sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Admirável mundo novo


O mundo em que ora vivemos parece saído de um filme de ficção científica da década de 70 ou 80. Comunicamos-nos com uma facilidade jamais imaginada, nem nos mais desvairados sonhos daquele cientista louco do desenho animado! As distâncias geográficas encolheram de tal forma que nem sequer temos consciência de sua existência. Se estamos trocando e-mails com algum camarada na Europa ou América do Norte, tem-se a impressão de que poderia ser ali na sala ao lado!
Tudo é instantâneo, imediato e descartável. A informação flui na mesma velocidade com que percorre nossos neurônios e ninguém está salvo em sua vida privada. Tal como no romance clássico de George Orwell, 1984, estamos sob constante vigilância, 24 horas por dia. Nossos dados e informações pessoais estão por toda parte: listas de endereços de e-mail, MSN, Orkut, Facebook, Twitter ou quaisquer outras redes sociais em que você tiver se metido. Conheço pessoas que têm uns 10 endereços válidos de e-mail, mais umas 200 redes sociais em que participam, isso sem contar os blogs! Chega a ser assustador.
Não consigo sequer imaginar o investimento de tempo para se manter tantas coisas sempre atualizadas. Passa-se dezenas de horas por semana em frente ao computador. Essa máquina nos proporciona maravilhas ao mesmo tempo em que nos escraviza: sentados ali, com os olhos vidrados na tela, tal como mariposas numa lâmpada, dividimos nosso tempo entre paqueras, jogos, trabalho, conhecimento e banalidades as mais diversas.
Num único dia, clicamos milhares e milhares de vezes o famoso botão esquerdo do mouse, uma mancha de graxa escurecida e nodosa incrustada ali é um sintoma de que algo está errado, de que é preciso dar um tempo, sair um pouco, respirar o ar lá de fora, viver. Uma pesquisa feita recentemente com adolescentes, jogadores compulsivos de jogos de computador, mostrou que estes têm nas mãos a agilidade de pilotos de caça e uma resistência física admirável, apenas comparada a de fumantes terminais na casa dos 70 anos!
Com a escravização e dependência criadas pelo cyberespaço vem as doenças como as lesões por esforços repetitivos (LERs), a obesidade, e até mesmo a depressão. No Brasil, a internet já ultrapassou a TV como forma de lazer. É em frente ao computador que as pessoas passam a maior parte do seu tempo livre. O direcionamento político que o país seguiu nos últimos dez anos criou certos paradoxos sociais. Chega-se ao extremo de testemunhar famílias com serviço de internet em casa, porém sem coleta e tratamento do seu esgoto! A pressa por acompanhar as maravilhas da tecnologia acabou por gerar estas deficiências, impensáveis para um país que anseia fazer parte do chamado primeiro mundo.
No início, as opções nem eram tantas assim, a internet era algo novo e sedutor, todos queriam conhecer, mexer, explorar. Agora a coisa escapou totalmente ao controle: a sedução da máquina chega por vezes nos tirar a noção da realidade. Vivemos num mundo fechado, no qual o computador e a internet ocupam o lugar central, são os astros ao redor dos quais tudo gira, numa velocidade insana, diga-se. Quanto mais veloz, melhor. Quanto mais gigas de informação eu puder baixar em menor tempo, melhor. Temos pressa, cada vez mais pressa, embora ninguém saiba o porquê...
Nesse mar de conhecimento e informação, muitas vezes parece que algo ficou pra trás, se perdeu em algum lugar pelo caminho. Esquecemos de dizer “bom dia”, esquecemos do abraço, esquecemos do sorriso amigo. Enclausurados em nossas fortalezas digitais, rodeados de zilhões de sites, filmes, vídeos e o diabo a quatro, nos julgamos invulneráveis e protegidos, talvez tenhamos nos esquecido apenas de nos proteger contra uma vida sem sentido...

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