Pelo que consigo me lembrar, foi ainda
na infância ou início da adolescência que tomei conhecimento das tais
"experiências de quase morte", através de filmes, documentários e
relatos pessoais. De acordo com tais acontecimentos, a pessoa que está
ultrapassando a barreira entre a vida e a morte enxerga túneis luminosos,
caminhos de luz, anjos ou familiares já mortos vindo em sua direção para
recebê-las no pós-vida. De acordo com a tradição de todas as religiões
existentes, a vida prossegue após o momento da morte, sendo este o alicerce
sobre o qual estão assentados os fundamentos religiosos e crenças no além.
Durante séculos, para não dizer milhares
de anos, este é um mistério que vem intrigando o ser humano, pois desejamos
ardentemente obter uma resposta: se sim ou se não. Pelo fato de não dispormos
da tecnologia necessária para perscrutar os recônditos de nosso cérebro, nossa
tendência sempre foi acreditar que todos possuem uma alma imortal, o que é
perfeitamente natural levando-se em conta o pavor causado pela ideia nada
atraente de que na morte tudo acaba, tudo chega a seu término. Somente agora,
porém, começam a surgir pistas e respostas para estas inquietações.
De acordo com recentes experiências
conduzidas por cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos,
realizadas em ratos que sofreram parada cardíaca induzida, a atividade cerebral
se intensifica por até 30 segundos depois que o cérebro deixa de receber
oxigênio, o que sugere que as tais visões da chegada ao além nada mais são que
alucinações causadas por processos químicos que acontecem no momento da morte,
nada mais. Tanto é assim que após este período de uns poucos segundos,
absolutamente nenhuma atividade continuou a ser observada, indicando que a
morte física deve sim representar o fim da existência para qualquer ser vivo,
de forma definitiva.
Tais experiências nos permitem chegar à
conclusão de que nós, seres humanos, temos registrado em algum componente de
nosso DNA, uma espécie de chave de programação que nos impede de aceitar a
morte como nosso fim definitivo. Pelo fato de termos desenvolvido a capacidade
de abstrair e de imaginar, algo de que nenhum outro animal é capaz, começamos
há milhares de anos a criar, a engendrar possibilidades de vida após a morte, provavelmente
para nos aliviar o sofrimento causado pela perda de entes queridos. A coisa
toda pode muito bem ter funcionado (e ainda estar funcionando) como uma
estratégia de sobrevivência, porém ao que tudo indica tais crenças não passam
de contos de fadas para adultos.
Depois que começamos a formar uma
família composta por pai, mãe e filhos e passamos a viver em sociedade, nada
mais natural que imaginar um "pai" que mora no céu e que de lá tudo
vigia, tudo gerencia e até cuida de nós. Nada poderia ser mais natural, tendo
em vista nossa inexorável carência, nossa necessidade de que exista alguém
sempre nos cuidando, nos protegendo. A ideia de que estamos por nossa conta,
que a vida é imprevisível, incerta e que um dia chegará ao fim nos parece
assustadora num primeiro momento, mas se pararmos para pensar, perceberemos que
é justamente isso que a torna tão admirável, tão maravilhosa e que cada momento
vivido, cada experiência nova e diferente por que passamos, nos enriquece e nos
engrandece nessa aventura singular que é a vida.
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