quinta-feira, 3 de maio de 2012

Filhos da miséria


Com a chegada dos meses mais frios do ano, multiplicam-se por todos os cantos as campanhas de recolhimento e doação de agasalhos. Não que eu me posicione contrariamente a esta prática, longe disso. A questão é que precisamos refletir sobre a natalidade entre as camadas mais pobres da população brasileira, pois este é um dos principais problemas da atualidade. Há poucos anos, dizia-se que o grande número de filhos entre a população mais pobre se devia principalmente à falta de informação. Mas e agora, que existe informação em abundância sobre os métodos contraceptivos, distribuição gratuita de pílulas anticoncepcionais e de preservativos?
Segundo os dados disponíveis, as mulheres com formação acadêmica e uma sólida carreira profissional têm 1 ou 2 filhos no máximo, enquanto aquelas que estudaram somente um único ano escolar ou que são analfabetas chegam a ter 5, 6 ou mais filhos. Vivemos num país ao contrário, às avessas. Nas reportagens que vemos diariamente na TV, mulheres maltrapilhas e vivendo em condições subumanas, se orgulham de ter um grande número de filhos. Afirmam que é uma alegria imensa colocar os filhos no mundo.
Quando vejo aquela escadinha de crianças descalças, mal vestidas e famintas, não posso deixar de sentir muita pena delas. São o resultado da mentalidade atrasada e inconsequente de pais irresponsáveis. Entrevistados, muitos afirmam serem os filhos um resultado da “vontade de Deus”. Devem ser mesmo, pois os responsáveis pelos programas de políticas públicas parecem padecer de uma inércia ocupacional ou então têm medo de contrariar a ideologia da Igreja, que tem se mantido firme contra o uso de quaisquer métodos contraceptivos.
Na periferia de toda grande cidade brasileira existe uma espécie de epidemia de gravidez entre adolescentes. Mulheres na casa dos 30 anos seguram nos braços bebês que são seus netos. Nessas condições, o tempo que devia ser reservado à infância e aos estudos se converte na maternidade precoce. A criação dessas crianças fica a cargo dos avós, pois raros são os pais biológicos com maturidade e condições financeiras para assumir todas as responsabilidades implicadas numa paternidade. Como resultado, boa parte acaba crescendo sem o amparo de uma família. Nos presídios, a grande maioria daqueles que cumprem pena são filhos de pais desconhecidos, cresceram sem orientação e não tiveram oportunidade de frequentar uma escola.
Para piorar a situação, o programa Bolsa Família, criado pelo Governo Federal, contribui para que a natalidade cresça justamente entre as camadas mais pobres da população. Ao contrário do que muitos opinam, os R$ 32,00 oferecidos pelo programa durante 15 meses a contar do início da gravidez, são um incentivo tentador para se ter mais filhos, se pensarmos em lugares e condições de miséria absoluta. Muitas vezes o dinheiro é utilizado na compra de cigarros, bebidas alcoólicas e outros vícios.
O governo está indo na direção contrária ao bom senso. Investir na prevenção e na educação para o planejamento familiar sairia muito mais barato que construir tantas novas creches, escolas e mais tarde presídios. Por outro lado, talvez seja essa mesma a intenção. Mais benefícios e mais assistencialismo, com um nível de escolaridade baixo, significam uma população mais fácil de manipular, resultando no futuro em um número muito maior de votos. De repente, o que parecia ingenuidade ou falta de planejamento, passa a fazer todo sentido.

Nenhum comentário: