Esta semana foram divulgados os dados da mais recente
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro e
realizada durante os meses de junho e julho de 2011. Apesar dos aparentes
esforços para incentivar a formação do hábito da leitura na população, o estudo
mostra que a prática vem decaindo progressivamente em terras tupiniquins. De
acordo com a pesquisa, 75% dos brasileiros nunca entraram em uma biblioteca.
São acachapantes 143 milhões de pessoas. Dentre estas, 33% afirmou que “nada os
convenceria a entrar em uma”. Vivemos num país em que a população da Alemanha e
da Itália somadas, nunca foram e provavelmente nunca irão a uma biblioteca ou
manterão qualquer contato com um livro.
Considerando o conjunto dos dados coletados, chega-se
à conclusão de que a maioria dos entrevistados reconhece a importância da
leitura para o seu crescimento pessoal, porém alega não ter tempo para ler ou
ainda diz preferir outras atividades. A forma como as pessoas encaram a leitura
no Brasil parece refletir na própria formação do Estado Nacional. Nunca fomos
um povo dado à cultura erudita, introspectiva. Somos um povo muito mais apegado
às atividades coletivas, onde se reúnem enormes quantidades de pessoas, tais
como as celebrações religiosas, os grandes eventos esportivos ou o carnaval. Em
menor escala aparecem os shows musicais, bailes que envolvem os mais diversos
estilos e as reuniões familiares.
Dentre o escasso percentual de leitores encontrado, a
leitura reflexiva ou autônoma é praticamente inexistente. Sair em busca de bons
livros, bons autores ou descobrir coisas novas é um privilégio ainda reservado
para poucos. A maioria dos que se reconhecem como leitores habituais fica
restrito à leitura de autores populares, tais como Paulo Coelho e Zibia
Gasparetto ou ainda afirma ler a Bíblia, livro que aparece como o mais citado.
Harry Potter também se encontra entre os mais lembrados. Em resumo, somente
obras ou autores com divulgação massiva. Não seria de se esperar nenhum Daniel
Defoe, John Steinbeck, Tolstoi ou Dostoievski. Nenhum grande autor. Nenhum
grande livro.
Se ampliarmos essa rede para outras formas de arte,
veremos que o povo brasileiro prefere ver as novelas da globo a um filme de
arte, gosta de revistas de “nu artístico” mas não conhece nenhum dos grandes
representantes da pintura, como Monet, Van Gogh ou Rembrandt, acredita piamente
que os grandes artistas do mundo da música são Michel Teló, Gusttavo Lima e
mais umas 200 duplas sertanejas que vendem muito hoje, mas que daqui dois anos
ninguém mais se lembrará. Com os gostos das pessoas manipulados 24 horas por
dia pela TV, rádios e internet, não resta muito que a Educação e outros órgãos
educacionais e culturais possam fazer para reverter esse lamentável quadro.
Chega-se ao ponto em que uma prefeitura, ao aplicar
concurso público, apresente questões sobre Michel Teló, novelas e até certas
curiosidades pouco comuns sobre futebol. Então é pra isso que as pessoas
frequentam os bancos escolares? Será que saber sobre artistas descartáveis e
novelas cujas estórias já se repetiram à exaustão irá fazer de mim um
profissional melhor ou um ser humano mais justo e digno?! Onde ficam os
conhecimentos acumulados durante toda a história humana, as grandes descobertas,
os pensadores e gênios que ajudaram a transformar o mundo e fizeram com que
hoje possamos ter uma vida melhor?
Onde ficam as grandes obras da literatura, do cinema,
das artes plásticas, da escultura e da música? Talvez perdidas, esquecidas,
empoeiradas em algum museu, biblioteca ou exposição, esperando para serem
descobertas e reconhecidas. Enquanto o povo emburrece e sofre tendo que
sobreviver com 100 ou 200 reais ao mês, os “artistas do momento” postam em seu Facebook fotos ao
lado de carros que custam mais de 1 milhão de reais. Satisfeitos e com um
enorme sorriso no rosto, comentamos que “ele merece”. Há muito tempo, bem se
diz que o Brasil é um grande circo, onde habitam 200 milhões de palhaços. Mais
do que isso: somos o país do futuro, o país que (nunca) se desenvolverá.
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