quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Somos bons, às vezes maus, mas sempre humanos



O município de Ilhéus, na Bahia, aprovou uma lei que aconselha alunos e professores da rede municipal de ensino a rezarem diariamente antes do início das aulas. Por incrível que pareça, a proposta parece ter sido bem aceita pela comunidade escolar. De acordo com alguns professores e pais de alunos, as práticas religiosas orientam no sentido de educar para a moral, os bons costumes e a boa conduta do ser humano. Independentemente de nossas crenças pessoais, não existe nenhuma evidência de que seja este o caso.
Nos muitos debates e discussões que tenho presenciado e participado, é bastante recorrente a ideia de que aquele que não segue nenhuma religião é uma pessoa má ou que não tem limites. Para aquele que não crê, tudo é permitido, dizem. Tais afirmações evidenciam sentimentos preconceituosos em relação aos ateus, pois trazem atrelada a noção de que aqueles que crêem seriam de alguma forma superiores aos demais.
        Sabemos que o ser humano é capaz de praticar o bem ou o mal, dependendo das circunstâncias. O fato de ir à missa seguidamente ou de rezar com frequência, não impede que pratiquemos atos violentos ou mesmo criminosos, pois se assim fosse, em todos os presídios do país e do mundo só haveria ateus.
Embora existam muitos debates sobre a natureza humana, acredito de verdade que somos naturalmente bons. Acredito mesmo nisso. Imagine que você não torça por nenhum time de futebol. Um dia você liga a televisão num canal qualquer e está passando um jogo. Uma das equipes está perdendo por 5 a 0. Mesmo sem time do coração, para quem você se sente inclinado a torcer? Isso mesmo, você logo deseja que o time perdedor se recupere e que talvez até saia como vencedor. Por que isso? Porque é natural que sintamos essa empatia, que desejemos a vitória do mais fraco. Essa é uma de nossas principais características como seres humanos.
Quando alguém bate à nossa porta e nos pede um prato de comida ou um pedaço de pão, sentimos a necessidade de ajudar. Sentimos compaixão pelos nossos semelhantes, por outro ser humano que esteja passando por alguma dificuldade e queremos ajudar. Temos essa tendência natural para proteger, para dar amparo, para sermos bons. Qualquer pessoa que não tenha nenhum distúrbio de personalidade, nenhum problema de ordem psicológica, é natural que se comporte dessa forma, independente de ser essa pessoa um católico, um evangélico, um umbandista, um espírita ou um ateu. Não são as crenças religiosas ou a falta delas que irão determinar o caráter de alguém.
Trata-se de algo muito mais biológico, muito mais primitivo. O sentimento de empatia entre os seres humanos e dos seres humanos em relação aos outros animais, foi decisivo para que tivéssemos sucesso como espécie. Foi o que permitiu que evoluíssemos. Agimos dessa forma simplesmente porque isso é vantajoso para nós e para os demais, pois supõe que se viermos a passar por alguma dificuldade de qualquer natureza, também receberemos ajuda. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência muito útil que desenvolvemos e que provavelmente levou muitos milhares de anos para se aperfeiçoar, através da observação do comportamento, da experimentação, dos muitos erros e de uns poucos acertos.
Dentro de cada um de nós, o bem e mal coexistem de igual para igual. O normal, o natural, é que ajamos de modo a preservar nossa existência e a do outro e que sigamos a conduta do bem, porém dependendo da ocasião, podemos nos comportar de forma imprevisível, violando os limites do que se considera normal e desejável. Dentro desta perspectiva, as crenças religiosas ou a ausência delas em nada influencia no nosso comportamento, seja para o bem, seja para o mal.

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