quinta-feira, 5 de maio de 2011

Escola e redes sociais: pensando espaços de integração


Vivemos um tempo de profundas transformações na sociedade humana. Em nenhum outro momento da história de nossa civilização, tantas mudanças ocorreram em tão pouco tempo. Como espaço regrado de aprendizado, a escola, apesar de sempre ser apontada como um dos pilares de uma comunidade, tem se esforçado ao máximo para se manter em situação de isolamento. Se nem sempre existem muros de tijolos, os muros ideológicos estão sempre presentes.
Ultimamente, em quase todos os cantos do Brasil e do mundo, as discussões, comentários e posts diversos envolvendo a escola e os professores, nas chamadas redes sociais, têm sido alvo de grande celeuma. Para Simão Marinho, assessor pedagógico do programa “Um Computador por Aluno”, do Governo Federal e professor da PUC-MG, “a escola é como uma cidade com muros que a limitam, e redes como Facebook, Orkut e Twitter são o contrário disso, são um espaço de liberdade, onde não existem muros”. Talvez por isso tantos profissionais da educação se sintam amedrontados, uma vez que se a escola quiser se integrar verdadeiramente à era da comunicação digital, o professor deixará de ser a figura central de autoridade e passará a ser um mediador, um orientador. Estará em pé de igualdade com seu aluno, e não mais a figura autoritária e sisuda que sempre foi.
No espaço virtual da internet, tal como na sociedade “real” em que se vive, existem nichos e espaços particulares. Nos Estados Unidos, uma pesquisa revelou que a maioria dos alunos solicitava a seus professores para não fazer contato por meio das redes sociais, até pelo fato de que muitos alunos as usam para criticar os professores e a escola. No Brasil, já houve casos de ofensas graves, sendo necessário chamar pais ou responsáveis a prestar esclarecimentos. No Orkut, foram encontradas comunidades chamadas inclusive de “Eu odeio o professor Fulano”. Obviamente, tais casos precisam ser apurados e os responsáveis, punidos. Entretanto, muitas vezes se vê o puro exagero.
Se levar meu carro a uma oficina, se for ao médico ou à padaria, poderei gostar ou não do serviço que me prestam. Não sou obrigado a gostar. Do mesmo modo, o aluno também pode gostar ou não da minha disciplina, gostar ou não da minha aula, e não vejo nenhum mal que ele expresse a sua opinião, contanto que não esteja me ofendendo como pessoa, na minha dignidade e honestidade. Se ele confessar que achou a aula monótona, que não estava motivado para estudar naquele dia, ou que a prova estava muito difícil, entendo que está no seu direito, contanto que não o faça de forma ofensiva, como já disse antes. Afinal, o professor também, nem sempre está motivado para dar a sua aula. Nem sempre está inspirado, como costumamos dizer. Nós o fazemos, nessas ocasiões, em cumprimento ao nosso dever como profissionais que somos, da mesmíssima forma que o fazem os balconistas, os frentistas de postos, os garis, os bancários, os motoristas de ônibus, etc.
O professor, se quiser ser realmente um instrumento de transformação da sociedade, precisa conviver com a crítica e ter em mente que nem sempre damos aulas maravilhosas. Nos espaços de discussão virtual, não se pode querer reproduzir o ambiente da sala de aula, com a mesma formalidade. Por ser um espaço de liberdade, posso discutir com meus alunos sobre música, cinema, futebol, profissões e outras informações que extrapolem o mero conteúdo de um livro didático, o que não se pode é querer manter a escola isolada, erguer muros cada vez mais altos entre esta e a comunidade.
Apesar de toda a parafernália tecnológica de que dispomos hoje, sabemos que máquinas somente não mudarão a escola. Quem pode e deve trabalhar para que as mudanças aconteçam, é o professor. É ele o agente da transformação. O significado do “ser professor” hoje mudou muito e continuará mudando. Ele não é mais a única fonte de informação de que o aluno dispõe. Nosso papel é pensar estratégias e criar condições para que o aluno aprenda, seja através da minha aula, da internet, do celular ou do livro. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que junto com a inovação tecnológica venha a inovação pedagógica. A escola precisa se integrar e buscar o uso das novas tecnologias, sob pena de ficar pra sempre nesse modelo de incentivo à manutenção do status quo e da proletarização.
Para garantir a sua segurança pessoal, Osama Bin Laden sempre acreditou que precisava manter a tecnologia à distância, se isolar mais e mais, e foi justamente isso que levou a sua derrocada. A escola, enquanto instituição presente há séculos na vida das pessoas, pode acabar tendo destino muito semelhante.

2 comentários:

Camila Klaus disse...

Muito bom o texto professor!

Aninha disse...

É isso ai professor!
Parabéns pelo seu bom senso e texto!