quinta-feira, 11 de julho de 2013

Literatura e miséria



Não pude deixar de comover-me ante a situação de miséria vivenciada pelo poeta gaúcho Luiz de Miranda. Apesar de ter publicado mais de trinta livros, o autor vive em condições precárias e há anos só faz uma refeição ao dia.
Não admira que o país seja tão empobrecido culturalmente. Nestes tempos em que as políticas sociais primam pelo assistencialismo, concedendo bolsas a partir de critérios duvidosos, seria uma atitude de todo sensata prestar o devido reconhecimento a alguém que dedicou toda sua vida à produção cultural, algo tão raro em terras tupiniquins. Penso que se as famílias de baixa renda, os familiares de um presidiário ou ainda os veteranos de guerra merecem, por que um escritor não seria merecedor da ajuda do Estado?
A situação vivida por Miranda de certa forma reflete o pensamento da sociedade sobre os que se dedicam às letras e à cultura: que são vagabundos, que nada fizeram ou fazem de produtivo para o mundo em que vivem e que por isso merecem a vida que levam. Uma boa parte dos escritores hoje famosos viveu e morreu na miséria para só receber o devido reconhecimento postumamente. Por estranho que pareça, uma parcela considerável de colegas escritores e intelectuais considera que o poeta gaúcho não deva "legar seu sustento ao contribuinte", esquecendo-se de que acima de poeta ou escritor, Miranda é um ser humano merecedor de uma vida com um mínimo de conforto e dignidade.
Tal maneira de pensar parece-me avessa ao que se esperaria de quem mais consome e produz cultura. Em alguns casos, ao invés de humanizar e nos tornar altruístas, talvez a erudição nos desumanize e nos faça egocêntricos. Não tenho dúvidas de que muitos dos que hoje defendem que o Estado não deva aprovar a concessão de ajuda financeira a Miranda, lamentarão e chorarão lágrimas de crocodilo diante de seu túmulo, alardeando que ali repousa um grande poeta, que viveu e morreu na miséria, negligenciado pelo poder público que deveria e poderia tê-lo auxiliado.

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