terça-feira, 2 de outubro de 2012

A ilusão da democracia



Nesta semana que antecede as eleições municipais, manifestações entusiasmadas tomam as ruas, carros se amontoam em comícios e enorme balburdia invade nossos ouvidos sem trégua. O que era para ser a defesa de ideais políticos e de propostas que viriam ao encontro das reais necessidades dos municípios, se transformou numa competição tresloucada para ver quem consegue fazer mais barulho. Não existem locais que estejam a salvo de tal barulheira infernal. Algumas pessoas defendem seus candidatos como se disso dependesse sua própria vida. Vale tudo pela chamada “festa da democracia”, pena que tal instituição simplesmente não exista.
Para começo de conversa, poderíamos falar em democracia se o povo não fosse obrigado a votar. O voto obrigatório se configura num instrumento de dominação das massas, pois traz embutida a sombra nefasta do totalitarismo e do autoritarismo. O povo pouco instruído e mal informado imagina estar exercendo um direito, quando na verdade está dando seu aval para que uma elite financeira ou intelectual exerça o poder. Dentro desta realidade, por mais que o povo se sinta contagiado, é de fundamental importância que se tenha os pés no chão. Em meio aos slogans das campanhas, aos gritos e fogos de artifício, velhas amizades são magoadas, interrompidas e quem sai perdendo é sempre o mais fraco.
Passado o dia da eleição, os escolhidos pelo voto passarão então a desempenhar o seu trabalho, ao passo que ao eleitor caberá também continuar com sua rotina de trabalho. Nada muda efetivamente. Por meio do estudo da história, sabemos que quaisquer mudanças que possam ser desejadas em uma sociedade, levam muito tempo para acontecer. Não é possível esperar que uma sociedade mude da noite para o dia ou em alguns poucos anos. Além disso, precisamos ter em mente que este formato utilizado para que o povo escolha os seus representantes, é também uma forma de impor a vontade da maioria sobre uma minoria. Com isso, cria-se a falsa impressão de que a opinião dessa minoria perdedora não tem qualquer importância. Da forma como o processo eleitoral é conduzido, existe sempre a dominação de uns sobre outros, enquanto uma sociedade ideal deveria ser pautada pelo consenso, e não pela competição e dominação.
É triste ver tantas trocas de ofensas, deboche, gozações e toda sorte de provocações que inundam as redes sociais. Esse espaço tão novo e tão rico que a internet hoje nos proporciona, poderia e deveria ser utilizado para o debate e a discussão sadia de ideias e propostas, sem prejuízo para a moral, a honra e a idoneidade de quem quer que fosse. Infelizmente, os interesses financeiros se sobressaem, levando muitos a não medirem as consequências dos exageros que cometem, em defesa de supostos ideais. Os ideais políticos morreram já faz um bom tempo. Votamos por obrigação, trabalhamos quatro meses todo ano só para pagar impostos que pouco ou nada vemos retornar na forma de algum benefício. A chamada “grande festa da democracia” não passa de uma farsa, de um embuste.
Os candidatos, coitados, têm de se desdobrar para parecerem aquilo que o povo quer que pareçam. Tiram fotos, fazem sinal de ok ou então o V da vitória, abraçam gente que nunca viram como se fossem velhos conhecidos, chegam até a dar mordida naquele pastel que o eleitor está comendo, ou no pedaço de pão com melado. Pegam no colo a criança toda sujinha, o nariz escorrendo... O próprio eleitor sabe que nada disso é real, que é um teatro, um show, mas ao mesmo tempo quer isso, espera que o candidato seja cordial, seja educado, seja bonachão. Esperam que seja até um palhaço, se for o caso. Nenhum comportamento parece ser condenável, nessa luta desenfreada pelo voto. Tudo se resume a uma aparente festa, em meio a qual giram muitos interesses. O povo vai lá, senta junto à mesa, participa, dá umas risadas, mas no final só lhe cabe mesmo as migalhas.

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