Não
pude deixar de comover-me ante a situação de miséria vivenciada pelo poeta
gaúcho Luiz de Miranda. Apesar de ter publicado mais de trinta livros, o autor
vive em condições precárias e há anos só faz uma refeição ao dia.
Não admira
que o país seja tão empobrecido culturalmente. Nestes tempos em que as
políticas sociais primam pelo assistencialismo, concedendo bolsas a partir de
critérios duvidosos, seria uma atitude de todo sensata prestar o devido
reconhecimento a alguém que dedicou toda sua vida à produção cultural, algo tão
raro em terras tupiniquins. Penso que se as famílias de baixa renda, os
familiares de um presidiário ou ainda os veteranos de guerra merecem, por que
um escritor não seria merecedor da ajuda do Estado?
A situação
vivida por Miranda de certa forma reflete o pensamento da sociedade sobre os
que se dedicam às letras e à cultura: que são vagabundos, que nada fizeram ou
fazem de produtivo para o mundo em que vivem e que por isso merecem a vida que
levam. Uma boa parte dos escritores hoje famosos viveu e morreu na miséria para
só receber o devido reconhecimento postumamente. Por estranho que pareça, uma
parcela considerável de colegas escritores e intelectuais considera que o poeta
gaúcho não deva "legar seu sustento ao contribuinte", esquecendo-se
de que acima de poeta ou escritor, Miranda é um ser humano merecedor de uma
vida com um mínimo de conforto e dignidade.
Tal
maneira de pensar parece-me avessa ao que se esperaria de quem mais consome e
produz cultura. Em alguns casos, ao invés de humanizar e nos tornar altruístas,
talvez a erudição nos desumanize e nos faça egocêntricos. Não tenho dúvidas de
que muitos dos que hoje defendem que o Estado não deva aprovar a concessão de
ajuda financeira a Miranda, lamentarão e chorarão lágrimas de crocodilo diante
de seu túmulo, alardeando que ali repousa um grande poeta, que viveu e morreu
na miséria, negligenciado pelo poder público que deveria e poderia tê-lo
auxiliado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário