domingo, 31 de dezembro de 2017

2018: o primeiro ano do resto de nossas vidas?



Domingo, 31 de dezembro de 2017, 9h25 da manhã. Sento-me em frente ao computador para escrever algo sobre 2017 e o que esperar de 2018 e nada parece querer sair. 2017 foi um ano difícil. Passou devagar, quase se arrastando e, ao mesmo tempo, tão rápido. Levou embora nossos sonhos (que ficaram para se realizar mais adiante, em 2018, 2019 ou 2020, quem sabe...) nos deixando com uma sensação de cansaço, de esgotamento e de muitos pontos de interrogação que só irão se transformar em pontos de exclamação no próximo ano, talvez.

Particularmente, não gostei de 2017. Não gosto de anos que terminam em números ímpares, logo, este aspecto por si só já nos traz uma pontinha de esperança para o novo ano que se iniciará dentro de poucas horas. O ano que passou nos mostrou um mundo em constante instabilidade, transformações e incertezas. No mundo do século XXI nada mais é como nos anos de 1950 ou 1980, por exemplo, em que se costumava planejar, traçar metas para os anos vindouros. Hoje, com a vida no ritmo da era digital, dos bitcoins e da virtualidade, nenhum aspecto da vida humana parece poder ser planejado. A vida segue seu rumo tocada pelos ventos do acaso: literalmente tudo pode nos acontecer, inclusive nada.

Enquanto trabalhamos, jogamos na loteria ou fazemos amor, a verdade é que o tempo passa, e com ele, envelhecemos. Os tantos projetos e planos que tínhamos lá em 2012 ou 2014, alguns se realizaram, outros acabaram esquecidos, substituídos ou simplesmente sepultados para sempre no túmulo da impossibilidade. Tivemos que dar o braço a torcer e admitir que nunca poderemos realizar algumas coisas. Mas quem sabe um dia, não é mesmo?! Afinal, costuma-se dizer que as boas ideias nunca morrem, apenas entram em hibernação, esperando o momento mais adequado para acordar e renascer.

Em 2017 o mundo me pareceu mais carregado de energia negativa, de ódio e de intolerância, muito embora as boas ações, a solidariedade e a empatia também tenham se feito presentes, contribuindo para trazer um pouco de cor a este mundo pálido e cinzento. Aqui no Brasil, enquanto a Dona Maria e o seu João acordaram todos os dias às 5 da manhã para batalhar e colocar o pão na boca dos filhos, ganhando um salário mínimo ao mês, nossos políticos dormiram em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo, um céu esverdeado por tantos e tantos dólares, cuja fonte parece ser infinita.

No ano que passou, a dignidade de cada brasileiro trabalhador e honesto foi estuprada e aviltada por um Presidente que tramou complôs e negociatas sujas nos porões do palácio, tal como as ratazanas que se amontoam nos porões escuros de um navio. A cada semana, a cada mês de um 2017 que já agonizava, vimos a nau chamada Brasil adernando e naufragando num mar infindável de lama. Entre juízes, políticos e membros de organizações paralelas, vimos um país em descompasso: cada um mandou um pouco. Onde um prendeu, o outro soltou; onde um enxergou arte, o outro viu blasfêmia. Em meio a tudo isso, as vozes agudas dos oportunistas se ergueram aos risos e guinchos, tais como as hienas raivosas, se dizendo detentores da única salvação para o país, querendo a todo custo sair do nada para se converter em "mito". Com que direito?! Com que competência?! Com que roupa?!

Nosso povo, já tão sofrido e decepcionado por anos e anos de dilapidação das divisas públicas, aceitou e chamou de "mito" quem nunca fez política, quem nunca fez boa música, e até quem nunca jogou futebol direito. Aliás, a palavra mito virou moda, é usada a todo momento e para qualquer pessoa. Quanto maior a insignificância, maior o "mito".

E se nos museus e galerias de arte a nudez foi castigada, nas redes sociais os nudes, mais uma vez, "mitaram". O brasileiro nunca se mostrou tão manipulável, tão incoerente e, vergonhosamente, tão hipócrita. A voz da razão deixou de ser ouvida, para lugar à voz do eu. 2017 foi marcado pela egolatria, a adoração do eu, da minha opinião e do que eu acredito. Quem não pensa como eu, deve ser destruído, aniquilado, exterminado.

2017 nos mostrou o lado mais sombrio do ser humano. Governantes guerrearam ferozmente. Para nossa sorte, os mísseis e as bombas deram lugar às ofensas e aos xingamentos. Escapamos ilesos, mas, até quando?! Nunca um ano foi tão marcado pelas discussões e pelas polêmicas intermináveis: do gatinho resgatado de dentro do bueiro ao policial morto numa emboscada no beco escuro; da mulher que colocou silicone nos seios e morreu por causa disso ao padeiro que colocou uvas passas no panetone de Natal, nada escapou da língua ferina e malfazeja do internauta desocupado, seja ele um nerd classe média ou um motoboy teclando de cima da laje do seu barraco, em uma comunidade qualquer.

E para 2018, o que se desenha, o que o passar das semanas e dos meses descortinará para todos nós? Coisas boas, sorrisos, alegrias; ou tristezas, decepções e lágrimas? Certamente um pouco de cada, visto que a vida é feita sempre de altos e baixos. O certo é que será mais um ano de muita efervescência e agitação. Teremos Copa do Mundo, eleições em nível Federal e Estadual, e ainda as temidas reformas em curso no país. Será com certeza um ano em que precisaremos de toda a energia, resiliência e disposição que pudermos conseguir.

Em meio a todas as adversidades que se apresentarem em nosso caminho, precisaremos encontrar formas criativas de superá-las, driblar o destino e seguir em frente um dia, uma semana, um mês de cada vez. Quando nos dermos por conta, acredite você, já será 31 de dezembro de 2018 outra vez, e estaremos novamente olhando para o horizonte sem fim do tempo e imaginando o que virá, o que nos aguardará e o que o futuro nos reservará.

No final das contas, essa sensação de incerteza quanto ao futuro, essa sensação de dúvida, de andar no fio da navalha, é uma das grandes e maiores belezas da vida humana. Será este ano que se inicia um feliz 2018?! Para que isso aconteça de fato, precisamos sobretudo, acreditar.

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