Já faz muito tempo que os livros de autoajuda estão
sempre no topo das listas de mais vendidos. Tal como profetizou Freud, parece
mesmo que a humanidade está vivendo um mal estar coletivo. Não importa o quanto
os tais livros sejam um amontoado de conceitos e opiniões duvidosas, vendem aos
borbotões. Por mais que as pessoas saibam que estão lendo algo extremamente
duvidoso do ponto de vista da ciência, ainda assim acorrem aos milhares às
livrarias para comprar o livro de autoajuda do momento.
Feliz do escritor que descobrir a fórmula para
“escrever o que o leitor quer ler”. Logo terá vendido milhões de exemplares
pelo mundo afora. As frases de efeito e receitas milagrosas para alcançar o
tripé sucesso, dinheiro e felicidade fazem a alegria de todos, muito embora
sabidamente beneficiem mesmo quem as escreve! Exemplos não faltam: Paulo
Coelho, escritor reverenciado por legiões de fãs, descobriu o pote de ouro no
fim do arco-íris. Contando suas histórias em forma de parábolas, ele é uma
espécie de Cristo dos tempos modernos. Tendo caído nas graças de seu público
leitor, o ex-hippie companheiro de Raul Seixas hoje vive na Suíça, e pode
literalmente nadar em dinheiro, se assim o desejar.
Padre Marcelo também vai na mesma linha da famosa
“busca da espiritualidade”, como pretexto para vender livros, e já é campeão
absoluto de vendas. A australiana Rhonda Byrne ficou famosa e milionária com
seu livro “O segredo”, segundo o qual querer muito algo é mais importante do
que lutar para consegui-lo. Segundo a autora, basta que se deseje muito alguma
coisa, que fatalmente acabará acontecendo. Com ideias tão absurdas, porém
deveras atraentes para o público desavisado e desinformado, Rhonda chegou
rápido ao topo das listas de mais vendidos no mundo inteiro e se manteve lá por
dois ou três anos.
Com a correria louca da vida, não admira que exista
tanta gente ávida por uma palavra de incentivo, por alguém que possa suprir a
crescente carência por afeto e atenção. Fragilizados pelos problemas e pelas
agruras do cotidiano, ansiamos por nos sentir um pouquinho especiais, ainda que
lá no fundo saibamos que somos apenas mais um, anônimo entre a multidão
apressada. Todos precisam correr. O trabalho nos espera. O marido nos espera.
Os filhos nos esperam. É difícil encontrar alguém que viva para si mesmo.
Vivemos todos para o outro, em função de outra pessoa e, com isso, muitas vezes
nos esquecemos de viver a vida. Palavras que tragam algum conforto ou esperança
são sempre bem-vindas, ainda que seja apenas um livro. Sabedores dessa nossa
necessidade por afeto e consolo, os autores de autoajuda se esforçam ao máximo
por nos contentar.
É fácil encontrar depoimentos de pessoas que afirmam
que este ou aquele livro de autoajuda mudou suas vidas para sempre. Assim, de uma
hora para outra, como que por milagre. A tão falada espiritualidade está em
alta. É moda procurar despertar o “lado espiritual”, como se isso pudesse
fornecer a solução para todos os nossos problemas, sejam eles financeiros,
amorosos ou de saúde. Somos seres que possuem um sistema biológico, regido por
reações químicas e físicas. Numa situação limite, dificilmente conseguiremos
vencer as tentações impostas pelo nosso corpo físico.
Em última instância, acreditar que possuímos uma alma
imaterial e que ela tem alguma influência sobre nosso corpo é algo como
acreditar em gnomos, fadas ou no saci pererê. Sempre acreditei muito em mim
mesmo, na minha capacidade e força de vontade. Tenho também um lado espiritual,
se quiserem dizer dessa forma, só que independente de crenças religiosas. Com o
tempo e com a observação do mundo a nossa volta, me parece que vamos ficando
mais pessimistas com relação às crenças no mundo espiritual ou sobrenatural.
Vamos envelhecendo, e nesse processo de envelhecer descobrimos um pouco mais
sobre nós mesmos, de onde viemos e para onde vamos. É um período de mudança, de
transição, de autoconhecimento.
Um comentário:
Gostei muito das reflexões de vocês. Partilho o site de um programa que muito tem me ensinado e ajudado a compreender melhor a vida, www.deolhonomundo.com. Espero que gostem. Abçs.
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