sábado, 23 de março de 2013

O ENEM e a miojização da vida



Tal como vem ocorrendo ultimamente nas redes sociais e imprensa em geral, causou grande celeuma a atitude do candidato que colocou uma receita de miojo em meio ao texto de sua redação no ENEM. É interessante notarmos que praticamente todas as análises e comentários se ativeram ao ocorrido em si, sem se dedicar a apontar possíveis soluções para que atos desta natureza não venham a se repetir.
Não é de hoje que o ENEM, como prova que sirva de avaliação para egressos do Ensino Médio em nível nacional, vem apresentando muitas falhas e problemas de toda ordem. Nosso país, até pela enormidade do seu território, apresenta muitos desafios de logística para que tudo ocorra conforme o esperado e até aí entendemos, o que não pode é um sistema de avaliação com critérios talvez pouco claros para os participantes e com pessoas mal preparadas a trabalhar na sua execução. Errou o candidato ao cometer tamanha bobagem, seja de propósito ou não, errou a equipe responsável pelo treinamento dos avaliadores e finalmente errou a professora que "teve a coragem de revelar os bastidores da prova", como afirmou o jornal Zero Hora.
Talvez até por ingenuidade, preferiu a avaliadora divulgar informações "bombásticas" à imprensa, ao invés de agir de forma mais profissional, avaliando a dita redação de modo a conceder-lhe a nota merecida, ou seja, um zero ou no mínimo algo muito próximo disso. Em última análise, que optasse então por não participar da avaliação das redações, caso não concordasse com suas condições. Ao revelar bastidores da correção e assim garantir seus trinta segundos de fama, a professora contribuiu enormemente para o processo de desvalorização e descrédito que o magistério vem sofrendo desde há muito tempo. Sim, porque a abordagem dada às ditas revelações induzem o leitor e a sociedade em geral a questionarem e duvidarem da competência dos profissionais da educação muito mais do que dos organizadores do referido exame.
Não é por acaso que a receita escolhida tenha sido a do miojo: ela reflete o imediatismo dos tempos atuais. Tudo é feito rápido e para ser consumido rápido. O macarrão é preparado em três minutos, textos em geral são escritos sem reflexão, sem análise e sem critérios, as relações pessoais vêm e vão num piscar de olhos, o assunto discutido à exaustão hoje já estará esquecido amanhã, bem como a tal professora. O único objetivo parece ser a espetacularização, a exposição exagerada, o canibalismo pseudointelectual. O problema é que atitudes impensadas como a desta senhora deixam consequências duradouras e nefastas. Para a imprensa brasileira, há muito interessada em achincalhar o professor, o episódio todo rendeu um prato cheio em que o ingrediente principal infelizmente não é o miojo, mas as críticas veladas, as generalizações, os comentários maldosos e as charges sarcásticas que a médio e longo prazo sempre causam muito, muito estrago.

Um comentário:

Teacher Jane disse...

Perfeita avaliação, Evandro. Também fiquei surpresa com a falta de ética dessas (ditas) professoras.