de prazer e de encantamento. Gostar de ler é quando as cenas descritas nos livros, por meio das palavras, possuem maior graça e muito mais colorido que qualquer cena de filme cheio de efeitos especiais ou jogo de videogame. Quando a leitura alcança essa dimensão, a capacidade de escrever um bom texto sobre assuntos os mais variados, acontece com enorme facilidade. Os recursos disponíveis para escrever, antes limitados ao extremo, se ampliam rapidamente. A quantidade de palavras que se conhece supera por várias vezes a de uma pessoa que não lê. Ocorre um refinamento na nossa fala, atitudes, comportamento e mesmo na personalidade. Aos poucos nos transformamos, nos tornamos outra pessoa.
O mundo da escrita, que muitos consideram misterioso e cheio de segredos, não o é de jeito nenhum. É preciso ler muito, não por dever, mas por lazer, por gostar mesmo. Depois disso então, começar a praticar a escrita de forma sistemática. Ler, ler, ler. Escrever, escrever, escrever. Treinar muito. Oferecer nossos textos para que outros leiam e opinem também ajuda. Procurar ter uma visão da totalidade do processo. Ter em mente que a escrita de um texto não acaba quando se coloca o ponto final, ao fim da página. Nessa hora, se começa a ler o que se escreveu, procurando por possíveis falhas e formas de fazer com que fique melhor. Trocar uma palavra aqui, outra ali. Tirar esta frase aqui, pensar em algo melhor. Lapidar cada cantinho que não esteja bom o suficiente, como o joalheiro faz com a pedra preciosa.
Saber, acima de tudo, que quando lemos um texto e gostamos ou admiramos, com toda certeza deu muito trabalho ao seu autor. Bons textos dão trabalho, exigem concentração, planejamento, organização e não podem ser feitos às pressas. É preciso paciência, é preciso escolher cada palavra com cuidado, para que se tenha o efeito desejado. Defender ideias e convicções com argumentos sólidos, que demonstrem ao leitor que se conhece o assunto e procurar sempre trazer informações novas, que sejam interessantes, que façam o leitor desviar os olhos da página por alguns segundos e refletir sobre o que leu.
Ter muitas ideias e conseguir expressá-las por meio de uma escrita elegante e fluente é muito mais importante que saber de cor um compêndio inteiro de regras gramaticais. A gramática, a acentuação e a pontuação são acessórios que têm sua importância, mas não devem ser o objetivo final de quem escreve. Antes de estudar gramática, leia muito, leia reportagens, crônicas, histórias em quadrinhos, sobretudo leia literatura. Qualquer livro, de preferência um que você se sinta atraído. Com um bom número de livros lidos no currículo, não só a leitura será um prazer, mas também a escrita.

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