
Em seu vestibular de inverno deste ano, a Unisc solicitou aos candidatos, num dos temas propostos, que argumentassem em favor dos motivos pelos quais a raça humana deve sobreviver em nosso planeta, a terra.
Dentre todas as redações lidas por mim, cerca de 130 textos, lembro que apenas uns quatro ou cinco escreveram sobre este assunto. Por que será? Seria este um assunto deveras complexo para os vestibulandos? Curiosamente, me ocorreu uma outra ideia: talvez quase ninguém escolheu este tema simplesmente porque as pessoas não possuem argumentos em defesa da espécie humana! De minha parte, eu mesmo não teria. Pensemos.
Desde há milhares e milhares de anos, temos exaurido os recursos naturais disponíveis, de acordo com nossas mais egoístas necessidades e caprichos, sem nos preocuparmos com as conseqüências, hoje bem funestas e perceptíveis em todos os cantos: terremotos, maremotos, vulcanismo, enchentes, secas... Somos a espécie dominante na terra, nos beneficiamos às custas das outras espécies de animais. Somos parasitas, pois esta é a definição que encontraremos em qualquer boa enciclopédia: um parasita é um ser que se beneficia, prejudicando ou mesmo exterminando outros.
Todos os dias, a população mundial cresce à assustadora taxa de 200.000 novos indivíduos. Isso mesmo: 200.000 novos seres humanos a cada dia. Poucos anos a frente, não haverá meios de produzir o alimento necessário para tantas bocas. Já nos anos de 1800, o economista inglês Thomas Malthus previu o colapso da civilização humana, ao teorizar que o aumento constante da população levaria à sua própria extinção, devido ao esgotamento dos recursos naturais. Hoje, estas ideias soam assustadoramente reais.
A espécie humana, ao contrário do que pregou Rousseau, não é “naturalmente boa”. Somos maus, somos presunçosos ao nos julgarmos superiores a todos os outros seres viventes. Nos esquecemos que milhões de espécies animais já viviam na terra muito antes que chegássemos aqui, e viviam muito bem, obrigado, em perfeita harmonia entre si, sem poluir, sem guerras, sem matanças desnecessárias por toda parte.
Que grande ironia saber que nossa tão falada “inteligência superior”, justamente ela, será a responsável por nossa extinção, muito provavelmente dentro de uns 100 ou 200 anos, como recentemente teorizou o cientista Frank Fenner, professor da Universidade Nacional Australiana. Ainda segundo ele, até 2050 não haverá mais peixes em água salgada, toda a vida marinha terá sido extinta, seja por causa das mudanças climáticas ora em curso, seja por causa da pesca predatória.
Considerando toda a diversidade de vida que existe na terra, é preciso que nos demos conta de nossa insignificância. As pessoas, de modo geral, gostam de se sentirem especiais ou então superiores, mas é preciso que se diga: não o somos, de modo algum. Se não cuidarmos de nossa casa, a terra, logo logo ela encontrará uma forma de se livrar de nós, retomando o antigo esplendor que possuía antes de chegarmos aqui.
Pensando bem, talvez seja melhor assim. Basta olharmos em volta para vermos quanto mal já causamos ao planeta. O progresso tecnológico, endeusado por muitos, tem um preço a ser pago, um preço alto demais. A ganância e a presunção humanas não possuem limites. Precisamos encarar esta dura realidade: não poderemos sobreviver sem as outras espécies, sem o planeta que é nossa casa; porém as outras espécies todas e o planeta podem viver sem nós, e até muitíssimo melhor que atualmente, considerando este estado agonizante em que se encontram.
2 comentários:
O texto do Evandro mostra-se bastante eficiente ao trazer à luz uma espécie de paradoxo, mas que depois se desfaz muito bem explicado, algo bem intrigante que descrevo a seguir: O ser humano drena os recursos naturais e suja o planeta de forma sistemática, consequência do uso de um mecanismo evolutivo que foi primordial à sobrevivência do homem ao longo de tantos milênios: a inteligência. Essa ferramenta evolutiva, ao mesmo tempo que nos possibilitou driblar dificuldades de sobrevivência, também "evoluiu" muito com o tempo, então a inteligência já não é mais usada apenas para matar a fome, mas também para obter o máximo de conforto possível. O ser humano dá muito duro para fabricar coisas que façam o serviço pesado para nós, dispositivos tecnológicos a serviço da preguiça como automóveis, celulares e afins. Toda essa tecnologia e conforto cobra um preço alto à natureza e fabricar essas coisas de forma mais ecologicamente correta demanda muito TRABALHO e principalmente DINHEIRO, coisas essas que não rimam muito com preguiça! Mas vamos ao paradoxo de que falei: o ser humano é originário da natureza! Nós surgimos de uma sopa primordial há milhões de anos e cá estamos agora destruindo o ambiente que nos originou. Então a natureza errou ao ter permitido o nosso surgimento! Alguém poderia dizer: "Ah, a natureza, o universo, nada tem a ver com nossas decisões erradas, pois os seres humanos têm livre arbítrio." Acontece que não sou partidário do lívre arbítrio. Fenômenos que acontecem dentro do cérebro humano e que se transformam em decisões certas ou erradas, são regidos pelo caos das partículas sub-atômicas, onde tudo é aleatório e portanto não controlável. Decidimos o que "parece" ser o melhor para nós mas o que o futuro nos reserva depois das decisões tomadas não pode ser previsto. Tudo é caos. E na natureza, quando algo parece não funcionar, ela acaba achando um jeito de consertar, afinal ela SEMPRE encontra uma maneira. Se os humanos são uma obra defeituosa, me parece certo então que estamos realmente com os dias contados!
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