sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Jogaram os melhores amigos fora e foram à praia
A cada ano torna-se mais comum no país o fenômeno do abandono de animais durante este período de férias de verão. Nas rodovias que dão acesso ao litoral a cena se repete diariamente: cães e gatos são vistos perambulando sem rumo, deixados para trás como se fossem um objeto, uma coisa, por gente que eles imaginavam ser sua família. É espantoso. Quanto mais avançamos tecnologicamente, mais nos desumanizamos. Perdemos nossa capacidade de raciocinar moralmente e de avaliar as consequências de nossos atos.
Quem pratica tais atos de crueldade parece ignorar que os animais são seres sencientes que, como nós, sentem dor, fome, frio, tristeza ou alegria. Não se trata de especulação, mas de fatos que vem sendo ratificados a cada dia pela ciência. Como no Brasil não se pune nem quem pratica atrocidades contra outro ser humano, imagine então a situação dos pobres animais. A certeza da impunidade facilita estas práticas abomináveis. Se hoje a família se programou para passar umas duas semanas na praia, basta largar o animal de estimação a sua própria sorte e pronto. Quando retornarem, se as crianças começarem a chorar e reclamar, é só comprar outro, como se compra uma latinha de refrigerante, uma caixa de fósforos. Mais adiante, se preciso for, joga-se fora novamente.
Durante o tempo que levamos para chegar até nosso estágio atual, provavelmente por uma questão de sobrevivência, desenvolvemos como uma de nossas principais características a supervalorização de nossos semelhantes humanos, em detrimento dos outros animais. Pelo simples fato de pertencer à espécie humana, gozamos de privilégio sobre todos os outros seres vivos. Numa situação de risco, por exemplo, a vida humana se sobrepõe a todas as outras formas de vida, sendo sempre salva em primeiro lugar. Estamos tão acostumados com essa ideia que muito poucos de nós conseguem entender o quanto ela é absurda. Justamente por termos um cérebro privilegiado, com maior capacidade de raciocínio, não deveríamos agir como tutores, como protetores das outras espécies animais?
Recentemente, durante as cheias no estado de Minas Gerais, causou-me profunda emoção o episódio de uma senhora que perdeu a vida tentando salvar seus cachorros da morte pela inundação iminente. São poucas as pessoas que tem essa consciência da proteção e da necessidade de cuidar destes seres menos favorecidos, que tanto precisam de nós.
As pessoas precisam entender que adotar ou comprar um animal de estimação é muito diferente de comprar um bicho de pelúcia. O animal precisará ser cuidado permanentemente, tendo suas necessidades biológicas e afetivas atendidas, por toda a vida. Dependendo do bichinho, isso pode representar dois, dez ou vinte anos. Quando ainda é um filhote, muitos pais e mães pensam em dar de presente aos seus filhos, pois o animal é “lindinho” e “fofinho”, porém depois de adulto ele poderá não ser assim. Terá uma personalidade própria, haverá momentos em que será carinhoso e outros em que será rabugento ou que aprontará malcriações, exatamente como nós mesmos!
No entanto, deve ser visto como um membro da família, com os mesmos cuidados dispensados aos demais. Alimentação, carinho, cuidados com a higiene e saúde. No caso de uma viagem em família, existem alternativas. Se não for possível levar junto (quem ama de verdade, sempre quer levar) sempre é possível falar com um parente ou vizinho para que tomem conta. Em último caso, deve-se reservar algum dinheiro para hospedar os pets em um hotel para animais, serviço que geralmente é oferecido por pet shops ou outros locais específicos.
Nossos bichinhos esperam que cuidemos deles, que os amemos assim como eles nos amam, com seu amor incondicional. Quem abandona um animal para poder desfrutar de férias ou simplesmente porque o bichinho ficou velho e “feio”, está sobretudo ensinando às crianças normas e regras de conduta muito claras. Mais tarde, não estarão em posição de censurar seus filhos quando forem atirados em algum asilo e esquecidos, afinal eles aprenderam as lições recebidas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário