quarta-feira, 27 de julho de 2011
Para ser reconhecido, é preciso morrer
Lembro-me como se fosse hoje. Naquela fria quinta-feira, dia 25 de junho de 2009, eu estava no laboratório de informática de minha escola por volta das 18hs. Entre um clique e outro do mouse, fico sabendo da morte repentina e trágica de Michael Jackson. O artista que havia mudado para sempre a história da música, deixava o palco da vida de forma abrupta. Morria o homem para nascer o mito. Fechava-se um ciclo que havia se iniciado há muito tempo, quando os videoclipes praticamente ainda nem existiam. Ele os havia inventado, juntamente com tantas outras contribuições nada menos que geniais.
Uns poucos anos antes de sua morte, Michael havia caído no ostracismo. Abatido fisicamente e falido financeiramente, tinha escolhido viver praticamente no isolamento, devido às muitas acusações de pedofilia, compulsão por torrar dinheiro de forma descabida e outras tantas excentricidades que fizeram a audiência da mídia em muitos e muitos programas e documentários sensacionalistas. Jornais e editoras fizeram fortuna às suas custas. Pouco importava se as histórias eram verdadeiras ou não, o que importava é que vendiam bem, davam muito dinheiro. Afinal, falar bem de alguém não vende jornais, revistas ou livros. Quanto mais bizarras as histórias, melhor. Há sempre um público sedento por esses escritos de gosto duvidoso.
Morto, Michael foi instantaneamente alçado à condição de ídolo dos ídolos, um deus da música. Repórteres olhando fixamente para a câmera, não se cansavam de desfilar os mais desmedidos elogios ao artista do século. Alguns até paravam de falar e começavam a chorar suas lágrimas de crocodilo. Michael, agora não mais entre os vivos, era elogiado e lembrado como nunca antes. Infelizmente ele não pôde mais testemunhar o devido reconhecimento de seus fãs. Não ficou sabendo o quanto era amado.
No sábado passado, as cenas se repetiram, tal como quando vemos um filme que já tínhamos visto antes. Em vida, Amy Winehouse abasteceu a mídia com histórias maldosas, foi julgada e condenada. Tachada de drogada, bêbada e até de ridícula. Eu vi e ouvi repórteres afirmarem tais coisas. E agora, recém nos deixa, se transforma na Diva da soul music, na cantora inimitável, no gênio incompreendido.
Como todos nós, Amy era acima de tudo um ser humano, com suas alegrias, seus dramas, seus momentos de genialidade e de tédio. Como todos nós, ela tinha seus próprios demônios pessoais, suas frustrações. Quem somos nós para julgá-la, sem sequer conhecer sua vida em detalhes?! Por mais obscuro e censurável que seja o estilo de vida de alguém, gosto de pensar que as pessoas têm seus motivos para fazerem o que fazem, para se comportarem da forma como se comportam. Tal como muitos artistas antes dela, Amy teve uma vida curta, porém genial. Esta semana escutei muito jornalista afirmando que seria “arriscado” elogiar Amy em demasia, pois os jovens poderiam querer se espelhar nela, e outras bobagens do gênero.
É óbvio que o envolvimento com drogas pesadas e bebidas não seja algo para se elogiar, no entanto, o que não se pode é querer apagar a importância da grande artista que ela foi, por conta da vida desregrada que levava. Aliás, o comportamento da mídia em relação aos famosos é o mesmo que se verifica nas pessoas comuns. Quando acontece de morrer alguém mal visto na comunidade, ou pessoa de poucas amizades, logo começam a aparecer as qualidades, os elogios e os comentários hipócritas de que “fará muita falta”, “ele era um homem tão bom, tão prestativo!”. Nada justifica nos seres humanos tais mesquinharias, tais hipocrisias sem sentido. As pessoas pensam que fazendo isso irão se “redimir” perante o falecido.
O problema é que às vezes até admiramos alguém e percebemos suas qualidades, mas nossa incompetência e inveja nos impedem de reconhecer o que essa pessoa tem de bom, daí nos pomos a criticar e falar mal, na maioria das vezes sem nem conhecer o outro direito. Quando morre, bate um remorso pessoal, mas aí já é tarde. Por mais que nos esforcemos, nossa língua ferina já fez muito estrago. Por mais que rasguemos elogios e “orações”, o morto infelizmente jamais ficará sabendo do nosso pretenso e fingido arrependimento.
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Um comentário:
É Sor é uma dura realidade mas, as veses é preciso que a pessoa morra pra ser reconhecida ou até mesmo entendida.
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