O município de
Ilhéus, na Bahia, aprovou uma lei que aconselha alunos e professores da rede
municipal de ensino a rezarem diariamente antes do início das aulas. Por
incrível que pareça, a proposta parece ter sido bem aceita pela comunidade
escolar. De acordo com alguns professores e pais de alunos, as práticas
religiosas orientam no sentido de educar para a moral, os bons costumes e a boa
conduta do ser humano. Independentemente de nossas crenças pessoais, não existe
nenhuma evidência de que seja este o caso.
Nos muitos
debates e discussões que tenho presenciado e participado, é bastante recorrente
a ideia de que aquele que não segue nenhuma religião é uma pessoa má ou que não
tem limites. Para aquele que não crê, tudo é permitido, dizem. Tais afirmações evidenciam
sentimentos preconceituosos em relação aos ateus, pois trazem atrelada a noção
de que aqueles que crêem seriam de alguma forma superiores aos demais.
Sabemos que o ser humano é capaz de praticar
o bem ou o mal, dependendo das circunstâncias. O fato de ir à missa
seguidamente ou de rezar com frequência, não impede que pratiquemos atos
violentos ou mesmo criminosos, pois se assim fosse, em todos os presídios do
país e do mundo só haveria ateus.
Embora existam
muitos debates sobre a natureza humana, acredito de verdade que somos
naturalmente bons. Acredito mesmo nisso. Imagine que você não torça por nenhum
time de futebol. Um dia você liga a televisão num canal qualquer e está
passando um jogo. Uma das equipes está perdendo por 5 a 0. Mesmo sem time do
coração, para quem você se sente inclinado a torcer? Isso mesmo, você logo
deseja que o time perdedor se recupere e que talvez até saia como vencedor. Por
que isso? Porque é natural que sintamos essa empatia, que desejemos a vitória
do mais fraco. Essa é uma de nossas principais características como seres
humanos.
Quando alguém
bate à nossa porta e nos pede um prato de comida ou um pedaço de pão, sentimos
a necessidade de ajudar. Sentimos compaixão pelos nossos semelhantes, por outro
ser humano que esteja passando por alguma dificuldade e queremos ajudar. Temos
essa tendência natural para proteger, para dar amparo, para sermos bons.
Qualquer pessoa que não tenha nenhum distúrbio de personalidade, nenhum problema
de ordem psicológica, é natural que se comporte dessa forma, independente de
ser essa pessoa um católico, um evangélico, um umbandista, um espírita ou um
ateu. Não são as crenças religiosas ou a falta delas que irão determinar o
caráter de alguém.
Trata-se de
algo muito mais biológico, muito mais primitivo. O sentimento de empatia entre
os seres humanos e dos seres humanos em relação aos outros animais, foi
decisivo para que tivéssemos sucesso como espécie. Foi o que permitiu que
evoluíssemos. Agimos dessa forma simplesmente porque isso é vantajoso para nós
e para os demais, pois supõe que se viermos a passar por alguma dificuldade de
qualquer natureza, também receberemos ajuda. Trata-se de uma estratégia de
sobrevivência muito útil que desenvolvemos e que provavelmente levou muitos
milhares de anos para se aperfeiçoar, através da observação do comportamento,
da experimentação, dos muitos erros e de uns poucos acertos.
Dentro de cada um de nós, o bem e mal coexistem de
igual para igual. O normal, o natural, é que ajamos de modo a preservar nossa
existência e a do outro e que sigamos a conduta do bem, porém dependendo da
ocasião, podemos nos comportar de forma imprevisível, violando os limites do
que se considera normal e desejável. Dentro desta perspectiva, as crenças
religiosas ou a ausência delas em nada influencia no nosso comportamento, seja
para o bem, seja para o mal.
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