sexta-feira, 23 de março de 2012

Fim de um ciclo, início de outro


Esta semana os editores da Enciclopédia Britânica anunciaram o fim das edições impressas. Depois de quase 250 anos, a fonte de informações mais confiável e mais tradicional do mundo passará a contar somente com sua versão online, onde constam cerca de 65 mil artigos. Quando pensamos em informação nestes tempos internéticos, a comparação de uma enciclopédia em volumes impressos com outra, disponível na internet, é brutal.
Enquanto a Britânica online cobra U$ 70,00 a cada ano de acesso, a Wikipédia é totalmente gratuita e oferece o absurdo de mais de 20 milhões de artigos editados e aumentando a cada dia. Durante décadas e décadas, a grande vitrine da Britânica foi a credibilidade das suas fontes. Contando com uma rigorosa equipe de renomados especialistas, a enciclopédia sempre se orgulhou de oferecer dados precisos e atualizados a cada edição.
Acontece que essa atualização, que antes da era da internet era considerada rápida, hoje deixa muito a desejar. A Wikipédia por sua vez, não conta com especialistas. É um imenso compêndio de informações que são atualizadas a cada segundo por seus cerca de 800 mil colaboradores ao redor do mundo. São pessoas que se credenciam no site e escrevem artigos que passam a fazer parte do acervo da enciclopédia. Se por um lado as informações não são 100 % acuradas, por outro se ganha em rapidez de atualização. Se alguém folhar as páginas dos belos volumes da Britânica, por exemplo, não encontrará registros sobre o tsunami no Japão ou sobre os recentes conflitos na Síria, enquanto na Wikipédia já é possível encontrar esses dados em abundância, inclusive com riqueza de detalhes, muitas fotos e gráficos, bem como um vasto referencial que possibilita ampliar em muito o conhecimento sobre o assunto.
A forma como se produz e como se tem acesso à informação mudou e continuará mudando de forma radical ainda pelas próximas décadas. A grande questão em debate no momento presente é saber se é preferível credibilidade ou velocidade. O preço que se paga por livros impressos é muito elevado e ao que tudo indica a tendência é que aumente, uma vez que o número de compradores vem caindo mais e mais. Em alguns países, o número de edições vendidas em formato de arquivos que se podem baixar e ler no computador já supera o das edições impressas. Em termos de praticidade a edição virtual tem vantagem, pois não se pode sair de casa carregando 2 ou 3 mil livros nas costas, enquanto esse número cabe facilmente num dispositivo móvel como um HD removível ou um tablet. Para quem nasceu e se acostumou a ler no papel, no entanto, é difícil migrar para outro formato. Muitas vezes a leitura na tela do computador ou tablet é penosa no início, leva algum tempo para se habituar. É um ritual de passagem, um novo aprendizado do que significa ler.
Ao que tudo indica, as mudanças que tiveram início há alguns anos irão se intensificar ainda mais. No Brasil, um mercado ainda emergente em termos das modernas tecnologias da informação, já existe a previsão de que a partir de 2014 o MEC comece a investir em material didático digital, o que aliviará os estudantes de carregar diariamente um enorme peso em livros. Em vez disso, usarão apenas um tablet ou notebook, onde se fará as anotações necessárias das várias aulas do dia e que conterá uma pequena biblioteca com todo o material de estudo necessário. Todos os livros que hoje se usa serão em formato PDF, Mobi ou outros que surgirem logo a seguir.
       O final da edição em papel da Enciclopédia Britânica deixa saudades ao mesmo tempo em que aponta para novos caminhos. Tal como na época das grandes navegações, em que o homem se aventurou por terras desconhecidas e misteriosas, agora também a civilização moderna se lança rumo a um novo mar. Navegaremos cada vez mais por esse mar. Um oceano formado não por água, mas por informação. Nesse imenso mar virtual, testemunharemos aos poucos a diminuição das edições em papel. O livro como hoje o conhecemos irá sumir. Não sei se em nosso tempo de vida, mas irá sumir num futuro não muito distante.  Tudo aponta nessa direção. É um caminho sem volta. 
        Para alguém como eu, que aprendeu a ler e a ter amor pelos livros, é uma constatação triste, melancólica até. Para as gerações recentes, que já navegavam nesse mar de informação antes mesmo de aprender a andar ou falar, é algo absolutamente normal. Para a sustentabilidade do planeta, é um alívio. Milhões de árvores serão poupadas. A curiosidade por descobrir coisas novas, por aprender algo novo, essa jamais muda, jamais desaparece. Criam-se novos caminhos, novos métodos, novas tecnologias, porém o conhecimento permanece, se expande e atinge um número cada vez maior de pessoas.

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