quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O profeta e o bárbaro



Pouca gente sabe disso, mas o computador, hoje tão leve e compacto, já foi uma geringonça imensa e que pesava toneladas. Com tamanho suficiente para encher uma sala bem grande e uma memória bem menor do que as calculadoras comuns que usamos agora, era uma máquina complicadíssima. Somente alguns técnicos muito capacitados sabiam como operá-lo. Muitos chegaram a pensar, isso ainda nos anos de 1950, que o computador não viria a ter grande impacto na vida das pessoas comuns. Talvez pudesse ter alguma aplicação no campo militar, na medicina e nada mais.
No Brasil, foi nos últimos dez anos que o mundo virtual, com a expansão e barateamento da internet, passou a ser fundamental no nosso cotidiano. Aos poucos, todo mundo descobriu que era possível comprar coisas pela internet, realizar estudos e pesquisas, pagar contas, fazer transferências e outras operações bancárias. Com a crescente popularização, os PCs também foram ficando mais e mais baratos. Há não muito tempo, um notebook custava 5 ou 7 mil reais e somente se podia comprar em lojas especializadas. Hoje compra-se por 900 reais e até os supermercados vendem. De repente, tecnologia e conhecimento por toda parte. À medida que o acesso às tecnologias da informação vai crescendo, cresce também a qualidade de vida das pessoas. Melhora a educação, o lazer, a saúde. Até a expectativa de vida aumenta.
Nesse longo processo de expansão e popularização do computador, um homem foi fundamental: Steve Jobs. Ao contrário de muitos comentários que escutei após sua morte, Steve não foi um “milionário que lidava com computadores”. Ele se tornou um milionário pelas coisas boas que fez, pelo seu trabalho pioneiro e pela busca incansável por fazer sempre o melhor. Sem ele, sabe-se lá onde ainda estaríamos. Em seus 56 anos de vida apenas, Steve criou muito mais do que seríamos capazes em 200 anos. Suas ideias e inventos mudaram o mundo e certamente continuarão a impulsionar o trabalho de gênios que, como ele, trabalham para que no futuro tenhamos um lugar melhor para se viver. Steve foi um sonhador e um profeta que pensou em transformar o mundo, e assim o fez.
O impacto causado por suas invenções é difícil de ser mensurado, pelo menos em curto prazo. O mundo que herdamos desse gênio da tecnologia é um mundo permeado pela diversidade. Nesse mundo coexistem diferentes crenças, credos, costumes, culturas e formas de pensar, algumas modernas, outras ainda fincadas na barbárie e na desumanidade.
Semana passada as redes de TV do mundo inteiro exibiram as impressionantes imagens do toureiro espanhol que teve a face perfurada pelo touro enfurecido, o globo ocular pendendo grotescamente para fora da órbita, numa cena quase surreal e que me fez refletir sobre a natureza humana. Em plena era de modernidade e de tantos avanços tecnológicos, como é possível que ainda se permita a prática de atos tão cruéis? Não pude deixar de sentir profunda indignação e nojo diante de todas aquelas reportagens na TV e internet. Em todas as partes do mundo, jornalistas expressaram sua preocupação com a saúde do toureiro ferido, se ficaria cego, se ficaria paralisado, etc.
Nos animais, nos touros que são confinados num buraco escuro e depois atirados naquele sol escaldante para ficarem desorientados e serem feridos com lanças, sangrando lentamente até a morte, ninguém falou. Claro, afinal todos consideram os animais como “seres inferiores”, que estão no mundo pra isso mesmo, serem torturados, judiados e mortos. Na Espanha e em outros países, não faltam pessoas advogando sobre a “tradição cultural” das touradas. Em tudo quanto é lugar a história se repete: a “tradição” e a “cultura” passam a servir de desculpa para se torturar e matar animais indefesos. Quanta distorção. Atos bárbaros jamais poderão ser expressão cultural, pelo menos não no mundo moderno em que vivemos. Temos que deixar de frequentar zoológicos, circos onde ainda se usa animais como escravos, touradas, rodeios e assemelhados.
O profeta morreu. O bárbaro não morreu, mas corre o risco de perder a visão do olho esquerdo. Melhor seria se tivesse acontecido o contrário.

Nenhum comentário: