quinta-feira, 29 de maio de 2008

Uma centelha na escuridão

O tema acerca da existência ou não de Deus sempre me fascinou, afinal está intimamente relacionado à nossa própria existência. De onde viemos? Será que há alguém que observa nossas ações e cuida de nós, nos recompensando ou punindo, como querem as escrituras? Sempre em busca de respostas, muito tenho lido e pesquisado sobre o assunto. O que se pode afirmar num primeiro momento é que a questão da fé, apesar de se constituir num tema complexo e polêmico, é algo de muito pessoal, embora estudos recentes tenham demonstrado, com certa margem de vantagem, que ela é muito mais presente naquelas pessoas menos esclarecidas, que tiveram pouco ou nenhum acesso à informação ou que não estudaram, prova disso é que o número de ateus é muito maior nos países de primeiro mundo do que naqueles onde o subdesenvolvimento, o analfabetismo e a ignorância ainda são os maiores obstáculos ao exercício do pensamento elaborado.
Pessoalmente, eu vejo a crença em Deus e por extensão, a religiosidade, como algo danoso ao ser humano, constituindo-se num poderoso instrumento de dominação e atraso intelectual. Como afirmava Nietzsche, "a grande questão não é se o homem foi criado por Deus, mas se Deus foi criado pelo homem."
Modernamente, existem muitas especulações sobre a nossa necessidade de acreditar num ser superior, num criador onipotente e sempre pronto a solucionar nossos problemas de forma milagrosa. Uma idéia bem aceita é que o alicerce mesmo da crença religiosa reside no medo ancestral da morte e do desconhecido, de não sabermos o que acontecerá conosco quando morrermos ou para onde iremos.
Cientificamente, toda e qualquer atividade do nosso cérebro é fruto de atividade elétrica resultante dos inúmeros processos cognitivos que orientam o nosso pensar e a nossa vida. Assim, é muito mais plausível que quando morrermos simplesmente nos desintegraremos e pronto, nos tornando pó. Infelizmente, para os românticos que gostam da idéia, não há uma alma que "sai" de nós levitando, quando nossas funções corporais cessam e finalmente deixamos de existir, ao menos nada que a ciência já tenha conseguido comprovar.
Entretanto, isso não torna a vida menos interessante ou "sem sentido" como diriam alguns, mas a amplia e a torna algo mágico, pois o verdadeiro milagre consiste em existirmos, basta pensarmos nos milhões de circunstâncias que precisaram se agrupar para que nós existíssemos. Somos sortudos por estarmos aqui!! Por isso, temos que aproveitar a vida da melhor forma possível, pois não teremos uma outra chance, uma "reencarnação". Nossa vida, embora efêmera, é única, e isso, a torna ainda mais maravilhosa.
Finalmente, a Igreja sempre utilizou o medo da morte para intimidar as pessoas e manipulá-las, tornando-as escravas da fé e do seu próprio poder, em cujo nome se cometeram as maiores atrocidades durante a Idade Média. Nenhum dos nossos princípios morais e éticos advém da religião ou de Deus, pois são algo intrínseco ao ser humano. Os sentimentos de solidariedade, de amor ao próximo, de justiça, bem como os de ódio ou egoísmo estão enraizados em nossos genes muito provavelmente há milhões de anos, desde a remota época em que ainda nem possuíamos uma postura ereta ou mesmo a aparência que hoje possuímos.
Lembro-me de uma série de ficção bastante antiga, que pregava que a religião não existiria num futuro talvez distante, que ela estaria então restrita aos recantos mais atrasados do universo. Acredito que sim, que talvez um dia finalmente nos libertemos das amarras da dominação intelectual, podendo então nos ocupar de temas que sejam de alguma utilidade real para a nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie.

Um comentário:

Márcio Francisco de Moraes disse...

A religião parece ser um tipo de mecanismo de defesa que a humanidade desenvolveu ao longo dos séculos iniciais de ignorância científica. Um tipo de "muleta psicológica" sem a qual as pessoas ficariam incapazes de enfrentar as cruezas da vida, as dificuldades de sobrevivência e por conseguinte, o medo da morte. Como foi bem colocado pelo Evandro, o fato de sermos seres mortais é o principal motivo das crenças religiosas existirem. Nos parece inconcebível (e arrisco dizer, paradoxal) que sejamos seres finitos, porque em nossa grandiloquente (e arrogante) mentalidade, aparentamos muito maiores do que a frágil embalagem que nos contém. Mantendo a humildade e sabendo de nossa pequenez diante do Universo, acredito que realmente sejamos especiais e maiores que nossa matéria corporal, mas achar isso não tem nada a ver com religião. A maioria das pessoas gostam de acreditar que temos uma alma que depois da morte permanece existindo e vai para um lugar melhor. Pode até ser possível, mas sem provas não vou me agarrar a isso como se certeza fosse. As possibilidades do porvir são infinitas e imprevísiveis, então porque ficar especulando ou afirmando com certeza, baseando-se apenas em um livro antigo como fazem os crentes, que isso ou aquilo será assim ou assado depois que nosso corpo desaparecer? Se nenhuma prova convincente for encontrada, deixemos para descobrir (ou não) quando chegar a nossa hora.