quarta-feira, 27 de março de 2013

A grande farsa da Páscoa



     
      Nesta época do ano, o que mais se vê são lojas e supermercados abarrotados de chocolates alusivos à Páscoa. Tradicionalmente, os formatos que mais aparecem são os de coelhos e ovos. Mas afinal de contas, o que essa criaturinha branca, peluda e fofinha tem a ver com a ideia da ressurreição de Jesus? Na Bíblia não existe a menor referência ao Coelhinho da Páscoa, e além de tudo, como sabemos, coelhos não põem ovos... Que confusão!
Desde muito pequenos aprendemos a associar essa figura humanizada do coelho com sua cesta de ovos, com a ressurreição de Cristo. Na verdade, trata-se de um mecanismo que funciona como lavagem cerebral: de tanto nos dizerem algo, toma-se como verdade. Preferimos aceitar aquilo que nos disseram desde sempre, em vez de investigar e tentar descobrir se estão nos tapeando. É mais fácil. É bem aquela coisa do “me engana que eu gosto!”. Bem, não importa o que o padre lhe diga sobre o coelhinho na missa do domingo, o fato é que em se tratando da Páscoa, a verdade pode ser meio chocante.
Toda a mitologia e alegorias que envolvem esta data foram “importadas” da Europa medieval, onde se cultuava muitos deuses. “Easter”, que significa Páscoa, em inglês, tem esse nome em homenagem à deusa Oestre ou Eastre, que representava a renovação, a fertilidade. O símbolo dessa deusa era um coelho ou lebre, devido à enorme capacidade de reprodução desses animais. No hemisfério norte, a Páscoa coincide com a chegada da primavera. Ao final de um longo inverno, Eastre trazia a renovação. Sua presença podia ser sentida no desabrochar das flores e na chegada de novos bebês, tanto humanos quanto animais. A vegetação toda brotando, se renovando, representa muito bem a ideia de triunfo da morte e escuridão (inverno), sobre a vida e a luz (primavera).
Nesse sentido, ficamos totalmente na contramão, pois a Páscoa chega sempre na entrada do inverno, e seu significado então precisou ser adaptado, passando a se relacionar com a ressurreição de Cristo... Mas voltando à mitologia medieval pagã, a utilização de ovos como símbolo de renovação da vida não causa nenhuma surpresa. Em algumas crenças religiosas, o próprio planeta Terra, a mãe Terra, teria nascido do chocar de um gigantesco ovo cósmico. O ovo, símbolo da deusa Eastre, é por si só enormemente simbólico: a casca representa o universo, que a tudo envolve e protege, a clara representa a própria deusa Eastre e a gema alaranjada representa o sol e sua capacidade de trazer a vida ao nosso planeta. Assim, o hábito de procurar ovos de pássaros na antiguidade, para depois decorá-los com pinturas diversas, deu origem ao nosso costume de ter que procurar o ninho de Páscoa. O coelho sempre o coloca em algum lugar escondido e temos que procurar, tal como faziam os antigos ao catar ovos pela floresta!
Mas como o coelho adquiriu a capacidade de pôr ovos?! Bom, uma conhecida lenda pagã nos conta que um belo dia a deusa Eastre estava andando pela floresta quando encontrou um pássaro muito ferido. Compadecida, a deusa o curou mas percebeu que ele jamais poderia voar novamente. Então, para que ele pudesse manter sua mobilidade e ter uma vida feliz, ela o transformou num coelho. No processo de transformação, o animal manteve sua capacidade de pôr ovos! Agradecido, o bichinho deu de presente para a deusa, um ovo todo decorado, que passou a simbolizá-la dali em diante. Maravilhada, a deusa desejou que toda a humanidade pudesse também ser homenageada da mesma forma. Desde então o coelho corre o mundo distribuindo ovos coloridos e cestas de doces.
Em se tratando da nossa tradição religiosa, a Igreja Católica chegou atrasada para a festa. Pelo menos alguns séculos atrasada. Foi só lá por volta de 1500 ou ainda depois disso, que o coelho e os ovos passaram a simbolizar a ressurreição de Cristo. Na Alemanha dessa época, tem-se notícia dos primeiros doces em formato de coelho e ovos, que logo se espalharam pelo restante da Europa e aos poucos, pelo resto do mundo.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns ao artigo que bem esclarece essa grande bobagem do capitalismo selvagemente traiçoeiro e enganador.