Há vinte anos acreditava-se que a
internet e a crescente evolução da tecnologia da informação viriam revolucionar
a Educação em nosso país, permitindo o acesso praticamente ilimitado à
informação e introduzindo novas metodologias de ensino. A realidade que temos
hoje, no entanto, decepciona.
A multiplicidade de dispositivos com
acesso à internet, ao invés de contribuir com a aprendizagem, facilitando e
estimulando os estudos, acaba por desviar cada vez mais a atenção, tirando
totalmente o foco e a habilidade humana da concentração. Quaisquer estudos ou
pesquisas são realizados de forma mecânica e superficial, não há reflexão nem
aprofundamento em relação ao objeto de estudo. A maior realização da tecnologia
é nos deixar cada vez mais preguiçosos, negligentes e irresponsáveis.
Em maior ou menor grau, todas as faixas
etárias sofrem o impacto da overdose digital, porém entre os adolescentes a
sedução exercida é muito maior, fazendo-os perder a capacidade de distinguir
entre o prazeroso e o necessário, entre o lazer e o dever. A oferta de jogos,
aplicativos e redes sociais é tão vasta e tão sedutora que outras
responsabilidades, como estudar, sair com os amigos e até mesmo tomar banho
acabam ficando em segundo plano.
O tempo que algumas pessoas perdem com
lazer digital inútil é assombroso: chegam a passar até dezesseis horas por dia
conectados, só saem o tempo suficiente para dormir, isso quando não invadem
também a madrugada. A partir do momento em que se estabelece essa rotina
viciosa, nada além dela proporciona prazer ou é realizado com esmero. Todos os
compromissos são considerados desnecessários, pesados e difíceis, um verdadeiro
tormento. As aulas são sempre classificadas como chatas, pouco importa como o
professor as ministre e que conteúdos estejam sendo oferecidos naquele momento.
Criou-se a ideia - falsa - de que para que ocorra aprendizado, a aula precisa
ser "divertida".
Lembro-me muito bem dos anos em que
cursei o Ensino Médio. Sempre estudei por considerar a escola como uma instituição
que poderia me proporcionar um futuro melhor, com melhor qualidade de vida e
oportunidades melhores do que meus pais tiveram, por exemplo. Não o fazia por
ser prazeroso e nem é esse o propósito da escola. Lazer se obtém indo ao
cinema, saindo com amigos ou simplesmente vendo um filme. A Escola é o espaço
do aprendizado, da busca por uma carreira profissional, da sistematização de
saberes e de conhecimentos para a vida.
A maioria dos estudantes que conheço
considera, ironicamente, a Escola e a sala de aula como sinônimos de prisão,
porém não conseguem enxergar o quanto estão presos e escravizados pelo vício
digital, que em nada irá contribuir para a sua formação. Num futuro próximo,
quando tiverem de assumir o controle de suas vidas, gerenciando um lar e
pagando suas próprias contas descobrirão, talvez, que a sedução das telas
coloridas de agora não passou de uma enorme perda de tempo, um tempo que
poderia ter sido investido em atividades muito melhores.
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