segunda-feira, 24 de abril de 2017

Os 13 porquês: uma jornada ao inferno pessoal de Hannah Baker



Como professor, e sabendo que a série "Os 13 porquês" se passa justamente no ambiente escolar, senti-me na obrigação de assisti-la. Motivado pela curiosidade e também no intuito de realizar uma análise crítica, ajeitei-me no sofá e dei o play.
À medida que os episódios vão se sucedendo, não há como ficar indiferente: se num longa metragem de duas horas tudo acaba rapidamente, aqui a sensação é o oposto. Sentimo-nos mais e mais íntimos de Hannah e daqueles que a cercam, criando-se uma forte empatia entre espectador e personagens. Composta de um elenco jovem e bonito, a série cativa mesmo, ainda que os temas tratados sejam pesados e depressivos. O dia a dia da personagem Hannah na escola Liberty é marcado por muitas inseguranças, bullying e até mesmo episódios de abuso sexual.
A favor dos realizadores da série da Netflix, pesa o fato de que trouxeram à tona um tema sempre relevante e necessário, que precisa ser discutido em casa e na escola, no sentido de conscientizar os jovens para a necessidade de buscar ajuda de profissionais naqueles momentos em que a vida parece desmoronar.
Por outro lado, a série peca ao tratar sobre o tema do suicídio de forma espetacularizada, incutindo na cabeça das pessoas que Hannah "não tinha mesmo outra saída", enquanto sabemos que isso não é verdade. Por mais difíceis que possam parecer, todos os problemas podem ser superados, quando se procura ajuda de profissionais qualificados e preparados para oferecer o devido suporte e apoio psicológico.
As cenas que retratam abusos sexuais e a própria morte de Hannah são bastante realistas e muito tristes. Tais momentos, acredito eu, poderiam ter sido amenizados pela produção que, em vez disso, optou mesmo por chocar a plateia.
Por fim, penso que a série tem seus méritos e também seus problemas. Jovens abaixo dos 16 anos, seria de todo conveniente que assistissem a série, se for este o caso, na companhia de adultos responsáveis, para que possa haver o necessário diálogo no tocante aos momentos mais tensos e polêmicos exibidos na tela. Como sabemos, a adolescência é um período por si só conturbado da vida humana, em que somos assaltados por muitas dúvidas, medos e inseguranças. É inegável que a série "Os 13 porquês", por mais bem intencionada que possa ser, pode ter efeitos deletérios em pessoas que estejam emocionalmente fragilizadas ou passando por algum tipo de problema específico. Neste sentido, como já enfatizei antes, a companhia e orientação de um adulto da família será sempre bem-vinda no sentido de ajudar o adolescente ou jovem a separar o que é realidade da simples ficção.
É sempre importante e válido lembrar que, por mais realista que possa nos parecer, e mesmo tratando de um tema super importante e necessário de ser debatido, a série e seus personagens são fictícios. A "opção" escolhida por Hannah não deve nem precisa ser escolhida por ninguém. Por mais difícil e pesada que a vida possa parecer, há sempre uma saída. Viver é uma dádiva, uma oportunidade única que nos é dada. Se preciso for, devemos sim procurar ajuda, nos abrir, contar nossos problemas, nossas dores e seguir em frente, afinal, como diz o sábio ditado: o tempo se encarrega de curar todas as feridas.

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