quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O caderno esquecido de Fannie Bryan

Fannie Bryan nasceu em 1889, numa comunidade pobre do interior da Inglaterra, nas proximidades da Floresta Dean. Agora, 40 anos após sua morte, foi encontrado um dos primeiros cadernos usados por ela na escola. O que esse caderno contém é impressionante e ensina muito a todos nós. Aos nove anos, Fannie sabia ler com fluência, escrevia em belíssima letra cursiva e realizava cálculos matemáticos que seriam um desafio para as crianças de 13 anos de hoje. Naquela época, ao contrário do que muitos possam alegar, as classes eram bem grandes. A turma onde a menina estudava quando dos seus nove ou dez anos tinha entre 40 e 50 alunos, porém havia um grande diferencial: a disciplina era absoluta. Se caísse um lápis, todos olhavam naquela direção, pois o barulho era bem alto. Nas páginas amarelecidas pelo tempo, pode-se ver claramente as muitas anotações da garotinha. Grandes quantidades de tarefas para serem feitas em casa, extensas listas de palavras que deveriam ser memorizadas, bem como o seu significado e, pasmem, títulos de livros volumosos esperando para serem lidos. Os escritos da menina são elegantes, o vocabulário é rico e variado. Na disciplina de Geografia, por exemplo, ela escreveu com desenvoltura sobre países como a Suíça, a Bélgica ou a Polônia. Percebe-se nitidamente o quanto devia ser fascinante ir à escola. Apesar de não haver nenhuma tecnologia por perto, as mentes das crianças eram desafiadas e colocadas para superar seus limites. Escrever muito nunca parecia chato ou penoso para as crianças. Eram outros tempos e a Escola tinha um significado muito diferente para a sociedade. Ninguém desejava que as tarefas fossem fáceis demais ou que o professor fosse bonzinho. O que se desejava eram resultados. Todos queriam ver aprendizado e crescimento intelectual. Fannie não era uma aluna excepcional para a sua época nem vinha de uma família de gênios. A diferença em relação aos dias atuais é que ela era desafiada para além de seus limites. A escola tinha essa postura. Os pais de Fannie e de seus colegas apoiavam e ajudavam a cobrar as tarefas escolares. Havia um senso de dever e um sentimento de que a Escola podia transformar a vida de uma pessoa para melhor. Todos sabiam disso, inclusive as crianças. Hoje, o cenário na maioria dos lugares pelo mundo, é assustador. De acordo com estudiosos do assunto, uma boa parte dos pais nem sequer interage com seus filhos em casa. Eles crescem sozinhos e desassistidos. Para muitos, criar um filho atualmente se resume a dar comida e roupas, nada mais. Crianças de cinco anos chegam à escola ainda usando fraldas. As professoras das séries iniciais relatam que muitos não conseguem comer usando garfo e faca porque nunca foram ensinados. A falta de comunicação em casa prejudica a fala, que em muitos casos é desarticulada, com problemas de dicção. Na maioria dos lares se vê aparelhos de TV enormes, consoles de videogames de última geração e crianças que nem aprenderam a andar ainda já penduradas no celular. Nenhum livro por perto, nenhum caderno de desenho, nenhum giz de cera. As fases naturais do aprendizado infantil, quando éramos apresentados aos contos de fadas, às histórias em quadrinhos, aos primeiros livros e rabiscos com os lápis de cor não existem mais. As crianças crescem sabendo como abrir um programa no computador, mas não sabem como abrir um livro. Houve o caso de um menino que, ao convidado a folhear um livro, tentou abri-lo pela lombada. Nunca tinha visto um objeto como aquele. Em decorrência de tudo isso, é fácil perceber porque a escola se parece tão chata e desinteressante. Claro, em casa ninguém nunca falou sobre ela ou sua importância para a vida. Os primeiros anos da infância, sem nenhuma responsabilidade e senso de deveres, com crianças que ficam até de madrugada em frente ao computador, estão formando jovens com muita dificuldade de concentração, pouquíssimo conhecimento e tendência para serem violentos. As lições de vida grandiosas que Fannie Bryan aprendeu ainda estão lá, guardadas em seu caderninho. Da mesma forma que ela, também nós podemos aprender muita coisa.

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