quarta-feira, 16 de maio de 2012

Por onde anda o amor?


O amor anda meio sumido, meio escondido. Talvez esteja com vergonha das nossas atitudes e prefira não dar as caras. Justo ele, que é disparado o sentimento mais presente no nosso pensamento, em todas as culturas e épocas. Meio arisco é verdade. Muitos dizem senti-lo, mas poucos conseguem conviver com ele por longo tempo. Não se vê mais casamentos de 40, 50 anos ou mais. Nesse mundo onde todos têm pressa, parece que o tão sonhado amor eterno dos contos de fadas ou do cinema, também se modificou. Virou um sentimento para ser consumido agora, hoje, porque amanhã talvez já tenha passado!
Daquele sentimento nobre, encantador e duradouro, pouco restou. O amor que hoje vemos se banalizou, virou um produto. Não existe mais a espera ansiosa, o friozinho na barriga, o arrepio causado por aquele sorriso que gruda no pensamento e não quer mais sair. Vivemos o tempo do amor Nescafé. É instantâneo, basta adicionar umas poucas mensagens pelo celular ou pela internet e pronto. Um minuto depois já está em ebulição. Beijos e abraços acontecem em qualquer lugar. Se facilitar, até banheiro malcheiroso vira castelo de príncipes e princesas. As palavras de carinho e juras de amor eterno servem como simples acessórios do momento, pois ambos sabem que só durará até amanhã. Tão rápido como veio, se vai.
A busca por uma pessoa especial, que nos acompanhe pela vida afora, parece ter perdido sua importância. O que conta não é a qualidade, mas a quantidade. Quanto mais pessoas tiverem passado por mim, melhor. É uma competição para ver quem “pega” mais. Nessa era de tanta “modernidade”, até os que estavam casados já há algum tempo também entram na onda. Nunca se viu tantas separações. Nas festas, bailes e reuniões sociais, adolescentes, jovens e pessoas de meia idade disputam o espaço onde ninguém é de ninguém e todos são de todos. A convivência duradoura entre um casal parece cada vez mais difícil de acontecer. Tudo é momentâneo e passageiro. O amor, que há tempos era escolhido para ser o ingrediente principal de um relacionamento, ficou em segundo plano. O que conta são as festas, as muitas bebedeiras e é claro, o sexo.
A intimidade entre duas pessoas, mantida por tanto tempo reservada aos locais mais recônditos do lar, aos poucos ganhou espaço nos filmes, novelas e por fim na internet. Agora sim, sem qualquer forma de restrição ou censura, o sexo preenche as telas luminosas dos computadores e a cabeça de adolescentes e adultos. Divulgado e propagandeado, virou nada mais que uma forma de diversão. Todos desejam, todos querem, todos precisam. Ninguém pensa nas possíveis consequências. Gravidez indesejada, envolvimentos indevidos, doenças. Tudo fica escondido embaixo do tapete. Ninguém quer pensar nisso, ninguém parece se preocupar ou se importar. Os poucos que ainda mantém certa dose de bom senso, logo se “desestressam” depois de algumas doses de bebida.
A superexposição pelas redes sociais afora nos dá a ilusão de sermos superastros. De repente todo mundo ficou famoso e com isso passou a se achar a última bolachinha recheada do pacote. A paciência, tão necessária nas relações pessoais, não existe mais. Perdoar deixou de ser opção. Todo mundo “se acha” mas ninguém se encontra. Existe bajulação, exposição, mas quando o computador é desligado, vem a solidão, o vazio. O mundo virtual nos dá tudo, mas tira o essencial: o contato humano, a palavra amiga, o beijo carinhoso. O amor virtual é falso, enganoso. Ali só se compartilham as conquistas, as festas, as fotos glamorosas, a badalação. Gostar de alguém nos bons momentos é fácil. O amor pode até surgir num momento alegre e descontraído, mas é nos momentos difíceis ou dolorosos que será posto à prova. Se for verdadeiro e sincero, destruirá todos os obstáculos. Se for só uma paixão, uma simples atração física, mesmo a menor onda o fará naufragar.

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