quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

"O Terror", de Dan Simmons: melhor livro de 2017

Ao longo dos anos, posso dizer que tenho uma certa bagagem de leitura, e poucas vezes me senti tão tenso e tão energizado por uma boa história quanto durante a leitura deste "O terror".
Pelo que me lembro, somente "O Senhor dos Anéis", de J. R. R. Tolkien, "Sob a redoma", de Stephen King e a obra de Edgar Allan Poe conseguiram suscitar em mim um tal grau de entusiasmo e arrebatamento durante a sua leitura.
Misturando fatos e personagens históricos, Dan Simmons se utiliza de um trabalho de narração e descrição notáveis pela verossimilhança e pelo detalhismo, para contar a trágica história da Expedição Franklin, que partiu da Inglaterra em 1845 rumo ao Polo Norte, em busca da lendária Passagem Noroeste, que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico através de uma miríade de canais labirínticos em meio ao gelo do Ártico.
Após a primeira etapa da viagem, os navios "Erebus" e "Terror" ficaram presos no gelo polar e impossibilitados de navegar durante cerca de três anos, levando 129 homens presentes nos dois navios à morte por inanição, escorbuto e outras doenças, possivelmente causadas pela comida enlatada carregada pelos navios.
Nas mais de 700 páginas, temos a narrativa intercalada do ponto de vista de um grande número de personagens, desde camareiros até fuzileiros e altos oficiais em comando, que vão, à medida que o tempo passa, descortinando seus dramas, medos e penúrias em meio às intermináveis noites naquelas vastidões geladas.
O livro possui um ritmo que vai crescendo em drama e desespero, sendo as últimas 300 páginas quase insuportáveis, pois é impossível largar a leitura sem saber o desfecho da narrativa. Dan Simmons é um grande mestre da descrição, nos brindando a todo momento com dados históricos, geográficos, náuticos e de tudo que cercava a vida a bordo de um barco explorador durante a Era Vitoriana, tudo isso sem deixar os aspectos psicológicos dos personagens de lado, os quais vão sendo aos poucos se revelando bem diante de nossos olhos, com muitas surpresas e reviravoltas.
Afora o drama de narrar sobre o que acontece com uma expedição presa no gelo durante anos, o autor narra com maestria quais os efeitos disso na mente dos marinheiros, nos mostrando as transformações que podem acontecer com qualquer ser humano quando colocado diante de situações incomuns e imprevisíveis, tendo que literalmente lutar pela sobrevivência.
Apesar da enormidade de páginas, a leitura é fluida, instrutiva e atrativa ao extremo, nos dando a certeza de estar diante de um dos melhores livros lançados no Brasil em 2017. Numa única palavra: imperdível.

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