Com a chegada
dos meses mais frios do ano, multiplicam-se por todos os cantos as campanhas de
recolhimento e doação de agasalhos. Não que eu me posicione contrariamente a
esta prática, longe disso. A questão é que precisamos refletir sobre a
natalidade entre as camadas mais pobres da população brasileira, pois este é um
dos principais problemas da atualidade. Há poucos anos, dizia-se que o grande
número de filhos entre a população mais pobre se devia principalmente à falta
de informação. Mas e agora, que existe informação em abundância sobre os
métodos contraceptivos, distribuição gratuita de pílulas anticoncepcionais e de
preservativos?
Segundo os
dados disponíveis, as mulheres com formação acadêmica e uma sólida carreira
profissional têm 1 ou 2 filhos no máximo, enquanto aquelas que estudaram
somente um único ano escolar ou que são analfabetas chegam a ter 5, 6 ou mais
filhos. Vivemos num país ao contrário, às avessas. Nas reportagens que vemos
diariamente na TV, mulheres maltrapilhas e vivendo em condições subumanas, se
orgulham de ter um grande número de filhos. Afirmam que é uma alegria imensa
colocar os filhos no mundo.
Quando vejo
aquela escadinha de crianças descalças, mal vestidas e famintas, não posso
deixar de sentir muita pena delas. São o resultado da mentalidade atrasada e
inconsequente de pais irresponsáveis. Entrevistados, muitos afirmam serem os
filhos um resultado da “vontade de Deus”. Devem ser mesmo, pois os responsáveis
pelos programas de políticas públicas parecem padecer de uma inércia
ocupacional ou então têm medo de contrariar a ideologia da Igreja, que tem se
mantido firme contra o uso de quaisquer métodos contraceptivos.
Na periferia
de toda grande cidade brasileira existe uma espécie de epidemia de gravidez
entre adolescentes. Mulheres na casa dos 30 anos seguram nos braços bebês que
são seus netos. Nessas condições, o tempo que devia ser reservado à infância e
aos estudos se converte na maternidade precoce. A criação dessas crianças fica
a cargo dos avós, pois raros são os pais biológicos com maturidade e condições
financeiras para assumir todas as responsabilidades implicadas numa
paternidade. Como resultado, boa parte acaba crescendo sem o amparo de uma
família. Nos presídios, a grande maioria daqueles que cumprem pena são filhos
de pais desconhecidos, cresceram sem orientação e não tiveram oportunidade de
frequentar uma escola.
Para piorar a
situação, o programa Bolsa Família, criado pelo Governo Federal, contribui para
que a natalidade cresça justamente entre as camadas mais pobres da população.
Ao contrário do que muitos opinam, os R$ 32,00 oferecidos pelo programa durante
15 meses a contar do início da gravidez, são um incentivo tentador para se ter
mais filhos, se pensarmos em lugares e condições de miséria absoluta. Muitas
vezes o dinheiro é utilizado na compra de cigarros, bebidas alcoólicas e outros
vícios.
O governo está
indo na direção contrária ao bom senso. Investir na prevenção e na educação
para o planejamento familiar sairia muito mais barato que construir tantas
novas creches, escolas e mais tarde presídios. Por outro lado, talvez seja essa
mesma a intenção. Mais benefícios e mais assistencialismo, com um nível de
escolaridade baixo, significam uma população mais fácil de manipular,
resultando no futuro em um número muito maior de votos. De repente, o que
parecia ingenuidade ou falta de planejamento, passa a fazer todo sentido.
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