quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O vazio do conhecimento



Na semana passada as aulas acabaram e não pude deixar de ficar espantado com a reação dos alunos. É impressionante a atitude da maioria deles. Diante da notícia de que no dia seguinte não precisariam mais ir à escola, que as aulas tinham acabado, muitos se comportaram exatamente como presos ao serem libertados de suas celas. A escola, na verdade um privilégio a que milhões de brasileiros ainda não tem acesso, é vista como um pesado fardo, um castigo sem fim.
Ainda hoje tenho guardados alguns cadernos do ensino fundamental e todos os do ensino médio, bem como a maioria das provas. Todos os meus boletins escolares estão lá, desde a 1ª série. Especialmente durante o ensino médio, lembro-me muito bem de que no final do ano sempre me preocupava em guardar cada um dos cadernos, pois avaliava que precisaria retomar muitos daqueles conteúdos no próximo ano. E eu não estava errado.
Muitas vezes foi preciso folhear aqueles cadernos, refazer antigos exercícios ou relembrar como utilizar aquela fórmula da física, da matemática ou da química. Pelo menos para mim, sempre foi importante guardar de alguma forma todas aquelas informações que recebia durante as aulas. Parecia-me ser uma boa estratégia contra a perda dos conteúdos, contra o esquecimento. Hoje acontece justamente o contrário: quando as aulas acabam ao final do dia ou do ano, os alunos querem esquecer o mais rapidamente possível de tudo o que aprenderam.
O professor não é mais visto como alguém que auxilia, que dá oportunidades de crescimento, que ampara. É visto como um vilão, um monstro sem coração que só pensa em reprovar todo mundo e do qual é preciso se vingar, ainda que seja destruindo o saber que ele tentou construir. E dá-lhe cadernos despedaçados, livros rasgados, provas amassadas e atiradas na calçada da rua. Se for para mostrar desprezo pela escola e pelo professor, vale tudo. Tem gente que até planeja de no último dia de aulas fazer o possível e o impossível para infernizar seus professores. Sobram até planos para aquele colega insuportável. Um ovo podre e um pouco de farinha não são descartados.
Nessa época de tanta abundância de informação por todos os lados, as pessoas têm a falsa impressão de que não precisam armazenar mais nada em seus cérebros. Acredita-se que qualquer coisa de que venhamos a precisar, bastará clicarmos em algum portal de buscas e pronto, tudo está ali. Os trabalhos escolares nunca foram tão simples de serem realizados. Se o professor pede uma pesquisa extensa sobre a geografia do Rio Grande do Sul, por exemplo, é só fazer um apanhado das informações mais importantes e imprimir tudo. Depois faço uma capa com meu nome e está pronto. Não preciso nem mesmo ler, o professor que leia se quiser, afinal foi ele quem pediu o tal trabalho!
Em decorrência de tanta informação circulando, os trabalhos estão mais extensos, mais volumosos, e os cérebros cada vez mais vazios. Com o passar dos anos, parece que quanto mais tempo se fica na escola, menos se aprende. Mesmo com todo o empenho da escola e dos professores, muitos alunos se esforçam para mostrar o quanto são mal educados. Por mais que rasguem cadernos, livros ou provas, tudo o que conseguem é fazer mal a si mesmo. O conhecimento e o saber são impossíveis de serem destruídos.
Uma vez que o professor tenha dado a sua aula, discutido e realizado a sua avaliação, seu trabalho já rendeu frutos. Quando vejo livros e cadernos rasgados, não me sinto ofendido, como querem estes alunos. Sinto-me triste em saber que existem tantos que gostariam simplesmente de aprender a ler e que vivem pelas ruas, sem perspectivas, enquanto aqueles que possuem todas estas oportunidades e que recebem uma boa educação, se esforçam em mostrar o quanto desprezam ou odeiam tudo isso. A escola e os professores não são mágicos nem fazem milagres. O que fazem é abrir portas e mostrar caminhos.

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