quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O magistrado e o literato



Não é de hoje que virou moda discutir e apontar a péssima qualidade da Educação no Brasil. Nas avaliações anuais de abrangência internacional, que envolvem mais de 80 países, figuramos sempre ao redor das últimas cinco colocações. Se o problema está mais que evidenciado, as possíveis soluções ainda parecem distantes. A desvalorização, o sucateamento e o desprestígio da Escola, dos professores e do sistema educacional como um todo, não encontram explicação fácil, porém é possível pensarmos em algumas hipóteses. Em primeiro lugar, o desejo de ascender rapidamente às camadas mais privilegiadas da sociedade impede que os jovens tenham a persistência necessária para continuar lutando. Além disso, não surpreende que os estudos sejam negligenciados em um país onde treinadores de futebol e cantores semianalfabetos ganham mensalmente montantes que a maioria dos profissionais graduados levaria décadas para ganhar.
Agora, como forma de mitigar uma Educação deficitária e estagnada, o governo decidiu reservar cotas nas universidades, a serem ocupadas pelos negros, índios e alunos concluintes do Ensino Médio que tenham estudado em escolas públicas. Em vez de erradicar o problema, optou-se por escondê-lo, jogando pessoas com baixo aprendizado para dentro das universidades, de onde sairão “formados”, irremediavelmente. Não faltam motivos para os beneficiados pelas cotas se envergonharem, e muito. Não por sua cor, raça ou classe social, mas por perderem a oportunidade de lutar verdadeiramente para que um dia venham a ser alguém na vida pelo fruto de seu esforço pessoal, sua dedicação e sua persistência.
O Presidente do Supremo Tribunal Federal e um dos homens mais populares do Brasil atualmente, Joaquim Barbosa, é um negro que venceu na vida saindo da mais absoluta pobreza. Dos cafundós de Minas Gerais para um dos cargos mais prestigiados da nação, foi um longo caminho que Barbosa percorreu sem cotas, sem “jeitinho”. Fala cinco línguas fluentemente: o português, o espanhol, o francês, o inglês e o alemão. Muito antes dele, negros e mulatos paupérrimos como Machado de Assis, Cruz e Sousa e Lima Barreto percorreram caminhos semelhantes, imortalizando-se como alguns dos maiores escritores brasileiros. Nenhum deles estudou por meio de cotas. Todos precisaram se esforçar muito, batalhar e muitas vezes estudar por conta própria, sem professor, para se alfabetizarem e chegarem onde sonhavam.
Ao contrário de ajudar e incentivar, o excesso de assistencialismo acaba por fazer com que a maioria das pessoas despreze e desvalorize a ajuda que está recebendo. Tudo aquilo que é conquistado sem esforço perde o valor, perde a graça, deixa de ser importante. Na época em que viveram, se houvesse cotas para negros e mulatos, com certeza nossos escritores teriam permanecido anônimos e esquecidos, desprezando com as oportunidades fáceis demais. As políticas de governo estão equivocadas. O trabalho a ser realizado não se resume a dar esmolas; antes, deve ser um trabalho de conscientização, de mudança de mentalidade e de atitudes, de valorização da Educação como coisa basilar para o desenvolvimento pessoal, profissional e social. Não é a toa que Monteiro Lobato, outro de nossos escritores, declarou certa vez que “um país se faz com homens e livros”.
A conduta, as atitudes e a educação recebida dos pais e da mídia valorizam o fácil, o “jeitinho” e as muitas formas de “se dar bem” sem fazer qualquer esforço. Num contexto desses, não há como valorizar a Educação formal, a Escola ou o profissional que trabalha nesse meio. Enquanto houver pessoas sem nenhuma formação ganhando fortunas, a Educação jamais será valorizada como deve ser. Jamais será vista como a estrada que leva aos sonhos e objetivos.

Um comentário:

Unknown disse...

Correto!
Para mim o maior preconceito é oferecer cotas para essas pessoas e não deixar elas chegarem aos seus objetivos por méritos próprios.