Esta semana causou grande alvoroço a citação da
funkeira Valesca Popozuda em uma questão de prova de Filosofia para uma turma
de 3º série do Ensino Médio, no Distrito Federal. Classificada pelo professor
que elaborou o teste como "grande pensadora contemporânea", a musa do
funk carioca foi a base para uma das perguntas da prova, que nem mesmo serviu
para que os alunos pudessem pensar sobre um problema, uma vez que ficou
limitada à decoreba da letra de uma das músicas da artista.
Seja qual tenha sido a intenção do referido
professor, o fato ilustra muito bem a manjada, porém verdadeira, constatação de
que a Educação no Brasil agoniza, e isso já há décadas. Acontecimentos bizarros
como a prova em questão ou outros tantos que vemos acontecendo diariamente nas
salas de aula pelo país afora nada mais são que o reflexo da destrutiva
concepção de Paulo Freire sobre a Educação, pedagogia esta que vem sendo
praticada há cerca de meio século em nosso país.
Pensada originalmente como um espaço onde os
estudantes pudessem ter acesso ao saber acumulado pela humanidade e à cultura
erudita, a escola, a partir da visão freiriana, passou por uma espécie de inversão
de papéis: neste contexto, o aluno deixa de ser o aprendiz e passa ele também a
ser aquele que professa, que ensina alguma coisa, na medida em que o assim
chamado "saber popular" deva ser trazido para a sala de aula e
compartilhado por todos, o que deu origem à famosa frase de Freire,
"ninguém educa ninguém".
A meu ver, esta ideia do "tudo pode",
"tudo é válido quando há boas intenções" de certa forma desmontou a
noção de que no espaço da escola é preciso sim haver um professor, um mestre
que orienta e ensina e um aluno que aprende, que exercita, que sistematiza e
isso nada tem a ver com dominação de uma classe opressora e sim com a
necessidade de existir um direcionamento, uma orientação e objetivos mais ou
menos claros de onde se pretende chegar e quais conhecimentos se quer
privilegiar.
Isto posto, não há preconceito de qualquer espécie
quando se propõe que o tipo de saber disseminado nas letras das músicas de
Valesca não deva ser trazido para dentro da escola, é simplesmente uma questão
de selecionar, priorizando aquilo que possa ser relevante e útil para o futuro
de alguém, o que obviamente não é o caso.
Ao contrário do que muitos possam pensar, não há
nada de inovador ou engrandecedor no episódio da tal prova de Filosofia.
Ninguém saiu ganhando nada, nem o professor e muito menos os alunos, que em
nada cresceram como indivíduos ao serem convidados a refletir sobre algo tão
vazio e banal. E se, como dissemos no início, a Educação no Brasil agoniza,
talvez depois deste episódio da pensadora Popozuda, nos reste desejar que
descanse em paz.
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