O amor anda
meio sumido, meio escondido. Talvez esteja com vergonha das nossas atitudes e
prefira não dar as caras. Justo ele, que é disparado o sentimento mais presente
no nosso pensamento, em todas as culturas e épocas. Meio arisco é verdade.
Muitos dizem senti-lo, mas poucos conseguem conviver com ele por longo tempo.
Não se vê mais casamentos de 40, 50 anos ou mais. Nesse mundo onde todos têm
pressa, parece que o tão sonhado amor eterno dos contos de fadas ou do cinema,
também se modificou. Virou um sentimento para ser consumido agora, hoje, porque
amanhã talvez já tenha passado!
Daquele
sentimento nobre, encantador e duradouro, pouco restou. O amor que hoje vemos
se banalizou, virou um produto. Não existe mais a espera ansiosa, o friozinho
na barriga, o arrepio causado por aquele sorriso que gruda no pensamento e não
quer mais sair. Vivemos o tempo do amor Nescafé. É instantâneo, basta adicionar
umas poucas mensagens pelo celular ou pela internet e pronto. Um minuto depois
já está em ebulição.
Beijos e abraços acontecem em qualquer lugar. Se facilitar,
até banheiro malcheiroso vira castelo de príncipes e princesas. As palavras de
carinho e juras de amor eterno servem como simples acessórios do momento, pois
ambos sabem que só durará até amanhã. Tão rápido como veio, se vai.
A busca por
uma pessoa especial, que nos acompanhe pela vida afora, parece ter perdido sua
importância. O que conta não é a qualidade, mas a quantidade. Quanto mais
pessoas tiverem passado por mim, melhor. É uma competição para ver quem “pega”
mais. Nessa era de tanta “modernidade”, até os que estavam casados já há algum
tempo também entram na onda. Nunca se viu tantas separações. Nas festas, bailes
e reuniões sociais, adolescentes, jovens e pessoas de meia idade disputam o espaço
onde ninguém é de ninguém e todos são de todos. A convivência duradoura entre
um casal parece cada vez mais difícil de acontecer. Tudo é momentâneo e
passageiro. O amor, que há tempos era escolhido para ser o ingrediente
principal de um relacionamento, ficou em segundo plano. O que conta são as
festas, as muitas bebedeiras e é claro, o sexo.
A intimidade
entre duas pessoas, mantida por tanto tempo reservada aos locais mais
recônditos do lar, aos poucos ganhou espaço nos filmes, novelas e por fim na
internet. Agora sim, sem qualquer forma de restrição ou censura, o sexo
preenche as telas luminosas dos computadores e a cabeça de adolescentes e
adultos. Divulgado e propagandeado, virou nada mais que uma forma de diversão.
Todos desejam, todos querem, todos precisam. Ninguém pensa nas possíveis
consequências. Gravidez indesejada, envolvimentos indevidos, doenças. Tudo fica
escondido embaixo do tapete. Ninguém quer pensar nisso, ninguém parece se
preocupar ou se importar. Os poucos que ainda mantém certa dose de bom senso,
logo se “desestressam” depois de algumas doses de bebida.
A
superexposição pelas redes sociais afora nos dá a ilusão de sermos superastros.
De repente todo mundo ficou famoso e com isso passou a se achar a última
bolachinha recheada do pacote. A paciência, tão necessária nas relações
pessoais, não existe mais. Perdoar deixou de ser opção. Todo mundo “se acha”
mas ninguém se encontra. Existe bajulação, exposição, mas quando o computador é
desligado, vem a solidão, o vazio. O mundo virtual nos dá tudo, mas tira o
essencial: o contato humano, a palavra amiga, o beijo carinhoso. O amor virtual
é falso, enganoso. Ali só se compartilham as conquistas, as festas, as fotos
glamorosas, a badalação. Gostar de alguém nos bons momentos é fácil. O amor
pode até surgir num momento alegre e descontraído, mas é nos momentos difíceis
ou dolorosos que será posto à prova. Se for verdadeiro e sincero, destruirá
todos os obstáculos. Se for só uma paixão, uma simples atração física, mesmo a
menor onda o fará naufragar.
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