quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O barulho nosso de cada dia

Na década de 80 o sonho de todo adolescente ou jovem era ter um walkman ou discman. Esses dois aparelhos eram a coisa mais tecnológica e futurista que se podia imaginar. Rodando as antigas fitas K7 ou os então moderníssimos CDs, de repente todos descobriram que era possível viver uma vida com trilha sonora. O problema eram as pilhas que se descarregavam rápido e custavam caro. Além disso, a quantidade de músicas que se tinha à disposição era limitada a uma ou duas dezenas, a não ser que se carregasse um montão de fitas ou CDs, o que também não era nada prático.
Hoje, com a invenção das tecnologias digitais, tudo ficou muito fácil. Aparelhos cada vez menores reproduzem uma quantidade cada vez maior de música. Tanta comodidade também deu origem a algumas pragas modernas, como os DJs da estrada, DJs de ônibus e até DJs de sala de aula. Indiferentes a tudo e a todos, eles estão em todos os lugares, infernizando as pessoas com suas músicas sempre no volume máximo. Usar um fone de ouvido para ouvir música deixou de ser opção. É preciso mostrar pro mundo inteiro o meu gosto musical, pouco importando se os outros que estão ali perto também gostam ou não.
 Tem gente que às vezes está mexendo no celular ou no mp3 player e nem está ouvindo nada, daí quando percebe alguém se aproximando, coloca logo um funk ou sertanejo a toda, só pra irritar mesmo. Causa prazer tirar o sossego das pessoas. Sem contar os que compram um carro e ocupam todo o espaço destinado ao porta malas com imensos equipamentos de som. Verdadeiras boates sobre rodas, adoram passar com o volume no máximo, não importando qual seja a hora do dia ou da noite. Pra que isso?! Parece uma tentativa absurda de impor aos ouvidos alheios os meus gostos musicais. Se bem que na maioria dos casos, nem se pode chamar de música.
E se na rua incomoda, imagine dentro dos ônibus ou metrô. Ao final do dia, quando todos ali estão exaustos e não vêem a hora de chegar em casa e poder relaxar, de repente alguém puxa um celular e põe pra tocar algum pagode ou funk. É pra deixar qualquer pessoa pra lá de indignada mesmo. Não é a toa que em Porto Alegre, já no final do ano passado, a Prefeitura aprovou uma lei que prevê a aplicação de multas nos chamados DJs de ônibus ou metrô, visando punir e ao mesmo tempo conscientizar a população sobre os malefícios e falta de respeito desta prática tão deseducada.
Com tanta poluição sonora por todos os lados, não é preciso que se cometam abusos desta natureza. Já bastam os caminhões que passam urrando de madrugada, os bêbados que ficam fazendo festa e gritaria nos bares, a briga do casal que resolve discutir a relação às 3 e meia da matina, os cachorros que uivam alegremente enquanto a gente, já meio desesperado, vê as horas passando e o sono precioso indo embora.
 É até engraçado: anos atrás não se tinha recursos para ouvir música sem precisar incomodar os outros. Agora, mesmo dispondo de bons fones de ouvido (todo aparelho celular novo vem com um) as pessoas fazem questão de dispensar o seu uso, para assim poder fazer propaganda dos seus (maus) gostos musicais.

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