"De repente do riso fez-se o pranto/silencioso
e branco como a bruma/e das bocas unidas fez-se a espuma/e das mãos espalmadas
fez-se o espanto". Esses versos de Vinícius de Moraes, um de nossos
maiores poetas, definem muito bem o estado de espírito dos brasileiros diante
da derrota para a Alemanha nesta Copa do Mundo, uma derrota ainda mais dolorosa
pelo fato de ser na nossa casa, no nosso país, o país do futebol. Incrédulos,
com os olhos cheios d'água ou com o coração cheio de raiva, todos se perguntam:
"por que", e a única resposta é um silêncio avassalador. O sonho
acabou. E agora?
Agora talvez nos chegue um novo tempo, um tempo de
aprendizado, de luta, de sabedoria, afinal é com as dores que se aprende e que
se cresce. É fácil descobrir por que a Alemanha foi tão superior. Lá não existe
a cultura do jeitinho, da ginga, da malandragem. O que existe é disciplina,
trabalho, dedicação e muito estudo. A equipe jogou muito mais e mereceu a
vitória que teve! O time brasileiro (talvez uma cópia mal feita de seu povo),
apesar da pouca técnica, da pouca experiência como equipe e da pouca
disciplina, esperou a vitória pelo "peso da camisa" e pela
"ginga" brasileira. O resultado não poderia ser outro. Fomos vencidos
na nossa ingenuidade, descemos em queda livre do alto de nosso salto. A
Alemanha, disciplinada, treinada, chegou e pintou o sete com as nossas cores,
com a nossa aquarela brasileira. E agora?
Agora precisamos sobretudo aprender a amar
verdadeiramente o país, todos os 365 dias do ano e não apenas quando torcemos
por nossa Seleção. A Seleção não é o país, ela apenas nos representa! No dia de
hoje, muitos dizem se envergonhar de serem brasileiros, mas será que o Brasil
não se envergonha de nós quando furamos uma fila, quando jogamos uma bituca de
cigarro no chão, quando deixamos de oferecer um lugar no ônibus a uma pessoa
idosa? É hora de refletirmos sobre nós mesmos e sobre nossas atitudes, pois a
verdadeira cidadania e identidade de um povo se constrói em cada pequeno gesto
do cotidiano, em cada padrão de nosso comportamento como pessoas. É da soma de
tudo isso que resultará a brasilidade, a nossa cara de povo.
O Brasil é um país com um potencial imenso, um país
com ampla capacidade de se sobressair diante das nações do mundo. Temos sim
motivos de sobra para nos orgulharmos do nosso Brasil e para chamá-lo de Pátria
Amada. O que nos falta enquanto nação nos sobra em disposição, em otimismo, em
garra. Ainda temos muito a aprender, porém. Com pouco mais de 500 anos, o
Brasil ainda não atingiu sua maturidade, ainda não se descobriu enquanto nação
altaneira. Depois de hoje, com certeza muito aprenderemos, mas esse sentimento
de amor, esse arrepiar no corpo quando escutamos nosso hino, isso jamais
mudará. Aqui nascemos, aqui crescemos e aqui vivemos.
Somos parte do Brasil e o Brasil é parte de nós, a
cada momento, a cada vez que respiramos. Nosso coração hoje está triste, mas a
caminhada prossegue, o trabalho continua. Amanhã acordaremos para um novo dia,
uma nova jornada e ao sairmos de casa pela manhã talvez escutemos a voz
preguiçosa de algum sambista que canta, o radinho de pilha empoleirado na
soleira da janela: "... não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a
volta por cima".
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