quarta-feira, 7 de março de 2012

Ensino Médio Politécnico: uma reflexão necessária



Faz doze anos que estou no magistério. Durante esse tempo, participei de vários cursos de formação, fiz minha especialização e pude testemunhar um bom número de propostas que viriam supostamente mudar a Educação para melhor. Os diversos problemas enfrentados pelos professores no cotidiano da sala de aula, com suas quase que infinitas variáveis, seriam resolvidos por meio do estudo de teorias e pela mudança das práticas pedagógicas. Sempre se falou que o processo levaria algum tempo, porém atingiríamos os resultados esperados.
Atarefados, estressados, cansados e pessimistas com tantas tentativas antes frustradas, os professores em geral recebem bem as novas propostas, pois acreditar nelas funciona acima de tudo como uma espécie de auto-ajuda, motivando e nos impulsionando a superar os obstáculos e seguir em frente de cabeça erguida. Somos levados a pensar que o fracasso de ontem pode se converter no sucesso de amanhã. E assim continuamos este trabalho tão sublime e ao mesmo tempo tão desafiador que é formar os jovens que serão a sociedade de amanhã, instrumentalizando-os para que tenham uma vida feliz num mundo cada vez mais competitivo.
No final do ano passado, mais uma vez nos foi apresentada uma nova proposta de mudança. O chamado Ensino Médio Politécnico surgia no horizonte como uma alternativa de superação deste modelo falido de ensino em que a escola se acha sufocada. Na escola de hoje, tal como há 200 anos, o professor transmite um saber engessado, fora de contexto e encaixotado em disciplinas separadas, como se a vida fosse assim, com os acontecimentos se sucedendo de forma organizada e bonitinha, como numa linha de montagem. Viver é complicado. Viver, muitas vezes significa administrar o caos. É preciso que se tenha a capacidade de resolver não um problema de cada vez, mas muitos ao mesmo tempo. Por isso, a escola precisa integrar saberes, misturar conceitos e multiplicar habilidades. Ao professor hoje não basta conhecer bem a sua disciplina. É preciso que conheça um pouco de todas, que tenha essa capacidade de opinar sobre assuntos os mais diversos e que o faça com propriedade.
A proposta do Ensino Médio Politécnico, tal como aconteceu com as Lições do Rio Grande, prega tudo isso. É um referencial teórico e metodológico razoavelmente bem organizado, que visa integrar as áreas do conhecimento e assim proporcionar uma formação mais condizente com a realidade atual. Durante os encontros regionais dos quais participei, uma série de inovações nos foi proposta, tais como aulas acontecendo em turno oposto, novas disciplinas agregadas ao currículo escolar e horas disponíveis para que os professores pudessem melhor preparar as suas aulas. Além disso, um professor de cada área atuaria como coordenador, integrando as áreas do conhecimento e contribuindo para a elaboração e execução de projetos interdisciplinares.
Pouco mais de duas semanas após o início das aulas, nada de turno oposto, nada mais de professor coordenador nem da disciplina de Linguagens e Tecnologias Aplicadas, que supostamente forneceria o suporte teórico para que os seminários e projetos funcionassem adequadamente, e isso para não falar aqui de outros entraves. Fica a lição: por mais que se tenha boas ideias, projetos maravilhosos e necessidade de mudança, é preciso planejamento, formação adequada, investimento em infra estrutura e valorização profissional. Na atual conjuntura em que o professor se acha inserido, não é desta forma que as coisas funcionam. Com a contínua desvalorização do professor tanto financeiramente quanto profissionalmente, implantar quaisquer mudanças se torna inviável. Se não há recursos sequer para que se pague o Piso Nacional do Magistério, como será possível a implantação de projetos de mudança tão impactantes? Como ter coordenadores de área e professores para atuar em salas de informática e bibliotecas, se nem para ministrar aulas se tem? Em muitas escolas faltam professores para uma ou mais disciplinas. Os alunos estão sem estas aulas.
Existe uma grande distância entre o que se propõe e o que efetivamente é possível implementar. Considero-me muito otimista em relação às novas propostas que surgem e às mudanças tão necessárias, porém vejo que somente otimismo ou idealismo não são suficientes. Se não houver comprometimento, coerência e investimentos adequados, o Ensino Médio Politécnico poderá cair no esquecimento, repetindo o que já ocorreu com outras tentativas de mudança e melhorias. Iniciei este ano de 2012 com grande empolgação ao entrar nas salas de aula e receber os alunos, hoje, porém, as perspectivas não são boas. Tomara que eu esteja errado.

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