segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Brasil: um país... enfermo



Deve fazer uns vinte anos que assisti Laranja Mecânica pela primeira vez. O filme mais icônico e mais lembrado do cineasta Stanley Kubrick me causou grande inquietação. Na minha ingenuidade e inexperiência, fiquei imaginando se em algum tempo e lugar do passado, presente ou futuro poderia existir tal forma de violência. Com suas tomadas e seus planos milimetricamente estudados, Kubrick nos mostra uma realidade sombria, com ruas dominadas por gangues brutais onde o extravasamento da violência em suas formas mais extremas é um dos maiores prazeres que se pode sentir.
Hoje, duas décadas depois, muito do que foi profetizado pelo genial diretor parece estar se materializando em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil. A falência das instituições públicas e o crescente desprezo pela vida e pela dignidade humanas desembocou num estado de caos social em que praticamente tudo é permitido. Esquecido e abandonado pelo Estado, o cidadão comum se debate em meio às injustiças sem fim de cada dia, sem que encontre amparo legal.
De outra forma, nossos gestores, aqueles que deveriam zelar e proteger a sociedade a partir de seus pilares fundamentais, regozijam-se com as benesses do dinheiro público e elegem eles mesmos prioridades que deveriam ser escolhidas por todos nós. A construção de mais e melhores hospitais e escolas, bem como a ampliação e melhoria de nossas estradas e a valorização profissional dos servidores cede lugar à realização de megaeventos esportivos que consomem bilhões e bilhões de reais. Gasta-se fortunas babilônicas para maquiar e travestir o Brasil de pujante e poderoso enquanto nas nossas ruas e casas as pessoas continuam a morrer de forma estúpida e desnecessária.
O crescente acesso aos meios digitais e à internet, que deveria contribuir para disseminar o conhecimento e a solidariedade, tem se mostrado um instrumento valioso em prol do preconceito e da organização de grupos criminosos. Tragédias como a que vitimou o cinegrafista da Rede Bandeirantes já se tornaram rotineiras e se banalizaram, tal a quantidade de crimes que ocorrem a cada minuto pelo país afora e que assumem nuanças por vezes inacreditáveis.
Ao contrário do que apregoam as chamadas publicitárias sensacionalistas veiculadas pelo governo, que não se cansam de mostrar um país de paisagens exuberantes e seu povo "trabalhador e hospitaleiro", o Brasil está na UTI e respira com ajuda de aparelhos. Produzimos milhões de barris de petróleo anualmente, porém temos o combustível mais caro do mundo. Nossa rede de celular e internet é caríssima e os serviços, péssimos. Nossas estradas e aeroportos estão em estado de calamidade. Não temos Educação, temos educação. A julgar pelo que se vê diariamente ao nosso redor, o país fictício imaginado por Kubrick para seu filme bem que poderia ser o nosso.

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