Se me perguntassem qual a origem do
apego e da intimidade que sinto pelos gatos, eu não saberia dizer, o que sei,
no entanto, é que esses peludos são para mim muito mais do que simples animais.
Ao longo dos anos, pelo que consigo me lembrar, minha relação para com estes
seres especiais foi ficando mais e mais afetiva, fui percebendo neles certas
peculiaridades que até então me escapavam. Mesmo com todo esse entrosamento,
minha relação com os gatos sempre foi até onde as condições biológicas de
interação entre humanos e animais o permitiam: um afago, um abraço, um beijinho
nas bochechas fofas. Pelo menos até semana passada, ocasião em que meu gato, o
Frajola, simplesmente falou comigo.
Tendo acabado o turno de aulas às 18
horas e 10 minutos, passei na padaria para pegar alguns pães e bananas e rumei
para casa, da mesma forma rotineira como sempre faço. Até aí nada de diferente
ou especial. Entro em casa esbaforido pelo calor, pego uma garrafa de água Cristal
da Terra e desabo no sofá pronto para dar aquela relaxada. Foi precisamente
nesse momento que uma voz meio aguda e engraçada, quase como a voz de uma
criança que tenta articular suas primeiras falas, se fez ouvir: "Oi
papaizinho, como foi seu dia na escola?! Podes colocar um pouquinho de comida
pra mim, estou com tanta fome!"
Virei-me instintivamente na direção da
voz, subitamente pensando que alguém havia invadido o local, mas tudo o que vi
foi o Frajola sentado ao meu lado no sofá, me olhando com sua carinha
inquisitiva, a cauda abanando docemente para um lado e outro. Por mais absurda
que a ideia pudesse parecer, eu soube que a vozinha de criança simplesmente
pertencia a ele, não havia outra explicação. Levantei-me para oferecer-lhe a
comida que havia me pedido e, desde então temos tido as mais interessantes e
deliciosas conversas. Eu no habitual português e ele em seu "gatês".
Explico: obviamente o aparelho fonador dos felinos não lhes permite articular
sílabas e palavras como nós. O que acontece é que seus miados e ronronares
chegam diretamente ao meu cérebro como que já traduzidos em palavras e eu assim
consigo entender suas "falas".
E se antes de eu descobrir como decifrar
os miados de um gato eu já os admirava, agora os admiro muito mais. Graças a
essa nova forma de comunicação, o Frajola deixou de ser apenas um grande amigo
para ser também um conselheiro. Escuto-o com atenção falar sobre os mais
diversos assuntos e temas: da Psicologia à Filosofia, da Biologia ao
existencialismo Sartreano e aos devaneios Freudianos. Fico às vezes me
perguntando de onde teria ele, em apenas sete bem vividos anos, acumulado
tantos saberes e conhecimentos.
De acordo com o que ele tem me dito,
entre um miado e outro, o conhecimento e o saber estão em cada átomo, em cada partícula
do Universo, e os gatos, devido a sua alta sensibilidade, conseguem captar esse
conhecimento enquanto dormem, através das pontinhas de seus bigodes. É por isso
que às vezes, quando um gato está dormindo, é possível ver seus bigodes se
movendo como se estivessem levando pequenos choques elétricos, segundo ele
mesmo me explicou.
Junto com a descoberta desse canal de
comunicação com meu gato, surgiram muitas ideias e possibilidades. Ele afirma
admirar-me como ser humano e diz que gostaria muito que eu o ensinasse a tirar
mensagens dos livros (ler), da mesma forma que ele sempre me vê fazendo, e que
seria de grande alegria para ele se no futuro pudéssemos, quem sabe, escrever
um livro juntos, em parceria. Ah, como são sabidos esses peludos. No fundo no
fundo, hoje eu acho que talvez sempre tenha conseguido entender os gatos, só
faltava haver essa forma mais direta de comunicação. Agora não falta mais nada.
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