Está mais do que na hora de
admitirmos: o Natal é chato pra caramba! A começar pelo fato de que todos,
todos os anos por essa época é sempre a mesma coisa. Decoração natalina cafona,
luzinhas piscando por toda parte, o comércio ávido por dinheiro, as crianças
todas sorridentes esperando Papai Noel. Mal sabem elas que o velhote gorducho e
decadente está mais interessado em faturar uma grana, fazendo publicidade para
a Coca-Cola, com aquela sua roupa vermelho e branca. Velhote capitalista e
ganancioso, o Papai Noel passa o ano todo maquinando sobre qual a melhor forma
de tirar o suado dinheirinho do nosso bolso. Ele é bom nisso. Sempre consegue.
E ainda passa por bonzinho!
Quando eu era
criança falava-se muito no “velho do saco”. Ele é o oposto do Papai Noel: sujo,
roupas esfarrapadas, fedido. Sempre com um saco nas costas pra pegar as
crianças malcriadas. Dizem que ele leva as crianças e some com elas. Usa pra
fazer sabonete ou botões pras suas roupas velhas. Ele é assustador. Com o tempo
acabei virando seu fã. Papai Noel? Sou muito mais o Velho do Saco!
Seria muito
bom se pudéssemos pular essa data. Quando chegasse ali por 15 de dezembro, no
dia seguinte podia muito bem ser dia 31 já. De quanto mico as pessoas seriam
poupadas. O tão “esperado” amigo secreto devia na verdade se chamar inimigo
secreto, pois todo mundo passa o ano todo se espezinhando, se detestando no seu
círculo de relacionamentos e depois exercita sua hipocrisia e falsidade dando
presentinhos de R$ 2,99 um ao outro. Aquele chefe que passou o ano inteiro
pegando no nosso pé, chega e propõe fazer uma “reunião de confraternização”.
Ah, tenha a santa paciência, meu caro!
Quando se
aproxima essa data fatídica, nem a TV nos resta como lazer. Mal acaba o horário
eleitoral em outubro, começa o “horário natalino”. A programação toda é
invadida pelo “espírito do natal”. Passa um monte de filmes sobre o nascimento
de Jesus, todos produzidos há 30 ou 40 anos. Roberto Carlos canta pelo 235º ano
consecutivo, em seu famoso especial de fim de ano. A Simone também, com aquela
voz de galinha esganiçada. “Intão é nataaallll, um témpo féliiiiiiiishhhhh”.
Por toda parte aonde se vá é Jingle Bells pra cá, Jingle Bells pra lá, sempre
aquele instrumental de flauta insuportável tocado por um grupo de índios
peruanos ou um coral de crianças desafinadas. Realmente, são muitas emoções!
A repetição de
situações é tanta que chega um momento em que você não sabe se foi no Natal de
2002 ou no de 2006 que a tia Clotilde te deu aquele par de meias soquete
vagabundas e aquela cueca samba canção toda grandalhona assim, parecia usada
até... Ah, e pode escrever: com certeza esse ano você verá novamente, na
véspera de Natal, aquele repórter todo encolhido de frio, olhando fixamente pra
câmera com um sorrisinho amarelo e falando que “aqui no Japão já é Natal!”.
Grande coisa.
As famosas
reuniões familiares são um espetáculo a parte. Você está lá, quieto no seu
canto, só esperando pra se encher de peru (única coisa que resta de bom!) e
sempre tem aquele parente distante que durante o ano todo nem se interessa em
saber se você ainda está vivo ou se já morreu, mas que no Natal sempre aparece
pra comer da sua ceia e te encher o saco com conversas como: “...sabia que quando
tu nasceu os médicos achavam que tu nem ia crescer, de tão pequenininho que tu
era? Eu te peguei no colo e ajudei trocar tuas fraldas, acredita?!”. A essa
hora, sua paciência já está mesmo se esgotando. Você pega um pedaço de panetone
e um copo de vinho e se tranca no seu quarto, esperando que tudo acabe o mais
breve possível. Claro, antes do final da noite aquele parente chato virá de
novo te encher, agora já bêbado e com bafo azedo de vinho e castanhas
fermentadas. Uma maravilha mesmo, não precisa mais nada pra um final de ano
perfeito.
E quando você
pensar que tudo finalmente acabou, prepare-se pras contas de fim de ano: ceia
de Natal que você acabou exagerando, aquele peru bem que poderia ter sido um
menorzinho, no final quem aproveitou quase a metade foi o Lupi mesmo, conta do
IPVA, IPTU... mais um ano novo que já começa feliz!
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