Faz doze anos que estou no magistério. Durante esse
tempo, participei de vários cursos de formação, fiz minha especialização e pude
testemunhar um bom número de propostas que viriam supostamente mudar a Educação
para melhor. Os diversos problemas enfrentados pelos professores no cotidiano
da sala de aula, com suas quase que infinitas variáveis, seriam resolvidos por
meio do estudo de teorias e pela mudança das práticas pedagógicas. Sempre se
falou que o processo levaria algum tempo, porém atingiríamos os resultados
esperados.
Atarefados, estressados, cansados e pessimistas com
tantas tentativas antes frustradas, os professores em geral recebem bem as
novas propostas, pois acreditar nelas funciona acima de tudo como uma espécie
de auto-ajuda, motivando e nos impulsionando a superar os obstáculos e seguir
em frente de cabeça erguida. Somos levados a pensar que o fracasso de ontem
pode se converter no sucesso de amanhã. E assim continuamos este trabalho tão
sublime e ao mesmo tempo tão desafiador que é formar os jovens que serão a
sociedade de amanhã, instrumentalizando-os para que tenham uma vida feliz num
mundo cada vez mais competitivo.
No final do ano passado, mais uma vez nos foi
apresentada uma nova proposta de mudança. O chamado Ensino Médio Politécnico
surgia no horizonte como uma alternativa de superação deste modelo falido de
ensino em que a escola se acha sufocada. Na escola de hoje, tal como há 200
anos, o professor transmite um saber engessado, fora de contexto e encaixotado
em disciplinas separadas, como se a vida fosse assim, com os acontecimentos se
sucedendo de forma organizada e bonitinha, como numa linha de montagem. Viver é
complicado. Viver, muitas vezes significa administrar o caos. É preciso que se
tenha a capacidade de resolver não um problema de cada vez, mas muitos ao mesmo
tempo. Por isso, a escola precisa integrar saberes, misturar conceitos e
multiplicar habilidades. Ao professor hoje não basta conhecer bem a sua
disciplina. É preciso que conheça um pouco de todas, que tenha essa capacidade
de opinar sobre assuntos os mais diversos e que o faça com propriedade.
A proposta do Ensino Médio Politécnico, tal como
aconteceu com as Lições do Rio Grande, prega tudo isso. É um referencial
teórico e metodológico razoavelmente bem organizado, que visa integrar as áreas
do conhecimento e assim proporcionar uma formação mais condizente com a
realidade atual. Durante os encontros regionais dos quais participei, uma série
de inovações nos foi proposta, tais como aulas acontecendo em turno oposto,
novas disciplinas agregadas ao currículo escolar e horas disponíveis para que
os professores pudessem melhor preparar as suas aulas. Além disso, um professor
de cada área atuaria como coordenador, integrando as áreas do conhecimento e
contribuindo para a elaboração e execução de projetos interdisciplinares.
Pouco mais de duas semanas após o início das aulas,
nada de turno oposto, nada mais de professor coordenador nem da disciplina de
Linguagens e Tecnologias Aplicadas, que supostamente forneceria o suporte
teórico para que os seminários e projetos funcionassem adequadamente, e isso
para não falar aqui de outros entraves. Fica a lição: por mais que se tenha
boas ideias, projetos maravilhosos e necessidade de mudança, é preciso
planejamento, formação adequada, investimento em infra estrutura e valorização
profissional. Na atual conjuntura em que o professor se acha inserido, não é
desta forma que as coisas funcionam. Com a contínua desvalorização do professor
tanto financeiramente quanto profissionalmente, implantar quaisquer mudanças se
torna inviável. Se não há recursos sequer para que se pague o Piso Nacional do
Magistério, como será possível a implantação de projetos de mudança tão
impactantes? Como ter coordenadores de área e professores para atuar em salas
de informática e bibliotecas, se nem para ministrar aulas se tem? Em muitas
escolas faltam professores para uma ou mais disciplinas. Os alunos estão sem
estas aulas.
Existe uma grande distância entre o que se propõe e o
que efetivamente é possível implementar. Considero-me muito otimista em relação
às novas propostas que surgem e às mudanças tão necessárias, porém vejo que
somente otimismo ou idealismo não são suficientes. Se não houver
comprometimento, coerência e investimentos adequados, o Ensino Médio
Politécnico poderá cair no esquecimento, repetindo o que já ocorreu com outras
tentativas de mudança e melhorias. Iniciei este ano de 2012 com grande
empolgação ao entrar nas salas de aula e receber os alunos, hoje, porém, as
perspectivas não são boas. Tomara que eu esteja errado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário