Esta semana os editores da Enciclopédia Britânica
anunciaram o fim das edições impressas. Depois de quase 250 anos, a fonte de
informações mais confiável e mais tradicional do mundo passará a contar somente
com sua versão online, onde constam cerca de 65 mil artigos. Quando pensamos em
informação nestes tempos internéticos, a comparação de uma enciclopédia em
volumes impressos com outra, disponível na internet, é brutal.
Enquanto a Britânica online cobra U$ 70,00 a cada ano de acesso,
a Wikipédia é totalmente gratuita e oferece o absurdo de mais de 20 milhões de
artigos editados e aumentando a cada dia. Durante décadas e décadas, a grande
vitrine da Britânica foi a credibilidade das suas fontes. Contando com uma
rigorosa equipe de renomados especialistas, a enciclopédia sempre se orgulhou
de oferecer dados precisos e atualizados a cada edição.
Acontece que essa atualização, que antes da era da
internet era considerada rápida, hoje deixa muito a desejar. A Wikipédia por
sua vez, não conta com especialistas. É um imenso compêndio de informações que
são atualizadas a cada segundo por seus cerca de 800 mil colaboradores ao redor
do mundo. São pessoas que se credenciam no site e escrevem artigos que passam a
fazer parte do acervo da enciclopédia. Se por um lado as informações não são
100 % acuradas, por outro se ganha em rapidez de atualização. Se alguém folhar
as páginas dos belos volumes da Britânica, por exemplo, não encontrará
registros sobre o tsunami no Japão ou sobre os recentes conflitos na Síria,
enquanto na Wikipédia já é possível encontrar esses dados em abundância,
inclusive com riqueza de detalhes, muitas fotos e gráficos, bem como um vasto
referencial que possibilita ampliar em muito o conhecimento sobre o assunto.
A forma como se produz e como se tem acesso à
informação mudou e continuará mudando de forma radical ainda pelas próximas
décadas. A grande questão em debate no momento presente é saber se é preferível
credibilidade ou velocidade. O preço que se paga por livros impressos é muito
elevado e ao que tudo indica a tendência é que aumente, uma vez que o número de
compradores vem caindo mais e mais. Em alguns países, o número de edições
vendidas em formato de arquivos que se podem baixar e ler no computador já
supera o das edições impressas. Em termos de praticidade a edição virtual tem
vantagem, pois não se pode sair de casa carregando 2 ou 3 mil livros nas
costas, enquanto esse número cabe facilmente num dispositivo móvel como um HD
removível ou um tablet. Para quem nasceu e se acostumou a ler no papel, no
entanto, é difícil migrar para outro formato. Muitas vezes a leitura na tela do
computador ou tablet é penosa no início, leva algum tempo para se habituar. É
um ritual de passagem, um novo aprendizado do que significa ler.
Ao que tudo indica, as mudanças que tiveram início há
alguns anos irão se intensificar ainda mais. No Brasil, um mercado ainda
emergente em termos das modernas tecnologias da informação, já existe a
previsão de que a partir de 2014 o MEC comece a investir em material didático
digital, o que aliviará os estudantes de carregar diariamente um enorme peso em livros. Em vez disso,
usarão apenas um tablet ou notebook, onde se fará as anotações necessárias das
várias aulas do dia e que conterá uma pequena biblioteca com todo o material de
estudo necessário. Todos os livros que hoje se usa serão em formato PDF, Mobi ou
outros que surgirem logo a seguir.
O final da edição em papel da Enciclopédia Britânica
deixa saudades ao mesmo tempo em que aponta para novos caminhos. Tal como na
época das grandes navegações, em que o homem se aventurou por terras
desconhecidas e misteriosas, agora também a civilização moderna se lança rumo a
um novo mar. Navegaremos cada vez mais por esse mar. Um oceano formado não por
água, mas por informação. Nesse imenso mar virtual, testemunharemos aos poucos
a diminuição das edições em
papel. O livro como hoje o conhecemos irá sumir. Não sei se
em nosso tempo de vida, mas irá sumir num futuro não muito distante. Tudo aponta nessa direção. É um caminho sem
volta.
Para alguém como eu, que aprendeu a ler e a ter amor pelos livros, é uma
constatação triste, melancólica até. Para as gerações recentes, que já
navegavam nesse mar de informação antes mesmo de aprender a andar ou falar, é
algo absolutamente normal. Para a sustentabilidade do planeta, é um alívio.
Milhões de árvores serão poupadas. A curiosidade por descobrir coisas novas,
por aprender algo novo, essa jamais muda, jamais desaparece. Criam-se novos
caminhos, novos métodos, novas tecnologias, porém o conhecimento permanece, se
expande e atinge um número cada vez maior de pessoas.
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