terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Papéis jogados pelas estradas da vida


Na semana passada, algumas ruas próximas à escola Eugênio Franciosi, onde trabalho, de repente apareceram cobertas de papel, uma quantidade incrível de lixo, que ameaçava entupir até os bueiros. Por estranho que possa parecer, não estou falando do final de alguma campanha eleitoral, mas do final do ano escolar, que se encerrou na sexta-feira, dia 17.
Surpreso com este comportamento incomum por parte dos alunos, fui pesquisar sobre o ocorrido e para meu espanto logo apareceram vários sites noticiando o fenômeno, que ocorreu em muitas cidades pelo país afora. Não somente relatos, mas fotos de ruas cobertas de papel logo apareceram na tela do computador. Parece estar “na moda” entre os alunos, tanto de escolas públicas quanto privadas, essa tentativa de desmoralizar a escola e os professores, de demonstrar revolta contra o sistema escolar.
Não tenho guardados todos os cadernos da época em que estudei, mas uma boa parte deles sim, especialmente os do Ensino Médio. Falando como um apaixonado pelo saber, me é difícil entender esse sentimento de revolta por algo tão bom e iluminador como o conhecimento. Durante os dez meses em que dura o ano escolar, estuda-se para provas e trabalhos, recebe-se uma carga enorme de informação, dentro das várias disciplinas, para depois jogar tudo pelo ralo de algum bueiro?! Qual o sentido disso, eu queria saber a resposta...
No decorrer das aulas, eu sei que tanto alunos quanto professores, nem sempre estão motivados para o fazer escolar. O processo de aprendizado é longo e difícil. Momentos de prazer e empolgação são intercalados por grandes intervalos de tédio e rotina massacrantes. Sem contar que alunos e professores não caem do céu direto pra dentro da sala de aula. Todos têm seus problemas particulares, seus pequenos (ou grandes!) demônios interiores pra domesticar.
Nesse processo de interação que acontece durante as aulas, é inevitável que ocorram conflitos, discussões e desentendimentos, contudo é necessário entendermos que tais conflitos fazem parte do processo de aprendizado! Crescemos como seres humanos e modificamos nosso caráter não só pelas coisas novas que descobrimos e aprendemos, mas também pela superação das dificuldades que surgem. Como diz o ditado popular, é preciso saber fazer dos limões uma limonada.
Apesar das pedras que surgem no caminho, contudo, nada justifica esse desprezo, essa raiva, principalmente quando lembramos dos milhões de pessoas que gostariam tanto de ter a oportunidade de estarem frequentando uma escola, de terem, por meio dos estudos, quem sabe melhores oportunidades, melhores condições de vida, e infelizmente não têm essa chance.
Assim, me parece que essa atitude de se revoltar contra a escola, professores e contra o próprio saber, é uma atitude que demonstra imensa falta de maturidade e que aponta para uma espécie de “bobeira coletiva”. Nem é preciso fazer grandes análises psicológicas ou comportamentais. A coisa é simples: trata-se de bobeira mesmo. Nesses dez anos que tenho trabalhado com alunos, tenho escutado sempre os mesmos relatos. O pessoal vive falando mal da escola, dizendo que detesta os professores, os colegas, a escola em si, que a vida escolar “é um inferno”, etc e tal.
Algum tempo depois de já formados e estarem frequentando uma faculdade, quando acontece de encontrá-los, todos invariavelmente relatam sentirem saudades da escola e lamentam não “terem aproveitado” tanto quanto poderiam. Conversando com estes ex-alunos, posso ver claramente que lembram da escola, antes “odiada”, com saudosas lembranças, saudades de colegas e professores. Nas redes sociais pela internet não se cansam de tecer elogios. Fotos com a escola ao fundo trazem legendas como “bons tempos que não voltam mais”, “amo muito” e outros mais.
Não adianta: por mais que queiram parecer rebeldes, eu sinto que os alunos adoram a escola e os professores, eles apenas ainda não descobriram isso. Leva um tempo até aprendermos a dar valor a certas coisas na nossa vida.

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