quinta-feira, 2 de julho de 2015

Decadente mundo novo



Há vinte anos acreditava-se que a internet e a crescente evolução da tecnologia da informação viriam revolucionar a Educação em nosso país, permitindo o acesso praticamente ilimitado à informação e introduzindo novas metodologias de ensino. A realidade que temos hoje, no entanto, decepciona.
A multiplicidade de dispositivos com acesso à internet, ao invés de contribuir com a aprendizagem, facilitando e estimulando os estudos, acaba por desviar cada vez mais a atenção, tirando totalmente o foco e a habilidade humana da concentração. Quaisquer estudos ou pesquisas são realizados de forma mecânica e superficial, não há reflexão nem aprofundamento em relação ao objeto de estudo. A maior realização da tecnologia é nos deixar cada vez mais preguiçosos, negligentes e irresponsáveis.
Em maior ou menor grau, todas as faixas etárias sofrem o impacto da overdose digital, porém entre os adolescentes a sedução exercida é muito maior, fazendo-os perder a capacidade de distinguir entre o prazeroso e o necessário, entre o lazer e o dever. A oferta de jogos, aplicativos e redes sociais é tão vasta e tão sedutora que outras responsabilidades, como estudar, sair com os amigos e até mesmo tomar banho acabam ficando em segundo plano.
O tempo que algumas pessoas perdem com lazer digital inútil é assombroso: chegam a passar até dezesseis horas por dia conectados, só saem o tempo suficiente para dormir, isso quando não invadem também a madrugada. A partir do momento em que se estabelece essa rotina viciosa, nada além dela proporciona prazer ou é realizado com esmero. Todos os compromissos são considerados desnecessários, pesados e difíceis, um verdadeiro tormento. As aulas são sempre classificadas como chatas, pouco importa como o professor as ministre e que conteúdos estejam sendo oferecidos naquele momento. Criou-se a ideia - falsa - de que para que ocorra aprendizado, a aula precisa ser "divertida".
Lembro-me muito bem dos anos em que cursei o Ensino Médio. Sempre estudei por considerar a escola como uma instituição que poderia me proporcionar um futuro melhor, com melhor qualidade de vida e oportunidades melhores do que meus pais tiveram, por exemplo. Não o fazia por ser prazeroso e nem é esse o propósito da escola. Lazer se obtém indo ao cinema, saindo com amigos ou simplesmente vendo um filme. A Escola é o espaço do aprendizado, da busca por uma carreira profissional, da sistematização de saberes e de conhecimentos para a vida.
A maioria dos estudantes que conheço considera, ironicamente, a Escola e a sala de aula como sinônimos de prisão, porém não conseguem enxergar o quanto estão presos e escravizados pelo vício digital, que em nada irá contribuir para a sua formação. Num futuro próximo, quando tiverem de assumir o controle de suas vidas, gerenciando um lar e pagando suas próprias contas descobrirão, talvez, que a sedução das telas coloridas de agora não passou de uma enorme perda de tempo, um tempo que poderia ter sido investido em atividades muito melhores.

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