quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vivendo em “piloto automático”


De todos os males que possam nos atingir, nenhum pode causar mais estrago do que a rotina. Seja no trabalho ou na vida pessoal, o exercício da eterna repetição é capaz de transformar sonhos em pesadelos, em um curtíssimo espaço de tempo. No que se refere à vida profissional, toda aquela empolgação inicial, quando se acredita ser capaz de literalmente mudar o mundo, aos poucos vai sendo substituída por uma sensação de impotência perante os obstáculos.
Como eu costumo dizer, deixa-se de planejar as atividades de cada dia, de analisar os prós e os contras, e entra-se no modo do “piloto automático”. De repente nos vemos transformados em robôs, seres que talvez já tenham deixado de pensar, que fazem as coisas mecanicamente, de forma a cumprir a odiosa rotina, que não pode ser quebrada. Os seres humanos não foram feitos para a repetição, para a vida em looping, como se fosse um CD com a mesma música gravada umas dez vezes e colocado pra rodar em modo repeat, pela eternidade.
A rotina limita a criatividade, aborrece e causa depressão. Emburrece. Geralmente, quando vamos para o trabalho, seguimos sempre pelo mesmo caminho, pelas mesmas ruas. Pode não parecer, mas a simples quebra dessa parte da rotina pode melhorar um pouquinho o nosso dia. Tomar um caminho diferente, apreciar um outro cenário diante dos nossos olhos, ver algo novo, ou pelo menos de uma perspectiva diferente, já terá efeitos muito positivos. A rotina do cotidiano é tão cruel que com frequência almoçamos e nessa mesma noite não lembramos mais o que comemos no almoço. Nem sequer paramos para saborear a comida. Comemos simplesmente para nos mantermos vivos. Aliás, não vivemos mais, apenas existimos.
Ultimamente, tenho me sentido um pouco assim, também executando tarefas em “piloto automático”. Logo eu, que sei tão bem o quanto é importante que nos mantenhamos focados na beleza e magnitude da vida, no tesouro incalculável que é estar vivo e saber aproveitar cada respiração, cada momento que se apresenta para nós, pois ele jamais se repetirá. A vida é efêmera, curta demais. Viveremos uns 80 anos, e isso numa perspectiva otimista. A terra, nosso planeta-mãe, está aí há uns bons 4 bilhões de anos. Nessa escala de tempo, uma vida humana representa uma fração de fração de segundo. Tínhamos obrigatoriamente que poder aproveitar mais!
Os historiadores costumam afirmar que os fatos históricos obedecem a uma regularidade, que de tempos em tempos há uma certa repetição. Talvez a lógica do universo em que vivemos esteja atrelada à repetição e ao rotineiro, mas bem que poderíamos ter autonomia para mudar uma coisinha aqui e ali em nossas vidas. Eu mesmo, por exemplo, desde o momento em que acordo até o momento em que vou pra cama todos os dias, tenho verdadeiras enxurradas de ideias sem que, no entanto, possa colocar nem sequer 5% desse total em prática.
O problema é que muitas das boas ideias que se tem, é preciso da compreensão e do apoio de terceiros para que se tornem realidade. No meu caso, não tenho recebido muito apoio nos últimos tempos. Isso traz uma sensação de frustração pessoal, intelectual e profissional muito grande. Tem-se por vezes a impressão de estar nadando em meio a um enorme oceano, sem conseguir sair do lugar.
Meu único consolo, tenho encontrado na leitura de obras literárias ou filosóficas. Outro dia li que as boas ideias jamais morrem. Talvez elas fiquem por algum tempo adormecidas, ou mesmo aniquiladas sob a arrogância ou sob o medo, mas tal como as sementes que ficam enterradas embaixo do sol forte, e são despertadas pela chuva, também essas ideias, quando alimentadas, renascem e começam seu trabalho de transformação das pessoas e do mundo.

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