quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Reestruturação da Educação é tendência mundial
Nos últimos dias, acirrou-se o debate acerca da reestruturação do Ensino Médio, proposta pelo governo gaúcho, com implementação prevista já para 2012. Como professor, causou-me profunda tristeza e frustração o fato de a proposta ter sido tão mal recebida e mal vista por um grande número de professores, pais e alunos.
Apenas para começo de conversa, é preciso admitir que o atual modelo que temos para o Ensino Médio não satisfaz mais as necessidades e anseios das pessoas. O elenco de disciplinas que compõe a grade curricular faz parte da rotina das escolas desde a década de 1970. O ensino é compartimentalizado e padronizado. As várias matérias escolares não possuem nenhuma ligação entre si. Cada professor transmite sua carga de informações e espera que o aluno memorize para a realização de provas. O aprendizado não existe, uma vez que pouco tempo depois das provas, uns 80% ou mais é logo esquecido, sufocado por novos conteúdos que se sucedem ao longo do ano. No cotidiano escolar em geral, o que se vê é uma rotina maçante, tediosa e nada atrativa.
Em decorrência de tudo isso, a escola aos poucos caiu em descrédito perante a sociedade. O atual Ensino Médio não oferece nenhum tipo de ensino profissionalizante, nem prepara para o vestibular ou outras avaliações externas, como o Enem. Em matéria de como se configura a educação mundialmente, estamos pelo menos uns trinta anos atrasados. A interação, o diálogo entre as disciplinas, a tão debatida e pouco praticada interdisciplinaridade e o ensino contextualizado são tendências e práticas que não conseguem sair da teoria dos livros e ganhar as salas de aula, devido a um complexo conjunto de fatores.
As propostas inovadoras trazidas de países que são destaque em educação, invariavelmente nascem e morrem respectivamente no início e fim de cada mandato. São programas de governo e não programas que realmente se mostrem preocupados com a efetiva melhoria da educação. Ademais, falta um investimento pesado na qualificação contínua dos professores. Para que se consiga colocar em prática as mudanças necessárias, é de suma importância que se criem leis que amparem essas mudanças, só assim se terá uma continuidade, um avanço nas práticas educativas.
As salas de aula precisam ter outra cara e os sujeitos que lá adentram todos os dias, outra postura perante o ato de aprender e seu real significado. Por mais que se leia, que se estude e que se discuta, nada mudará se todos continuarem pensando que a nota é o objetivo final e supremo de se estar estudando. As diferentes áreas do conhecimento precisam dialogar entre si. Na aula de história, por exemplo, há que se discutir como surgiram as descobertas dos grandes matemáticos. Na aula de língua portuguesa, há que se debater textos sobre as vanguardas da ciência, sobre as tendências do mercado, sobre as oportunidades de emprego, sobre como enfrentar uma entrevista, redigir um currículo, se expressar em público. Qualquer que venha a ser o assunto da aula, nossos alunos precisam aprender como falar bem, como expressar uma opinião, como defender um ponto de vista ou rebater criticamente uma ideia com a qual não se concorde.
Os professores, por sua vez, precisam ser pesquisadores, realizar reuniões e discutir entre as diferentes áreas sobre qual a melhor forma de conduzir suas práticas. Estudar, estudar, ler, ler, ler muito e principalmente gostar de fazer isso. A carga de trabalho do professor precisa ser aliviada para que ele possa assim se dedicar mais à preparação das aulas, ao estudo e à pesquisa. Estes são justamente alguns dos pontos que parecem merecedores de atenção nessa proposta de reestruturação do Ensino Médio. É a primeira vez que se ouve falar em turnos inteiros para reuniões pedagógicas, debates entre as áreas do conhecimento e redução da carga horária dos professores.
Não tenho dúvidas de que um começo promissor nos acena em meio a tantos desenganos e frustrações. Para que as mudanças tão esperadas aconteçam, é preciso que a sociedade, as famílias e alunos estejam otimistas e vejam esse aumento de horas de estudo como algo para se comemorar e não algo que precise ser impedido a todo custo. Ter um diploma em mãos e não ter conhecimento, esta sim é a verdadeira tragédia. Alunos e professores precisam juntos unir o conhecimento do passado com as necessidades desse período em que vivemos. A consolidação de uma educação de qualidade só será alcançada com o reconhecimento do professor como pessoa com potencial real de transformar o mundo em que se vive, e do aluno como agente ativo dessa mesma transformação.
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