quinta-feira, 10 de maio de 2012

Na companhia do medo


O medo é a mais antiga de todas as emoções humanas. Muito antes da descoberta da pólvora ou da criação de quaisquer armas de defesa pessoal, o simples fato de sentirmos medo perante o desconhecido servia como proteção à vida e dava alguma garantia quanto a nossa sobrevivência. Há uns 700 anos, devido às péssimas condições de vida em que se encontrava a grande maioria da população mundial, todos tinham muitos motivos para sentir medo.
A ausência de energia elétrica fazia com que a vida humana estivesse sempre a mercê de muitos perigos. Sem nenhuma forma de lazer para se ocupar durante a noite, as pessoas iam dormir logo que escurecesse. Por volta da meia noite ou pouco mais, já tinham tido várias horas de sono e era comum ficarem insones por um longo período, em meio à escuridão absoluta. Por mais que nos pareça estranho, era costume acordar e aproveitar a luz da lua para caminhar até um vizinho e fazer-lhe uma visita. No contexto da época, a palavra vizinho significava quilômetros de caminhada com estradas que mais pareciam labirintos, animais ferozes rondando por ali, rios para atravessar e assaltantes cruéis, que além de saquear gostavam de torturar, estuprar e matar.
Nessas situações, muitos morriam e só eram encontrados no dia seguinte ou desapareciam para sempre, as mortes jamais explicadas. Devorados por animais ou carregados pelas águas de algum rio ou enxurrada, nunca mais eram vistos. A expectativa de vida era curta, ficando ao redor dos trinta e poucos anos. Em condições precárias de moradia e higiene, passava-se às vezes meses sem tomar banho. Com frequência, o corpo vivia infestado por parasitas e doenças de pele causadas pela sujeira. Eram tempos muito difíceis. Literalmente lutava-se pela vida, em meio a tantas adversidades e incertezas.
Na sociedade moderna, a humanidade experimenta tal nível de qualidade de vida e de longevidade jamais vistos ou sequer imaginados. O advento da energia elétrica trouxe para a nossa civilização invenções e confortos aos quais na antiguidade nem as classes mais abastadas podiam usufruir. As distâncias geográficas, sob muitos aspectos, encurtaram ou mesmo desapareceram. Vivemos entre dois mundos distintos que estão sempre interligados e trocando informações entre si: o mundo real da forma que o experimentamos com nossos sentidos, e o mundo virtual, com o qual interagimos, mas não podemos nos fazer presentes em carne e osso. Neste último, tal como no mundo antigo, anterior à eletricidade, muitos são os perigos que nos esperam.   
Espionagem, roubo de dados e senhas, invasão de instituições governamentais e privadas, exposição de imagem pessoal. Quem troca informações por meio do computador, seja por motivos de lazer, trabalho ou estudos, está permanentemente exposto a estas ameaças. Embora existam opções para se prevenir e evitar problemas, a maioria das pessoas nem sequer imagina que sua vida pessoal e profissional possa ser devassada com tanta facilidade. Nas estradas desconhecidas e labirínticas por onde circulam tantas informações, predadores estão sempre de olho em tudo, protegidos pelo anonimato e pelo conforto de suas casas, geralmente a milhares de quilômetros.  Por mais banais ou desimportantes que nossas atitudes possam parecer, nada passa despercebido.
O recente episódio envolvendo Carolina Dieckmann exemplifica isso muito bem. Talvez cansada de tanto se ver maquiada e super-produzida, a atriz quis se ver como realmente é. Foi traída pela vaidade e curiosidade. Pelos caminhos tortuosos do mundo virtual, foi atacada e exposta na sua intimidade. Uma vez que fotos e vídeos tenham caído na internet, provavelmente estarão lá para sempre, à disposição de quem quiser vê-los.
     Como nos tempos antigos, ainda sentimos medo. Ao que parece, não importa o quanto a civilização humana se modifique, o medo estará sempre conosco. Talvez com outras caras, outras roupagens, mas ainda assim incomodamente onipresente.

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