quarta-feira, 4 de abril de 2012

Brasil: o país que (nunca) se desenvolverá


Esta semana foram divulgados os dados da mais recente pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro e realizada durante os meses de junho e julho de 2011. Apesar dos aparentes esforços para incentivar a formação do hábito da leitura na população, o estudo mostra que a prática vem decaindo progressivamente em terras tupiniquins. De acordo com a pesquisa, 75% dos brasileiros nunca entraram em uma biblioteca. São acachapantes 143 milhões de pessoas. Dentre estas, 33% afirmou que “nada os convenceria a entrar em uma”. Vivemos num país em que a população da Alemanha e da Itália somadas, nunca foram e provavelmente nunca irão a uma biblioteca ou manterão qualquer contato com um livro.
Considerando o conjunto dos dados coletados, chega-se à conclusão de que a maioria dos entrevistados reconhece a importância da leitura para o seu crescimento pessoal, porém alega não ter tempo para ler ou ainda diz preferir outras atividades. A forma como as pessoas encaram a leitura no Brasil parece refletir na própria formação do Estado Nacional. Nunca fomos um povo dado à cultura erudita, introspectiva. Somos um povo muito mais apegado às atividades coletivas, onde se reúnem enormes quantidades de pessoas, tais como as celebrações religiosas, os grandes eventos esportivos ou o carnaval. Em menor escala aparecem os shows musicais, bailes que envolvem os mais diversos estilos e as reuniões familiares.
Dentre o escasso percentual de leitores encontrado, a leitura reflexiva ou autônoma é praticamente inexistente. Sair em busca de bons livros, bons autores ou descobrir coisas novas é um privilégio ainda reservado para poucos. A maioria dos que se reconhecem como leitores habituais fica restrito à leitura de autores populares, tais como Paulo Coelho e Zibia Gasparetto ou ainda afirma ler a Bíblia, livro que aparece como o mais citado. Harry Potter também se encontra entre os mais lembrados. Em resumo, somente obras ou autores com divulgação massiva. Não seria de se esperar nenhum Daniel Defoe, John Steinbeck, Tolstoi ou Dostoievski. Nenhum grande autor. Nenhum grande livro.
Se ampliarmos essa rede para outras formas de arte, veremos que o povo brasileiro prefere ver as novelas da globo a um filme de arte, gosta de revistas de “nu artístico” mas não conhece nenhum dos grandes representantes da pintura, como Monet, Van Gogh ou Rembrandt, acredita piamente que os grandes artistas do mundo da música são Michel Teló, Gusttavo Lima e mais umas 200 duplas sertanejas que vendem muito hoje, mas que daqui dois anos ninguém mais se lembrará. Com os gostos das pessoas manipulados 24 horas por dia pela TV, rádios e internet, não resta muito que a Educação e outros órgãos educacionais e culturais possam fazer para reverter esse lamentável quadro.
Chega-se ao ponto em que uma prefeitura, ao aplicar concurso público, apresente questões sobre Michel Teló, novelas e até certas curiosidades pouco comuns sobre futebol. Então é pra isso que as pessoas frequentam os bancos escolares? Será que saber sobre artistas descartáveis e novelas cujas estórias já se repetiram à exaustão irá fazer de mim um profissional melhor ou um ser humano mais justo e digno?! Onde ficam os conhecimentos acumulados durante toda a história humana, as grandes descobertas, os pensadores e gênios que ajudaram a transformar o mundo e fizeram com que hoje possamos ter uma vida melhor?
Onde ficam as grandes obras da literatura, do cinema, das artes plásticas, da escultura e da música? Talvez perdidas, esquecidas, empoeiradas em algum museu, biblioteca ou exposição, esperando para serem descobertas e reconhecidas. Enquanto o povo emburrece e sofre tendo que sobreviver com 100 ou 200 reais ao mês, os “artistas do momento” postam em seu Facebook fotos ao lado de carros que custam mais de 1 milhão de reais. Satisfeitos e com um enorme sorriso no rosto, comentamos que “ele merece”. Há muito tempo, bem se diz que o Brasil é um grande circo, onde habitam 200 milhões de palhaços. Mais do que isso: somos o país do futuro, o país que (nunca) se desenvolverá.

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