
Não sei como pode haver gente que ainda cultive o vício do cigarro. Em pleno século XXI, a era da informação, da conscientização, dos progressos tecnológicos, nada poderia soar mais bizarro e medieval do que fumar. O cigarro, com sua fumacinha azulada e sedutora, nos faz inalar mais de 4000 substâncias tóxicas, a maioria delas altamente cancerígena.
Dizem que de todos que são contra o cigarro, o mais chato é o ex-fumante, como eu. Fumei durante uns cinco anos, na época da faculdade de Letras. Eram outros tempos aqueles, eu tinha outras crenças, achava que depois da morte a gente vai pra algum lugar melhor e isso e aquilo, então não faria mal nenhum em fumar. Hoje a coisa é muito diferente! Embora nada tenha sido cientificamente comprovado, tudo indica que esta vida aqui na Terra é tudo o que teremos, nada mais. É preciso zelar por ela, cuidar da própria saúde. Não teremos outras vidas pra viver, por mais bonito e poético que isso possa parecer.
Durante o tempo que fumei, pude comprovar a maioria das teorias que existem sobre o cigarro. O cigarro proporciona uma certa sensação de segurança, nos dá desinibição, faz com que nos socializemos com maior facilidade. Até mesmo quando estamos em alguma festa e não aparece nenhum amigo ou conhecido, é ele, o cigarro, que fica sendo nosso amigo. É pra ele que confidenciamos nossos maiores segredos, nossos sucessos e fracassos. Se ficamos com alguém, fumamos unzinho pra comemorar, se fracassamos, fumamos do mesmo jeito, pra afogar as mágoas. O cigarro possui um efeito psicológico muito forte, sem contar a dependência da nicotina em si, responsável pelo vício propriamente dito.
É difícil conseguir se libertar. É comum parar e recomeçar várias vezes, até conseguir finalmente largar o vício por completo. Passados os anos de escravidão pelo cigarro, é que começamos avaliar quanto dinheiro queimamos e o quanto expusemos nossa preciosa saúde ao risco de tantas doenças. Existe sim prazer em fumar, mas os prejuízos são infinitamente maiores, não compensa de forma alguma! É difícil acreditar que as pessoas que fumam desde muito jovens queiram ter uma vida longa, isso fica sendo extremamente improvável.
Devido às tantas campanhas publicitárias de conscientização contra o cigarro, percebe-se que o número de novos fumantes tem diminuído consideravelmente, no entanto acredita-se que durante todo este século o cigarro matará cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo! E pensar que tudo começou de forma meio que acidental.
De acordo com as pesquisas do jornalista Leandro Narloch, até os navegadores descobrirem a América, não havia cigarros na Europa e nem o costume de tragar fumaça. Entre os índios americanos, no entanto, o costume de puxar um fuminho corria solto, principalmente nas cerimônias religiosas, nas quais se acreditava que o fumo pudesse facilitar a “comunicação” com o mundo dos espíritos... Durante a década de 1560, o fumo chegou até a corte portuguesa, onde caiu nas graças do embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, que se encarregou de disseminar o hábito de fumar por toda a Europa. Muito tempo depois, com a industrialização, o vício do fumo causaria milhões e milhões de mortes.
Decididamente, fumar não está com nada. Além de perigosíssimo para a saúde, ainda é extremamente desagradável: bafo de onça, roupas malcheirosas, bitucas de cigarro de fedor imensurável, sem contar a sensação de beijar alguém que tenha acabado de fumar. Ninguém merece mesmo!
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