Nesta semana
que antecede as eleições municipais, manifestações entusiasmadas tomam as ruas,
carros se amontoam em comícios e enorme balburdia invade nossos ouvidos sem
trégua. O que era para ser a defesa de ideais políticos e de propostas que
viriam ao encontro das reais necessidades dos municípios, se transformou numa
competição tresloucada para ver quem consegue fazer mais barulho. Não existem
locais que estejam a salvo de tal barulheira infernal. Algumas pessoas defendem
seus candidatos como se disso dependesse sua própria vida. Vale tudo pela
chamada “festa da democracia”, pena que tal instituição simplesmente não
exista.
Para começo de
conversa, poderíamos falar em democracia se o povo não fosse obrigado a votar.
O voto obrigatório se configura num instrumento de dominação das massas, pois
traz embutida a sombra nefasta do totalitarismo e do autoritarismo. O povo
pouco instruído e mal informado imagina estar exercendo um direito, quando na
verdade está dando seu aval para que uma elite financeira ou intelectual exerça
o poder. Dentro desta realidade, por mais que o povo se sinta contagiado, é de
fundamental importância que se tenha os pés no chão. Em meio aos slogans das
campanhas, aos gritos e fogos de artifício, velhas amizades são magoadas,
interrompidas e quem sai perdendo é sempre o mais fraco.
Passado o dia
da eleição, os escolhidos pelo voto passarão então a desempenhar o seu
trabalho, ao passo que ao eleitor caberá também continuar com sua rotina de
trabalho. Nada muda efetivamente. Por meio do estudo da história, sabemos que
quaisquer mudanças que possam ser desejadas em uma sociedade, levam muito tempo
para acontecer. Não é possível esperar que uma sociedade mude da noite para o
dia ou em alguns poucos anos. Além disso, precisamos ter em mente que este
formato utilizado para que o povo escolha os seus representantes, é também uma
forma de impor a vontade da maioria sobre uma minoria. Com isso, cria-se a
falsa impressão de que a opinião dessa minoria perdedora não tem qualquer
importância. Da forma como o processo eleitoral é conduzido, existe sempre a
dominação de uns sobre outros, enquanto uma sociedade ideal deveria ser pautada
pelo consenso, e não pela competição e dominação.
É triste ver
tantas trocas de ofensas, deboche, gozações e toda sorte de provocações que
inundam as redes sociais. Esse espaço tão novo e tão rico que a internet hoje
nos proporciona, poderia e deveria ser utilizado para o debate e a discussão
sadia de ideias e propostas, sem prejuízo para a moral, a honra e a idoneidade
de quem quer que fosse. Infelizmente, os interesses financeiros se sobressaem,
levando muitos a não medirem as consequências dos exageros que cometem, em
defesa de supostos ideais. Os ideais políticos morreram já faz um bom tempo.
Votamos por obrigação, trabalhamos quatro meses todo ano só para pagar impostos
que pouco ou nada vemos retornar na forma de algum benefício. A chamada “grande
festa da democracia” não passa de uma farsa, de um embuste.
Os candidatos, coitados, têm de se desdobrar para
parecerem aquilo que o povo quer que pareçam. Tiram fotos, fazem sinal de ok ou
então o V da vitória, abraçam gente que nunca viram como se fossem velhos
conhecidos, chegam até a dar mordida naquele pastel que o eleitor está comendo,
ou no pedaço de pão com melado. Pegam no colo a criança toda sujinha, o nariz
escorrendo... O próprio eleitor sabe que nada disso é real, que é um teatro, um
show, mas ao mesmo tempo quer isso, espera que o candidato seja cordial, seja
educado, seja bonachão. Esperam que seja até um palhaço, se for o caso. Nenhum
comportamento parece ser condenável, nessa luta desenfreada pelo voto. Tudo se
resume a uma aparente festa, em meio a qual giram muitos interesses. O povo vai
lá, senta junto à mesa, participa, dá umas risadas, mas no final só lhe cabe
mesmo as migalhas.
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